Rita Lee nos deixou na noite da última segunda-feira, 8 de maio, de maneira branda e tranquila em sua casa, ao lado de seus familiares. Rita não é um ícone da música brasileira apenas pela sua voz ou pela sua lista infinita de sucessos. A Rita, mais do que um nome próprio, tornou-se um adjetivo.
— Como tu tá hoje?
— Ah, hoje eu tô meio Rita...
A roupa que ela vestia? Autenticidade. Seja de cabelo ruivo, comprido, curto ou careca, Rita foi Rita do início da sua vida até o seu último suspiro.
A cantora, que partiu no auge de seus 75 anos, foi reconhecida mundialmente pelas suas letras que mais eram revoluções, e pelo seu palavreado fora da curva, fora de série... mas muito, muito dentro do jeito Rita de ser. Uma mulher que encarou a ditadura, iniciou carreira solo em um gênero musical predominantemente masculino e, acima de tudo, sempre usou a sua voz para representar as milhares de vozes femininas espalhadas pelo Brasil e pelo mundo.
Movida pela paixão, escolheu dividir a vida com o seu parceiro de música e de arte. Parceiro este que, totalmente embriagado por essa erva venenosa, esteve ao seu lado até o fim... um dos clichês da vida: logo Rita, seguiu o tão conservador "até que a morte nos separe". Mas ela merecia essa paixão. Rita, mesmo longe de quaisquer contos de fada breguíssimos, mereceu esse "felizes para sempre".
A "ovelha negra da família" virou a referência de um país. Lançou, por cima de toda uma nação, esse perfume que vira de ponta cabeça, que faz de gato e sapato. Rita, a gente sabe que você dispensaria os clichês, mas hoje nada está amarelo, azul e branco... e muito menos com cor de rosa choque.
Tu, com esse tal de Roque Enrow, fez a gente ter mania de você. E agora, Rita? O que será de nós? Nessa vida, que mais parece uma balada do louco, agora só falta você. E como falta!
Sabe o que é mais maluco? Você escreveu sobre o dia de sua morte e acertou em cada detalhe. Hoje, todas as rádios tocam a tua música, os telejornais contam a tua história e revistas te ilustram na capa — nisso você errou, Rita Lee jamais apareceria somente em uma notinha no obituário.
Esperamos que tu estejas aí, tocando autoharp e cantando para Deus: "Thank you Lord, finally sedated". Desculpa o auê, mas, por aqui, a gente segue na mesma... sedados e malucos. Em transe de saudade dessa tal de "ovelha negra" que iluminou o mundo inteiro.
O céu tá em festa e os anjos malucos fofocando: o silêncio acabou. A Rita tá de volta na área.