Homem com H, a cinebiografia do irreverente Ney Matogrosso, dirigida e roteirizada por Esmir Filho, chega aos cinemas nesta quinta-feira (01). De acordo com o próprio cantor, hoje com 83 anos, a obra é um compromisso com a verdade e a exposição de suas facetas, sem pudor.
A primeira coisa que eu comentei com o Esmir foi que dizem e escrevem muita loucura ao meu respeito. Tem muita mentira por aí. Nesse filme, não pode ter mentira, tudo que a gente colocar tem que ser verdadeiro. E eu fiquei satisfeito quando assisti, sem nenhum pudor de contar a minha vida com meu pai, minha família, meus amores
NEY MATOGROSSO
Em entrevista sobre o filme

Interpretado pelo pernambucano Jesuíta Barbosa, Ney é apresentado em diversas fases da vida, desde a infância, marcada por diferenças com seu pai militar, interpretado por Rômulo Braga, por seu comportamento "afeminado", até a junção com a emblemática banda Secos e Molhados, ao lado dos amigos João Ricardo e Gerson Conrad, interpretados por Mauro Soares e Jeff Lyrio.
Para além da relação com a arte, as brigas com os colegas de grupo e o abuso de drogas e bebidas, entremeados com a epidemia de aids e a violência da ditadura militar, são parte fundamental da construção narrativa e da vida do artista.
O Ney não interferiu na biografia, mas acompanhou de perto. Ele não proibiu nada. Pelo contrário, colaborou dublando as músicas que Jesuíta cantava e revelando como se sentia em cada momento da vida
ESMIR FILHO
Em entrevista no lançamento de Homem com H
Para essa grande construção despida de ficções, foram 17 versões do roteiro foram escritas, 12 delas lidas por Ney, para que a versão final chegasse as telas.
Outros personagens essenciais à trajetória do artista não deixam de ganhar espaço nas passagens da telona. Cenas de intimidade com seus grandes amores: Cazuza, interpretado por Bruno Montaleone, e Marco de Maria, interpretado por Julio Reis, tornam palpável o lado afetivo e desinibido de Ney.

Canções clássicas como “Rosa de Hiroshima”, “Sangue Latino”, “O Vira”, “Bandido Corazón”, “Postal de Amor”, “Não Existe Pecado ao Sul do Equador”, “Encantado” e "Homem com H" embalam a trilha sonora do filme.
A voz singular, a androginia, as danças, a maquiagem e as roupas, fiéis ao que é Ney Matogrosso, dão ao público o tom da história a ser contada – ou retratada-. Com a construção, o próprio artista revela ter se emocionado como nunca antes:
Sou duro na queda, mas me descontrolei duas vezes com esse filme. Quando vi a filmagem, uma cena, quando 'eu' apareço chegando para o Marco [seu namorado na época] - ele doente com AIDS - com meu teste negativo. Eles foram tão convincentes, que tive uma coisa. Me desestabilizou, tinha vivido aquilo. No momento tinha me sentido culpado, não fiz nada de diferente, tinha certeza de que estava contaminado e não peguei
NEY MATOGROSSO
Muito além de uma cinebiografia, Homem com H promete ser um tributo e retrato fiel de memória para quem foi o inigualável Ney Matogrosso, como um retrato fiel e despido a quem interessar conhecê-lo.