Spotify Wrapped 2025: a era dos gêneros musicais acabou
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Spotify Wrapped 2025: a era dos gêneros musicais acabou

Porque música sempre foi sobre momento. E 2025 foi um ano de mil momentos diferentes para todo mundo. A vibe é: deixando de ser fã de um gênero para se tornar fã de sensações

29/10/2025 - 10h00min

Atualizada em: 29/10/2025 - 10h17min

Sabe aquela sensação de abrir o Spotify Wrapped (a retrospectiva) e pensar "caramba, como eu pulei do sertanejo para techno no mesmo dia?", relaxa. Tu não tá maluco. Na verdade, tu tá fazendo exatamente o que milhões de pessoas ao redor do mundo estão fazendo: deixando de ser fã de um gênero para se tornar fã de sensações.

Quando o Spotify Wrapped 2025 chegar, provavelmente na primeira semana de dezembro, como sempre, eu aposto que você vai se surpreender. Não porque ouviu demais aquele artista que você jura que não gosta. Mas porque seu ano musical vai parecer uma salada de frutas gigante, e eu tô aqui para te dizer: isso é a coisa mais normal (e mais legal) que pode acontecer.

Divulgação/Unsplash

O que seu Wrapped vai te mostrar este ano?

Deixa eu adivinhar o que vai rolar quando você abrir a tua retrospectiva. Tu vai dar aquela scrollada básica pelos seus top 5 artistas e, de repente, vai pensar: "Pera... como assim Taylor Swift, Matuê e Alok estão na mesma lista?"

Dados mostram que 63% dos brasileiros têm o Pop como gênero mais citado no Wrapped, mas isso não conta a história toda. Porque dentro desse "pop" tem de tudo: tem funk com pegada de trap, tem sertanejo que flerta com eletrônico, tem indie que virou mainstream sem você perceber.

Este ano, mais uma vez o Wrapped traz a "evolução musical", que mapeia até três fases distintas de gêneros e artistas preferidos ao longo do ano. E na boa, essa funcionalidade é reveladora. Tu vai ver que em março você estava numa vibe totalmente diferente de outubro. E isso não é esquizofrenia musical, é você sendo humano.

Sabe por quê? Porque a gente não vive uma emoção só o ano inteiro. Teve mês que você precisava de energia pra treinar e botou aquele techno mais pesado. Teve semana que você tava reflexivo e foi de deep-house ou lo-fi. Teve dia que tu só queria dançar e partiu pra aquele Afro House que estava explodindo no Brasil inteiro.

Por que você (e todo mundo) virou uma playlist aleatória?

Vou te contar uma verdade: a mistura de estilos distintos - citando algumas pouco convencionais -, como rap e country ou pop-punk e folk, tem ganhado cada vez mais espaço nas plataformas de streaming. E não é por acaso. Os artistas entenderam que a gente não quer mais ser rotulado.

Pensa comigo: quando foi a última vez que você disse "eu só ouço rock" ou "eu só curto música eletrônica"? Provavelmente nunca, ou faz tempo que você parou de falar isso. Porque hoje em dia, até dentro dos gêneros as fronteiras são fluidas. Por exemplo, o funk e o trap se mesclam tanto em termos de sonoridade quanto de letras.

Olha só alguns exemplos do que tá rolando agora:

  • Aquele produtor de techno que você ama? Ele tá ouvindo jazz e colocando isso nos sets dele.
  • Aquela cantora pop? Ela acabou de lançar uma collab com um DJ de Afro House.
  • Aquele rapper? Tá fazendo featuring com artista sertanejo.

E você, que consome tudo isso, tá simplesmente refletindo o que o mundo da música virou: um grande caldeirão onde todo mundo experimenta tudo.

O comportamento que tá mudando tudo (e você nem percebeu)

Sabe o que é mais louco? Um estudo [Orbit Data Science, Spotify Wrapped 2024] mostrou que 52% dos usuários do Spotify são "ansiosos". Aqueles que torcem para que seus artistas favoritos sejam reconhecidos na retrospectiva. Mas tem outro número que me chama mais atenção: 18% são "preocupados", são pessoas que questionam os resultados e evitam compartilhar se acharem embaraçosos.

Cara, isso diz muito sobre como a gente ainda tá preso nessa ideia de que nosso gosto musical precisa fazer sentido pra outras pessoas. Mas aqui vai minha real opinião sobre isso: dane-se.

Seu Wrapped é seu diário emocional do ano. Se você ouviu Ivete Sangalo de manhã e Amelie Lens de noite, problema é de quem julga, não seu. Se sua playlist tem gospel, funk e drum and bass, você não é confuso, você é completo.

Porque música sempre foi sobre momento. E 2025 foi um ano de mil momentos diferentes pra todo mundo. A gente ainda vive o reflexo de uma pandemia lá de trás, depois teve volta aos eventos, teve descobertas, teve perdas, teve conquistas. Claro que sua trilha sonora não ia ser linear.

O que isso tem a ver com música eletrônica?

Bom, se você tá lendo isso aqui no site da Atlântida, provavelmente você já tem alguma conexão com música eletrônica. Ou você já é da cena, ou você tá curioso sobre ela, ou você nem sabia que aquela música que você ama é eletrônica.

E deixa eu te contar: a música eletrônica também tá ganhando força com fusões de estilos e influência de tecnologias como IA e áudio 3D. Não é mais só sobre house, techno, trance. O Afro House, por exemplo, que com suas origens enraizadas em ritmos africanos, enriquece o minimal e o melodic house/techno dando um sentido de autenticidade cultural.

Tem Pluggnb (que mistura trap com R&B dos anos 90 adicionando inúmeros elementos da música eletrônica). Tem Jersey Club crescendo 452% em Berlim [Genre Deep Dive: Jersey Club is more than a TikTok trend - The Eagle] e mostrando as caras no Brasil. Tem produtores brasileiros, inclusive aqui do Sul, fazendo Indie Dance e Tech House que tocam em Ibiza e Miami.

E sabe por que isso importa? Porque a música eletrônica sempre foi sobre quebrar barreiras. Desde os anos 90, quando as raves eram sobre juntar todo tipo de gente diferente na mesma pista, a cena sempre foi sobre misturar. E agora, essa mistura tá mais evidente do que nunca.

Se você ainda não se considera "da cena eletrônica", pode ser que seu Wrapped mostre o contrário. Aquela música do Alok que tocou no churrasco? Eletrônica. Aquele remix que você descobriu no TikTok? Eletrônica. Aquele set do Vintage Culture que você ouviu indo pro trabalho? Eletrônica.

Você já faz parte disso. Só não tinha percebido ainda.

O que vem por aí em 2026: prepare-se para misturar ainda mais

Olha, eu não tenho bola de cristal. Mas dá pra sentir pra onde as coisas estão indo. E te garanto: 2026 vai ser o ano em que a gente finalmente para de perguntar "mas que estilo você curte?" e começa a perguntar "que vibe tu tá hoje?"

A criação musical deve trazer uma abordagem mais livre e experimental, impulsionada por ouvintes mais abertos e combinações inusitadas. E isso significa que seu Wrapped do ano que vem vai ser ainda mais eclético que este.

Algumas coisas que eu já tô vendo acontecer (e que vão explodir no próximo ano):

Playlists baseadas em humor, não em gênero

Já não é novidade que o Spotify sugere "música pra focar", "música pra malhar", "música pra tristeza"? É porque a galera entendeu que a gente escolhe música por emoção, não por estilo. Em 2026, isso vai ficar ainda mais forte.

Artistas sem caixinha

Espera mais colaborações bizarras (no bom sentido). Mais DJ fazendo parceria com cantor sertanejo. Mais rapper entrando em faixa de house. Mais cantora pop cantando em música techno. E todo mundo vai achar normal.

Festivais multiestilos

Aqueles festivais gigantes que sempre foram "só de rock"? Vão começar a misturar. Já começaram, na verdade. Porque a galera que vai nos eventos já não se identifica com um gênero só. [Música eletrônica: o Brasil está na pista]

Seu comportamento vai ser o algoritmo

Plataformas de streaming estão elevando a personalização a um novo patamar, utilizando algoritmos avançados de IA que não apenas sugerem músicas com base em preferências anteriores, mas também consideram contexto. Ou seja: o app vai saber que você curte música eletrônica na academia, mas sertanejo no churrasco. E vai te dar isso sem você pedir.

Por que isso é libertador (e você deveria aproveitar)

Sabe o que eu acho mais massa nessa história toda? É que a gente finalmente tá se libertando da pressão de ser coerente o tempo todo.

Durante décadas, falar "eu sou roqueiro" ou "eu sou da cena eletrônica" era quase uma identidade. Tipo, você tinha que defender aquilo com unhas e dentes. Mas a verdade é que a gente sempre foi mais complexo do que isso. [O público de música eletrônica é mais fiel que o de outros estilos?]

Seu Wrapped 2025 vai provar isso. E eu espero que você não sinta vergonha de compartilhar, não importa o quão "aleatória" pareça sua lista. Porque aquela aleatoriedade conta uma história: a sua história.

Conta sobre aquele dia que você descobriu Afro House e passou três semanas só ouvindo isso. Conta sobre quando você precisou de algo mais agressivo e partiu para o hard techno. Conta sobre aquela fase que você voltou para o sertanejo porque te lembrou de casa.

A retrospectiva representa uma oportunidade de autoexpressão e validação social, onde as playlists se tornam narrativas. E cara, que narrativa linda é essa de não caber numa caixinha só.

Então, quando o Spotify Wrapped sair...

Quando aquele banner colorido aparecer no seu Spotify (e vai aparecer, fique tranquilo), eu quero que você faça uma coisa: respire fundo e curta a jornada.

Não importa se você tá lá vendo que ouviu 5 gêneros completamente diferentes. Não importa se seus amigos vão achar estranho. Não importa se você mesmo não entende como pode gostar de coisas tão distintas.

Porque é exatamente aí que tá a beleza. Você não é um algoritmo. Você não é uma playlist pré-pronta. Você é uma pessoa real, vivendo momentos reais, sentindo emoções reais. E sua música reflete isso.

Se tem techno e sertanejo na mesma lista? Lindo. Se tem trap e bossa nova? Perfeito. Se tem Afro House e gospel? Tá tudo certo.

Porque 2026 vai ser o ano em que a gente para de tentar se encaixar em definições que nunca fizeram sentido. Vai ser o ano em que a gente entende que música é sobre sentir, não sobre rotular.

E se você ainda não mergulhou de cabeça na música eletrônica, ou em qualquer outro universo musical que te interessa, esse pode ser o empurrãozinho que faltava. Olha seu Wrapped. Vê o que já tá ali sem você perceber. E se joga.

Porque lá na frente, quando você olhar pra trás, vai perceber que 2025 foi o ano em que você parou de se limitar. E 2026 vai ser o ano em que você virou, literalmente, uma obra de arte sonora ambulante.

Então, bora parar de ter vergonha do que a gente ouve e começar a celebrar a nossa própria trilha sonora!