
Recentemente, a cantora britânica Lola Young anunciou uma pausa na carreira, decisão que inclui o cancelamento de sua participação no Lollapalooza Brasil 2026. O comunicado veio após a artista desmaiar durante um show, levantando preocupações entre os fãs.
Não é raro que artistas enfrentem problemas de saúde em meio à rotina intensa de turnês e compromissos, embora isso nunca deva ser tratado como algo normal. Mas o caso de Lola chama atenção: por que uma cantora em plena ascensão, com um álbum recém-lançado e uma agenda cheia, optaria por interromper tudo?
Vida pessoal
Lola Emily Mary Young nasceu em 4 de janeiro de 2001, em Londres, e foi criada pela mãe e pelo padrasto (um baixista) ao lado de três irmãs. Em entrevista à Elle UK, em setembro, a cantora falou sobre suas origens simples: “Eu não cresci com muito dinheiro. Minha mãe e meu padrasto têm muito orgulho de mim, e eu os apoio sempre que posso”, disse.
Mesmo com a fama, Lola mantém os pés no chão e faz questão de valorizar suas raízes: “Venho de uma família musical e comecei a tocar piano cedo. Muita coisa mudou, mas muita coisa permaneceu igual. Tenho os mesmos amigos, a mesma família, as mesmas irmãs roubando minhas roupas. Isso me dá estabilidade.”
Sim, a música entrou cedo em sua vida. Lola começou a tocar piano aos seis anos e a compor aos 11, mostrando desde pequena o talento e a sensibilidade que hoje marcam sua carreira.

Lola entrou para a renomada BRIT School, a mesma instituição de artes que formou nomes como Amy Winehouse e Adele. Durante os anos de estudo, desenvolveu seu talento como cantora e compositora. Aos 15 anos, já demonstrava seu potencial ao vencer o Open Mic UK, uma das maiores competições de canto do país, com a sua música autoral “Never Enough”.
Aos 17 anos, recebeu o diagnóstico de transtorno esquizoafetivo e TDAH, depois de anos convivendo com sintomas que se confundiam com esquizofrenia e depressão clínica. Em entrevista ao The Telegraph, em 2022, a cantora revelou que o uso excessivo de maconha, uma forma de tentar lidar com um trauma de infância “muito pesado e incomum”, acabou agravando seu quadro.
“A maconha é psicoativa e, quando você já tem um problema de saúde subjacente, ela pode desencadear o cérebro”, explicou. Lola contou que seus episódios maníacos variam em intensidade, podem ser controlados com medicação quando identificados a tempo, mas, em casos mais severos, exigem internação hospitalar. Ela descreveu o processo como “uma garrafa transbordando: chega um ponto em que não dá mais para colocar a tampa de volta, porque ela já foi sacudida demais”.
Início na carreira

Formada em 2018 pela BRIT School, Lola começou a construir sua trajetória se apresentando em bares locais e eventos de microfone aberto em Londres. Foi nesse circuito independente que ela conheceu Nick Shymansky, ex-empresário de Amy Winehouse, que se tornou seu mentor e a ajudou a lapidar o talento bruto que já chamava atenção.
Pouco tempo depois, Lola assinou contrato com a Island Records, uma das gravadoras mais prestigiadas do Reino Unido. Em 2021, ela lançou seu álbum de estreia, Intro (2019), seguido por dois EPs e o segundo álbum de estúdio My Mind Wanders and Sometimes Leaves Completely (2023), projeto que consolidou sua identidade artística e a colocou de vez no mapa da nova geração do soul britânico.
E o single “Messy” marcou um dos momentos mais emblemáticos da sua carreira, tornando-se um verdadeiro divisor de águas em sua trajetória. A faixa de 2023, viralizou nas redes sociais por sua vulnerabilidade crua e pelo refrão melancólico que traduz perfeitamente o caos emocional de uma geração que vive entre amores intensos e crises existenciais.
Com uma performance vocal potente e letras que soam como desabafos íntimos, “Messy” conquistou destaque nas principais playlists do Spotify e levou a artista a programas de TV e festivais internacionais, consolidando seu nome como uma das vozes mais autênticas do soul britânico contemporâneo.
Discografia de Lola Young
- 2019: Intro
- 2020: Renaissance (EP)
- 2021: After Midnight (EP)
- 2023: My Mind Wanders and Sometimes Leaves Completely
- 2024: This Wasn't Meant for You Anyway
- 2025: I'm Only F**king Myself
Fase atual
Nos últimos anos, Lola Young vinha vivendo o auge de sua carreira e, ao mesmo tempo, um período de profunda vulnerabilidade. Depois do sucesso de My Mind Wanders and Sometimes Leaves Completely (2023), a cantora se firmou como uma das vozes mais potentes e autênticas da nova geração britânica. Sua estética crua, letras confessionais e presença de palco intensa conquistaram não só o público, mas também a crítica especializada. No entanto, a rotina de turnês, entrevistas e compromissos promocionais começou a pesar, levando a artista a refletir sobre seus limites físicos e mentais.
Com o lançamento dos álbuns This Wasn't Meant for You Anyway (2024) e I'm Only F**king Myself (2025), Lola mergulhou ainda mais fundo em temas como autossabotagem, saúde mental e desilusão, mostrando uma maturidade artística rara para sua idade. Mesmo com o sucesso crescente, a artista passou a demonstrar sinais de esgotamento, e episódios de instabilidade emocional durante apresentações deixaram evidente que algo não ia bem.
Em meio a esse cenário, veio o anúncio da pausa na carreira. O cancelamento de sua participação no Lollapalooza foi o primeiro indício de que Lola precisava de um tempo para si longe dos holofotes, das pressões e das expectativas externas. Em comunicado, ela reforçou a importância de priorizar a própria saúde, gesto que foi amplamente apoiado por fãs e colegas de profissão. Para muitos, essa decisão não marca um fim, mas um ato de coragem e autocuidado raro em uma indústria que nem sempre respeita o ritmo de quem cria.
Ouça I'm Only F**king Myself
Hoje, Lola Young é mais do que uma promessa do soul britânico, ela é símbolo de vulnerabilidade e autenticidade em tempos de aparências. Sua pausa, longe de representar um ponto final, parece ser uma vírgula necessária em uma trajetória marcada por talento, intensidade e autodescoberta. Quando decidir voltar, é provável que traga consigo não apenas novas canções, mas também uma versão ainda mais consciente e poderosa de si mesma.