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Amores Materialistas não é sobre triângulos amorosos

O novo longa de Celine Song questiona o que realmente buscamos em um relacionamento: estabilidade ou paixão? 

20/08/2025 - 10h37min

Júlia Möller
Júlia Möller
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Se você está procurando encontrar uma crítica que fale bem de Amores Materialistas, você encontrou. Confesso que já fui blindada para o cinema em meio a tantos discursos negativos sobre a trama – e que no início do filme até pensei estar na sala errada ao ver estampado na tela duas pessoas do tempo das cavernas. Mas calma, elas voltam ao final do filme e ajudam a construir o pensamento que permeia a trama: “O que fez essas pessoas encontrarem o amor uma na outra?”, visto que a modernidade se limita a racionalidade, e para aquela época ‘apenas’ o sentimento era condutor.

Dirigido por Celine Song, conhecido pelo sucesso Vidas Passadas, o filme Amores Materialistas apresenta Lucy (Dakota Johnson), uma casamenteira que acaba vivendo seu próprio dilema amoroso. Ela se vê frente à frente com um antigo amor, John (Chris Evans), um garçom que sonha em ser ator, e o que parece ser o par ideal, Harry (Pedro Pascal). A trama retrata a dúvida em seguir com uma relação segura ou ceder à paixão do passado.

Primeiro, você não pode esperar encontrar uma comédia romântica clichê. Apesar do incessante marketing elevando o personagem de Pedro Pascal (Harry) e sua química com Dakota Johnson (Lucy), a narrativa o torna quase que coadjuvante. E não estou falando que ele não é importante para a história, mas posso afirmar que grande parte da expectativa do público foi perdida ao chegar nessa mesma conclusão. IMPORTANTE: NÃO EXISTE TRIÂNGULO AMOROSO NESSA HISTÓRIA.

Reprodução/Internet

Acordo comercial e as relações contemporâneas

Você irá se debruçar em cima de um longa que fala sobre relações contemporâneas, e mais do que isso, com diálogos que trazem em voz alta apenas o que discutimos dentro do nosso íntimo. Logo no começo, Lucy deixa muito clara a sua visão sobre relacionamentos: um acordo comercial. Afinal, uma casamenteira de Nova York com uma carreira bem-sucedida baseada em 9 casamentos consagrados com suas combinações, achava saber exatamente como combinar duas personalidades, realizando encontros que acabavam em sim no altar.

E é no casamento de um desses casais formados por Lucy que ela conhece Harry (Pedro Pascal). Um homem alto, atraente, BEM sucedido (!!!) e irmão do seu último case de sucesso. Com olhar atento e atitude, o empresário se aproxima da protagonista e a instiga sobre seu trabalho e discurso sobre o amor. Mas o plot twist da cena chega quando as lembranças de um amor antigo são colocadas a prova com a servidão do garçom John (Chris Evans), que quebra o diálogo entre os dois, e serve à mesa um copo de cerveja e uma garrafa de Coca-Cola (os preferidos de Lucy).

O filme traz diversos takes de homens e mulheres falando sobre seus requisitos essenciais para um parceiro.  Moreno, altura 1,80, ganhe R$ 70 mil no ano, tenha formação e com carro do ano vigente. É pedir muito? 

Na primeira etapa do longa, a protagonista parece muito confiante na metodologia e objetivo da agência em que trabalha. Ela leva em consideração todas as falas de seus clientes. Em uma das partes temos os seguintes diálogos:

Não tem problema que ela seja feia ou bonita, mas com um corpo sarado.

 Um homem mais velho exige: 

As de 22 anos são muito imaturas, prefiro uma de 27.

As escolhas nem sempre são racionais

Em especial, uma cliente de Lucy ganha um espeço importante na trama: Sofi. A moça teve diversos encontros com muitos dos que pareciam preencher seus requisitos, mas nada de sucesso. E uma reviravolta bem marcante – e infelizmente atual – acontece no último date elaborado pela casamenteira para Sofi. Esse episódio é responsável por caracterizar uma reviravolta no pensamento da protagonista sobre o seu trabalho. Os takes de seus clientes advindos desse episódio já encontram uma casamenteira sem paciência e revoltada com algumas das condições dadas pelas pessoas para se casarem com alguém. E essa revolução não se mostra presente somente na sua vida profissional, ela também serve como motivador para o grande drama do filme: a escolha entre o ‘Senhor Fantástico’ e o ‘Capitão América’ (risos).

O que eu posso falar sobre essa escolha? Em fins racionais, é escolher entre um homem mais maduro, bem-sucedido, atraente, não fumante, e um cara mais novo, aspirante a ator, sem casa própria e que ainda busca seu lugar no mundo. Até pode ser que as vozes da sua cabeça - e digo isso também me referindo a da personagem – ecoem que a resposta está na primeira opção. O filme retrata o que as mulheres querem: valorização e estabilidade. Mas será que a razão é o suficiente para que você encontre o amor em outro pessoa? Voltamos ao tempo das cavernas, aos relacionamentos primórdios e é dessa reflexão que Lucy tenta basear a sua resposta. E não, você não vai ler nesse texto qual a decisão final da personagem de Dakota Johnson.

O longa me fez refletir muito sobre os relacionamentos atuais, sobre a mulher na contemporaneidade e todas as decisões que envolvem o ato de escolher se relacionar com alguém. 

É preciso ser sincero desde o início? Conversas profundas são importantes? Eu abro para o outro tudo que eu penso? E se ele conhecer meus pensamentos mais mesquinhos, será que ele irá escolher ficar?

JÚLIA MÖLLER

Certamente o filme também irá mexer com você e, principalmente, com o seu íntimo. Por isso, te convido a assistir e se abrir para um diálogo profundo sobre vínculos - ou seria contratos?


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