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Por que todo ano ainda precisamos do Mês do Orgulho?

Mais do que celebração, o Mês do Orgulho é um ato de resistência contra a violência, o silenciamento e a exclusão que ainda marcam a realidade LGBTQIA+ no Brasil e no mundo

28/06/2025 - 18h00min

Atlântida

Junho chega e com ele uma explosão de cores, campanhas, postagens nas redes e desfiles de rua que celebram o Orgulho LGBTQIA+. Mas em meio à alegria das bandeiras tremulando e da diversidade estampada em vitrines e telões, uma pergunta sempre reaparece: por que, ainda hoje, precisamos de um Mês do Orgulho?

A resposta é simples: porque ainda há preconceito. Porque ainda há agressão, marginalização, pessoas expulsas de casa, invisibilidade, e pessoas são silenciadas. Porque amar, ser, existir fora da norma ainda é motivo de punição, simbólica, social e, muitas vezes, fatal.

A origem da luta: de Stonewall ao Brasil

O Mês do Orgulho existe porque houve resistência. A data tem como marco a Revolta de Stonewall, em 28 de junho de 1969, nos EUA, quando frequentadores LGBTQIA+ do bar Stonewall Inn revidaram uma batida policial violenta em Nova York. Lideranças como Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera transformaram aquele motim no início de um movimento global pelos direitos da comunidade.

No Brasil, a luta também teve seus próprios marcos históricos. Em 1983, a manifestação em frente ao Ferro's Bar, após a censura à distribuição da revista lésbica ChanacomChana, ficou conhecida como o "Stonewall brasileiro" e deu origem ao Dia do Orgulho Lésbico. Ainda na década de 80, o surgimento de publicações como Lampião da Esquina e grupos como o Grupo Gay da Bahia (1980) foram essenciais para colocar a pauta LGBTQIA+ em circulação durante a ditadura militar.

Reprodução

Conquistas civis existem, mas são recentes

O Mês do Orgulho também serve para lembrar que as conquistas são recentes, e por isso, frágeis. A autorização para casamentos homoafetivos no Brasil só aconteceu em 2013. A criminalização da LGBTfobia foi determinada pelo STF apenas em 2019, através da equiparação à Lei do Racismo. A possibilidade de retificar nome e gênero em cartório, sem a necessidade de cirurgia, é de 2018. Antes disso, as pessoas trans precisavam enfrentar processos judiciais humilhantes para apenas existir no papel.

Além disso, muitas das políticas públicas voltadas à comunidade LGBTQIA+ ainda são precárias, descontínuas ou concentradas em grandes centros urbanos. A ausência de proteção federal sistemática coloca a sobrevivência da comunidade sob constante ameaça.

O Brasil ainda é o país que mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo

Mesmo com todas essas conquistas, o Brasil continua a liderar o ranking de assassinatos de pessoas LGBTQIA+ no mundo. Segundo dados da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), 175 pessoas trans foram assassinadas só em 2020. No primeiro semestre de 2024, o Ministério dos Direitos Humanos registrou 33.935 violações contra pessoas LGBTQIA+ no país. Mais de 12 mil dessas violações foram contra gays, mais de 8 mil contra lésbicas e 4 mil contra pessoas trans e travestis.

A expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil ainda gira em torno dos 35 anos, menos da metade da média nacional. A transfobia não se expressa apenas na violência física, mas também na exclusão social, no desemprego, na ausência de acesso à educação e saúde.

Orgulho também é política

A política institucional ainda é um espaço excludente. A sub-representação de pessoas LGBTQIA+ nos parlamentos brasileiros, somada à dificuldade de implementar políticas públicas robustas, reforça a importância do ativismo, das redes de apoio e da visibilidade. O Orgulho é também uma convocação à resistência coletiva.

Não é sobre celebração, é sobre existência

Se o Orgulho existe, é porque, historicamente, a comunidade LGBQIA+ foi ensinada a sentir vergonha. Vergonha de sua identidade, sua afetividade, seu corpo, sua história. Celebrar o Mês do Orgulho não é sobre promover “um privilégio”, como tantos dizem, mas sim sobre reverter séculos de apagamento.

É uma resposta política, cultural e social que afirma: "estamos vivos, temos história, temos direitos e não vamos abrir mão deles". É por isso que vemos cada vez mais a presença da causa LGBTQIA+ na música, no cinema, nas novelas, nas séries e nas redes, e também porque, mesmo dentro da cultura pop, ainda há estereótipos, apagamentos e boicotes.

O orgulho como resposta

No fim das contas, junho não é só uma comemoração. É memória, é denúncia, é estratégia de sobrevivência. É também sobre abraçar quem ainda não conseguiu sair do armário, sobre acolher quem foi rejeitado, sobre lutar por quem já se foi.

Se hoje você vê bandeiras coloridas em shoppings, comerciais e perfis de marca, lembre-se: isso só acontece porque muita gente sofreu antes de poder gritar que o amor não é crime



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