
Aquela música nova que você jurava ter sido composta por um artista promissor pode, na verdade, ter saído de um computador. Uma pesquisa conduzida pela Ipsos para a plataforma francesa Deezer revelou que 97% das pessoas não conseguiram diferenciar uma faixa feita por inteligência artificial (IA) de uma música composta por humanos. O dado coloca um ponto de interrogação no futuro da indústria musical (e no ouvido de quem consome).
O estudo, realizado online entre 6 e 10 de outubro, ouviu 9 mil pessoas em oito países: Estados Unidos, Canadá, Brasil, Reino Unido, França, Países Baixos, Alemanha e Japão. Durante a pesquisa, os participantes ouviram três músicas, duas criadas por IA e uma feita por um artista humano. O resultado foi quase unânime: 97% não perceberam diferença entre as faixas.
A descoberta acendeu um alerta sobre como o avanço da IA está se infiltrando no processo criativo. Embora as ferramentas tenham sido pensadas, inicialmente, para auxiliar artistas, produtores e estúdios, a tecnologia agora é capaz de compor, cantar e até imitar timbres de artistas reais com precisão assustadora.
O crescimento explosivo da música feita por IA
Em janeiro, a Deezer revelou que uma em cada dez músicas reproduzidas em sua plataforma em um único dia era totalmente criada por inteligência artificial. Dez meses depois, o número disparou: 34% de todas as novas faixas enviadas à plataforma (cerca de 40 mil por dia) são geradas por IA.
Apesar disso, a empresa ressalta que essas músicas ainda representam uma fração muito pequena das reproduções totais, já que o público ainda prefere faixas de artistas humanos. Mesmo assim, o aumento chama atenção pelo ritmo acelerado e pelo impacto que pode ter no mercado fonográfico.
Para tentar manter a transparência, a Deezer é, atualmente, a única plataforma que sinaliza claramente quando uma faixa foi criada por inteligência artificial, permitindo ao ouvinte saber se o som que está curtindo é humano ou sintético.
O público está dividido
O estudo mostra que a relação das pessoas com a IA é de curiosidade e desconfiança em igual medida.
- 51% acreditam que a tecnologia tende a gerar músicas “mais genéricas e de qualidade inferior”.
- 64% temem que a presença da IA leve à perda de criatividade entre compositores e produtores.
Mesmo assim, há espaço para otimismo: quase metade dos entrevistados afirmou que a inteligência artificial pode ser uma aliada na descoberta de novas músicas e artistas, funcionando como uma ferramenta de recomendação mais precisa e personalizada.
Usar a IA para o bem
Enquanto alguns temem que a inteligência artificial roube o protagonismo dos músicos, outros veem nela uma oportunidade. A tecnologia pode ajudar a identificar padrões de gosto, descobrir talentos emergentes e democratizar o acesso à produção musical permitindo que mais pessoas criem, mesmo sem dominar instrumentos ou técnicas avançadas.
A grande questão, segundo a Deezer, é como equilibrar inovação e autenticidade. “A música é, antes de tudo, uma forma de expressão humana”, afirma a empresa em nota. “O desafio agora é garantir que a IA complemente esse processo, e não o substitua.”

