
Matuê nunca foi exatamente previsível, mas em XTRANHO ele decide ir além do esperado. Lançado com 13 faixas, o novo álbum marca uma virada estética e sonora na trajetória do trapper, que deixa ainda mais evidente o desejo de se afastar das fórmulas fáceis do mercado para explorar um território mais instável, ruidoso e conceitual.
O projeto chega acompanhado de uma identidade visual forte, ações presenciais, variações de capa que dialogam com moda, arte e performance, e uma proposta que não se limita ao streaming. XTRANHO não é só um disco: é uma era pensada para ser vista, sentida e debatida.
Impacto imediato
Mesmo apostando no “estranho”, o impacto foi imediato. Todas as faixas de XTRANHO estrearam no Top 30 do Spotify Brasil, um feito que reforça a força de Matuê no streaming nacional. O projeto ainda ultrapassou 11 milhões de reproduções nas primeiras 24 horas, consolidando o lançamento como um dos maiores do trap brasileiro em 2025.
Entre os destaques do ranking estão Meu Cemitério, que subiu 15 posições, além de estreias como Rei Tuê, Ícone Fashion, Backstage, Xtranho, Autobahn, Talking Bout, Facas e Machados, Pensamentos Perigosos, Alterado, Todas as Luzes, Os Melhores e Nananana, ocupando posições que vão do Top 5 ao Top 30 e mostrando domínio total da plataforma.
Entre o impacto e a estranheza
Desde o lançamento, o álbum vem gerando reações intensas e divididas. Parte do público e da crítica elogia a coragem de Matuê em assumir uma sonoridade menos palatável, com beats distorcidos, atmosferas densas e vocais mais agressivos.
Já outra parte, especialmente nas redes sociais, questiona se o experimentalismo soa consistente do começo ao fim ou se algumas faixas “parecem mais rascunhos de ideias do que músicas finalizadas”.
Nos comentários do X (antigo Twitter), TikTok e fóruns como o Reddit, termos como “ousado”, “confuso”, “visionário” e “mid” aparecem lado a lado. Essa polarização, no entanto, reforça um ponto central do disco: XTRANHO não quer agradar todo mundo, quer provocar.
Referências musicais e estéticas
É impossível ouvir XTRANHO sem fazer paralelos com o trap experimental que domina a cena internacional. Críticas e análises nas redes frequentemente citam o universo do selo Opium, liderado por Playboi Carti, além de nomes como Ken Carson e Destroy Lonely, tanto pela estética sonora mais crua quanto pela construção de imagem baseada no choque visual.
Ao mesmo tempo, o disco dialoga com a própria discografia de Matuê. Se Máquina do Tempo consolidou o artista e 333 flertou com o status de blockbuster do trap nacional, XTRANHO parece um movimento contrário: menos preocupado com hits e mais interessado em identidade. Para alguns fãs, isso representa evolução; para outros, uma repetição de referências externas ainda em processo de amadurecimento.
Visualmente, essa fase também se destaca. As múltiplas capas reforçam um imaginário quase grotesco, minimalista e inquietante. Mais distante do luxo tradicional do trap e mais próximo de uma estética underground global, onde moda, música e arte se misturam.
Um artista cada vez mais multimídia
Além do som, Matuê reforça seu posicionamento como artista multimídia. O lançamento contou com audição pública, peças de moda atreladas ao projeto e uma narrativa visual contínua que se estende para redes sociais, capas alternativas e performances ao vivo. Tudo isso ajuda a entender XTRANHO como um projeto pensado para circular em diferentes plataformas e linguagens.
Essa proposta também deve ganhar ainda mais força no palco. Em 2026, Matuê está confirmado no Planeta Atlântida, onde se apresenta no sábado, 31 de janeiro, prometendo levar essa nova fase para o maior festival de música do Sul do país.
O estranho como assinatura
No fim das contas, XTRANHO funciona menos como um consenso e mais como um termômetro. Ele mede até onde Matuê pode ir sem perder sua base, ao mesmo tempo em que testa novos limites criativos. Gostando ou não, o álbum cumpre um papel importante: reafirma que o trapper não quer ficar confortável.
E, talvez, seja justamente aí que mora sua maior força: transformar o estranhamento em linguagem e a controvérsia em motor criativo.

