A música na era da IA: Colaboração, desafios legais e o futuro da criatividade
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A música na era da IA: Colaboração, desafios legais e o futuro da criatividade

A banda The Velvet Sundown chocou o público ao se revelar uma farsa criada por Inteligência Artificial, gerando debates sobre autoria e o futuro da criatividade na indústria musical.

01/08/2025 - 13h21min

Atualizada em: 01/08/2025 - 16h56min

Atlântida
Natalie Oliveira
Natalie Oliveira
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Reprodução/Internet
A banda The Velvet Sundown chocou o público ao se revelar uma farsa criada por Inteligência Artificial.

É preciso ser minimamente "cronicamente online" para já ter ouvido falar sobre a banda The Velvet Sundown, que viralizou após conquistar mais de 700 mil ouvintes mensais no Spotify. O motivo da viralização, além da ótima qualidade das canções, parece ter saído diretamente de um episódio de Black Mirror: a banda não existe. The Velvet Sundown foi totalmente criada por IA (Inteligência Artificial).

Com a viralização, o público começou a pesquisar sobre o grupo e, então, surgiram questionamentos sobre a veracidade da banda, uma vez que não foram encontradas informações sobre os membros do suposto grupo – formado por Gabe Farrow, Lennie West, Milo Rains e Orion "Rio" Del Mar – e nem redes sociais. As fotos dos músicos, que pareciam autênticas à primeira vista, foram rapidamente identificadas como criações de IA.

O mistério começou a ser desvendado quando a plataforma Deezer incluiu um aviso de que algumas faixas poderiam ter sido criadas por IA, e a biografia da banda no Spotify foi atualizada, confirmando a utilização de ferramentas de inteligência artificial "como instrumentos criativos" no processo de criação das músicas, vozes e letras.

Este caso é mais uma prova de que a Inteligência Artificial está redefinindo o cenário musical em uma velocidade frenética, levantando questões cruciais sobre autoria, propriedade intelectual e o próprio papel do artista. Longe de ser apenas uma ferramenta para criar batidas ou letras, a IA já se posiciona como uma força transformadora na produção, distribuição e consumo de música.

O potencial da colaboração e os desafios legais e éticos

Para muitos na indústria, a IA não é uma ameaça, mas sim uma poderosa ferramenta de colaboração. Artistas e produtores já utilizam algoritmos para gerar novas ideias, otimizar arranjos ou até mesmo criar vocais sintéticos.

"A IA não vai substituir os artistas, mas artistas que usam IA vão substituir os que não usam", afirma Daniel Ek, CEO do Spotify, em uma conferência recente. Essa visão sugere que a adaptação e a experimentação serão chaves para a sobrevivência e inovação. A IA pode atuar como um "co-piloto" criativo, oferecendo infinitas possibilidades sonoras e expandindo os horizontes de compositores e produtores.

No entanto, o avanço da IA na música traz consigo uma complexa teia de desafios legais e éticos, principalmente no que diz respeito à autoria e aos direitos autorais. Para trazer um exemplo prático, o início da canção “As the Silence Falls”, do Velvet Sundown, remete muito à canção “So Far Away”, da banda (real) Dire Straits. 

Mas, ao mesmo tempo que se pensa sobre o uso de samples de outras canções, a falta de créditos ao compositor original também levanta um sinal de alerta. Então, quando uma IA gera uma melodia ou uma letra que se assemelha à obra de um artista existente, de quem são os direitos?

Ouça as duas canções e tire suas próprias conclusões:

Harvey Mason Jr., CEO da Recording Academy (responsável pelo Grammy Awards), tem sido vocal sobre a necessidade de regulamentação. "Estamos em um território desconhecido. Precisamos de diretrizes claras sobre o que constitui autoria humana e como protegemos a obra original dos artistas", declarou Mason Jr. em uma entrevista. 

A preocupação é que a capacidade da IA de "aprender" e replicar estilos possa diluir o conceito de originalidade e prejudicar financeiramente os criadores humanos. Casos de músicas geradas por IA imitando vozes de artistas famosos, como o ocorrido com um feat falso entre Drake e The Weeknd que viralizou, já acenderam o alerta para a necessidade de legislações mais sólidas.

O futuro da criatividade

Em última análise, o futuro da música na era da IA dependerá da capacidade da indústria e dos artistas de se adaptarem, regularem e explorarem essa tecnologia de forma ética e inovadora. A autenticidade, a emoção e a experiência humana que a música proporciona continuarão sendo insubstituíveis, mas a forma como elas são criadas e consumidas certamente evoluirá.

A IA pode se tornar o novo sintetizador, o novo software de produção, ou até mesmo um novo membro da banda. O desafio é equilibrar a inovação tecnológica com a proteção da arte e dos artistas, garantindo que a alma da música continue a pulsar forte, com ou sem a intervenção das máquinas.



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