
Podemos sentir “saudade” de algo que não vivemos? Ou pertencentes a um movimento anterior ao nosso nascimento? Com o boom de coisas ressurgindo e voltando a ser tendência por meio da nostalgia, parece que sim.
Mas nem só de momentos não experienciados vive a nostalgia. É comum que o sentimento de falta de algo que não podemos viver mais – mas em algum momento vivemos - apareça na nossa cabeça.
Aquela música da adolescência, o filme que remete a casa de mãe, a roupa que nos lembra de uma fase da vida. Tudo isso pode ser nostálgico e tem essa carga de energia muitas vezes reconfortante. De acordo com a professora de psicologia Krystine Batcho, “Consumir mídia nostálgica de todos os tipos nos dá uma maneira de pensar sobre quem somos e nos ajuda a entender nosso propósito na vida”. Ou seja, de onde viemos e o que nos trouxe até aqui.
Hoje, a nostalgia é um sentimento – ou quase um conceito global de comportamento -nos remete a sensações de carinho ou saudosismo. Seja uma lembrança específica, uma época da vida ou até mesmo uma cultura ou período histórico. É aí que entra o apreço por algo que a maioria de nós nem viveu. Em parte, isso se deve à idealização do passado.
Esse tempo costuma passar uma sensação de ser “mais simples”, cheio de autenticidade e genuinidade. Essa leveza da nostalgia vem de algo que acontece em nosso cérebro, já que os efeitos psicológicos e neurobiológicos causados em nossa mente quando nos sentimos nostálgicos são comprovadamente ligados a sensação de recompensa.
Desde que vivemos a pandemia de Covid-19, a nostalgia ganhou um impulso ainda maior do que já tinha nos anos anteriores. Para você ter uma noção, o conceito foi a palavra mais pesquisada em 2011, no Dicionário Priberam de Língua Portuguesa. Com o isolamento, o saudosismo sobre os velhos tempos ganhou força e hoje vivemos em um constante ciclo nostálgico de tendências.
A nostalgia nos leva a coisas mais palpáveis na era do digital, onde podemos ter algo físico para representar e sentir aquilo que gostamos para além da tela de um celular, seja no disco da nossa banda favorita ou na foto impressa com nossos amigos.
Se liga em tudo que é promovido pela nostalgia e está no nosso consumo do dia a dia:
Moda e estilos de vida

Roupas, acessórios e penteados inspirados em décadas anteriores estão sempre voltando e sendo tendência, afinal, a moda não é cíclica? Voltar no tempo sempre é uma boa saída para estar dentro de tendências. Foi assim que os brechós voltaram com tudo e se adaptaram as nossas rotinas.
Hoje vivemos o boom dos anos 00’: calças cintura baixa, baggy jeans, balone, coletes, correntes, cores vivas, croppeds masculinos, e relançamentos de clássicos. Tudo isso acompanhado de eventos e músicas que seguem a estética e nos deixam imersos em uma bolha de conforto.
Filmes e séries
Esse já não é novidade e aposto que você consegue nomear vários conteúdos que retomam tempos passados. Mas o que tem tomado a telinhas de vez são os remakes, live actions e sequências de clássicos que já conquistaram gerações.
Tecnologia
Aqui a moda é voltar no tempo. De câmeras digitais e analógicas (aquelas de filme mesmo) a design de eletrônicos de última geração. Quem não lembrou de seus antigos celulares flip quando a as novas telas dobráveis surgiram alguns anos atrás?

Música
Relembrar bandas da nossa juventude ou fenômenos que nem vivemos está cada vez mais comum. É assim que festivais de música emo ou ingressos para a nova turnê de volta do Oasis esgotam ingressos em minutos. Não há novas músicas ou previsão de novidade, a aposta e relembrar o passado e viver a época das camisetas de banda e calça preta.

Além disso, a busca por discos de vinil tem inflacionado o mercado fonográfico e promovendo a abertura de novos comércios ano a ano. Os novos artistas embarcam na onda e as gravações em LP de seus álbuns se tornam itens de colecionador.
Mas qual é a diferença entre a nostalgia e a saudade?
Bom, basicamente a possibilidade do viver. Enquanto a primeira é a lembrança do que não pode voltar a acontecer, está apenas em nosso cérebro, a segunda é algo palpável, que na maioria dos casos pode ser sanada, por exemplo, ao reencontrarmos a pessoa de quem sentimos saudade.