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Dia do orgulho 

A representatividade LGBTQIA+ na TV e cultura pop do Brasil

De novelas a músicas virais, a conquista acontece todos os dias

28/06/2025 - 15h00min

Atualizada em: 28/06/2025 - 15h12min

Atlântida

A história da cultura LGBTQIA+ no Brasil é cheia de contrastes. Somos o país com a maior Parada do Orgulho do mundo, mas também um dos que mais mata pessoas LGBTQIA+. A teledramaturgia, a música, a política e até as redes sociais sempre refletiram essas contradições. 

É por isso que hoje, no Dia do Orgulho, a ATL preparou uma linha do tempo queer na cultura pop brasileira para relembramos as conquistas e reforçar que ainda há muito por o que batalhar.

1970

  • A novela Assim na Terra como no Céu (Globo) apresenta Rodolfo Augusto, interpretado por Ary Fontoura. É considerado o primeiro personagem gay da teledramaturgia brasileira, embora sua sexualidade nunca tenha sido mencionada diretamente.
  • No mundo: o movimento de liberação gay ganhava força após a Rebelião de Stonewall (1969), nos EUA. No Brasil, a ditadura militar impunha censura e vigilância a qualquer representação dissidente.
  • É por volta dessa época que a comunidade LGBTQIA+ se expressa por meio de grupos de música e teatro como forma de mostrar seu verdadeiro eu. 

1978

  • Surge o Grupo Somos, primeiro grupo ativista homossexual do Brasil, em São Paulo.
  • Publicação do jornal Lampião da Esquina, que marcou a resistência LGBTQIA+ durante o regime militar.
  • Na música, artistas como Ney Matogrosso desafiavam normas de gênero e comportamento com suas performances andróginas.

1980

  • Rita Lee lança “Lança Perfume”, uma explosão de sensualidade, muitas vezes interpretada como um respiro queer na música pop.
  • Apesar da censura ainda ativa, o rock brasileiro começa a incorporar códigos queer em sua estética.

1985

  • Fim oficial da censura no Brasil com o fim da ditadura. Abertura democrática permite maior espaço para discussões de sexualidade e identidade de gênero.
  • No mesmo ano, o Brasil retira a homossexualidade da lista de doenças do Ministério da Saúde, cinco anos antes da OMS fazer o mesmo.
  • “Codinome Beija Flor” (1985), de Cazuza, fala de um amor entre dois homens, o nome do “muso” estaria contido na letra

1989

  • Tieta apresenta a personagem Ninete, interpretada por Rogéria, uma das primeiras mulheres trans a aparecer com destaque em uma novela. Embora o termo “trans” não fosse usado, a presença dela foi um marco.
  • No ano seguinte, em 1990, a OMS também retira a homossexualidade da lista de doenças. 

1995

  • “Malhação” estreia com um formato adolescente que aos poucos começa a abordar temas como HIV, bullying e sexualidade. A representatividade LGBTQIA+ ainda era tímida, mas o espaço jovem preparava terreno.

1998

  • Torre de Babel provoca polêmica com o casal lésbico Leila (Christiane Torloni) e Rafaela (Silvia Pfeifer). Por rejeição do público, ambas são mortas em uma explosão. Esse episódio virou símbolo do "apagamento queer" nas novelas.
  • No mundo: Ellen DeGeneres já havia se assumido como lésbica na TV americana um ano antes, em 1997.

2000

  • É lançado “Devassos no Paraíso”, de João Silvério Trevisan, talvez o livro mais completo sobre a história da homossexualidade no Brasil

2005

  • Estreia do programa Big Brother Brasil 5, com Jean Wyllys, que se assumiria gay mais tarde e se tornaria uma das figuras mais importantes da política LGBTQIA+ do país.
  • Jean vence o BBB em 2005, quebrando estigmas e abrindo espaço para o debate sobre diversidade em horário nobre.

2008

  • O personagem de Leonardo Miggiorin em Duas Caras (Afonsinho) é gay e afeminado, mais uma vez reforçando o arquétipo do humor como local exclusivo de personagens LGBTQIA+.

2011

  • O STF reconhece a união estável entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar. É a principal conquista jurídica até então.
  • Na cultura pop, artistas como Pabllo Vittar surgem no cenário underground e LGBTQIA+ começa a ganhar protagonismo nas redes.

2013

  • Amor à Vida revoluciona ao dar destaque ao personagem Félix (Mateus Solano), que começa como vilão e termina como mocinho gay. Seu beijo com Nico (Thiago Fragoso) é o primeiro beijo gay em horário nobre da Globo.
  • O personagem também representa uma virada: não era apenas cômico, mas complexo e capaz de emocionar o público.

2014

  • A novela Em Família traz o casal Clara (Giovanna Antonelli) e Marina (Tainá Müller). O beijo entre as duas personagens foi exibido no último capítulo, ainda sob resistência da emissora.
  • Começa a era de artistas queer nas redes sociais e no YouTube, com nomes como Linn da Quebrada ganhando espaço com discursos sobre gênero e favela.

2017

  • A Força do Querer aborda a transição de gênero de Ivan (Carol Duarte), personagem trans masculino. A novela é lembrada até hoje como uma das mais ousadas da Globo nesse tema.
  • Silvero Pereira interpreta Elis Miranda, uma cantora travesti, e critica o apagamento de atrizes trans em papéis de mulheres trans.

2019

  • O STF criminaliza a homofobia e a transfobia, equiparando essas práticas ao crime de racismo.
  • Pabllo Vittar é a primeira drag queen a se apresentar no palco principal do Coachella. No Brasil, ela já havia se tornado um ícone pop com alcance internacional.

2021

  • Linn da Quebrada protagoniza Segunda Chamada e se torna uma das poucas mulheres trans em papéis dramáticos de destaque na TV aberta.
  • No mesmo ano, Gloria Groove estoura nas paradas com o hit Bonekinha e consolida a drag music como um gênero próprio.

2023

  • A Globo exibe Vai na Fé e Terra e Paixão, com cenas de carinho entre casais LGBTQIA+. No entanto, demora para exibir beijos lésbicos.
  • Ao mesmo tempo, o sucesso do casal Kelvin (Diego Martins) e Ramiro (Amaury Lorenzo) viraliza nas redes, mostrando que o público quer ver afeto queer nas tramas.

2024

  • O filme Meu Nome é Gal celebra a história de Gal Costa, que durante a vida nunca assumiu publicamente sua orientação, mas foi símbolo de liberdade artística queer.

Apesar de todos os avanços, a representatividade LGBTQIA+ na cultura pop brasileira ainda é desigual. Gays cis brancos seguem sendo maioria nas tramas; pessoas trans, bissexuais, não-binárias e negras continuam à margem. Enquanto a legislação avança, o conservadorismo tenta impor retrocessos. 

Mas também há resistência: nas telas, nas ruas e nas redes. E enquanto houver quem conte suas histórias, a cultura pop continuará sendo um espaço de disputa, afirmação e visibilidade.


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