“O Agente Secreto”, estreia nesta quinta-feira (06) nos cinemas de todo o Brasil. Mas diferente do que o nome indica, não há espionagem no longa. O filme é um retrato sobre o Brasil e a ATL já assistiu e te conta mais sobre o longa.
Kleber Mendonça Filho transforma o Recife de 1977 em um labirinto entre a festa e o luto de se esconder da própria vida. Logo de cara conhecemos Marcelo, um homem cuja identidade, personalidade e história levamos o filme todo para entender e conhecer. Em meio ao Carnaval, o personagem chega a Recife em um característico fusca amarelo carregado de meias palavras e mistérios em suas interações com a comunidade que passa a habitar.
O filme vem com moral: prêmios de Melhor Direção e Melhor Ator em Cannes (feito inédito para uma produção brasileira) e a missão de representar o Brasil no Oscar 2026. Mas a grandeza de “O Agente Secreto” não está nos troféus, está no incômodo de ficar no escuro da real situação, de Marcelo e de Brasil.
Recife é personagem
Entre blocos de Carnaval, tiros, sexo em praça pública e tubarões famintos (literalmente, tem uma perna humana envolvida), Mendonça constrói um retrato caricato do Brasil dos anos 70. A estética é vibrante, mas o contexto é político, pesado e diferente do que você espera.
Recife aqui é mais que pano de fundo, é personagem da trama, e tudo se relaciona com o ambiente, a história não seria a mesma em nenhum outro lugar.
Wagner Moura
Wagner Moura volta ao cinema brasileiro depois de mais de uma década e entrega um personagem que é o oposto do revolucionário de “Marighella” ou o controverso "Pablo Escobar". Marcelo não é herói, é um homem comum, assustado, cansado, com saudades e amores, e sobretudo em fuga.

Moura é sem dúvidas a estrela do filme, o que faz a trama acontecer e ser acontecimento. A atuação carrega e dá o tom do que vamos ver e o que vamos imaginar dessa história, outro ator teria criado um "Agente Secreto" muito diferente do que o que vemos na tela. Wagner encontra em Kleber Mendonça Filho o parceiro ideal para retratar esse Brasil e contexto tão específicos.
A frente na trama, vemos um Marcelo pai e estudioso, mas muito mais, uma interrogação que se mantém até o último segundo. Cercado de perguntas, ficamos presos a tela tentando juntar as informações num thriller político e nos sentimos verdadeiros agentes a desvendar onde estamos pisando. É preciso entender o papel da polícia, do empresariado, da imprensa e do povo durante os governos militares.
Kleber em seu auge
Quem já conhece o cinema de Kleber vai reconhecer tudo o que ele faz de melhor aqui: o suspense cotidiano de "O Som ao Redor", o absurdo de "Bacurau" e o olhar documental de "Retratos Fantasmas".
Mas em "O Agente Secreto", tudo isso se mistura em algo maior, um quase fantasioso filme popular e político, com trilha sonora que vai de Donna Summer a Waldick Soriano.
Mendonça transforma lendas urbanas (como a da “perna cabeluda”) em metáforas sobre um país em ditadura. É um cinema que se diverte com o caos, mas nunca perde a consciência de onde pisa.
Rir pra não chorar
Apesar da densidade, "O Agente Secreto" tem humor em muitos momentos e as risadas abafadas das sessões de cinema podem comprovar. Apesar disso, em muitos momentos o que vemos é um humor amargo, daqueles que são alívio cômico e respiro entre um tiro e uma lembrança nostálgica. A personagem Dona Sebastiana, vivida por Tania Maria, é puro carisma, roubando cenas com frases que aliviam o peso sem apagar a dor.
Sinopse (contém spoiler)
Marcelo é um professor viúvo tentando desaparecer em plena ditadura. Com o fusca amarelo e olhar cansado, ele volta ao Recife para resgatar o filho e fugir do país mas acaba preso em um labirinto de burocracia, fantasmas e vigilância. Trabalha disfarçado num cartório, vive numa casa de dissidentes e tenta provar até a existência da própria mãe. Tudo enquanto é caçado por assassinos a mando de um ex-rival do setor privado que atua por meio de armas do governo ditatorial.
Entre cadáveres esquecidos em postos de gasolina e telefonemas em cabines decadentes, "O Agente Secreto" transforma uma simples história de fuga no Brasil dos anos 1970.
Para não esquecer
Mais do que um thriller político ou um drama de "época", "O Agente Secreto" é um lembrete: o esquecimento também é uma forma de violência.
Este é um filme sobre a ditadura, mas não a vemos em tela, como experienciamos no passado presente com o premiado "Ainda Estou Aqui". Kleber Mendonça Filho filma esse momento sem deixar claro sobre onde os personagens se encontram nessa relação, mas entendemos a cada frame a agonia de viver onde queremos esquecer. Em um país que prefere perdoar em vez de lembrar, ele insiste na memória.
Onde assistir "O Agente Secreto" em Porto Alegre
O filme estreia nos cinemas brasileiros em 6 de novembro de 2025.
Para assistir em Porto Alegre, as salas de cinemas disponíveis são as seguintes:
- Cineflix Shopping Total
- Cinemark Barra Sul
- Cinemark Bourbon Ipiranga
- Cinemark Wallig
- Cinépolis João Pessoa - POA
- Cinesystem Bourbon Shopping Country
- GNC Iguatemi Porto Alegre
- GNC Praia de Belas
- Cinemateca Paulo Amorim
- Cinebancários

