
O porto-riquenho Bad Bunny lançou sua tão aguardada participação no projeto da NPR Music, o Tiny Desk. Com uma vibe intimista, o cantor se acomodou em uma mesa simples ao lado de sua banda para apresentar cinco faixas de seu mais recente álbum, Debí Tirar Más Fotos.
O trabalho foi lançado em 5 de janeiro deste ano e já se tornou o maior sucesso de Bunny. Seguindo a proposta do disco - que nos dá uma aula sobre Porto Rico -, o cantor apresentou-se sentado em uma classe de aula e fugiu do óbvio. Com a setlist que trazia músicas nem tão famosas do trabalho, o artista mostrou, entre papos descontraídos com a plateia, que também está disposto a ensinar.
Entre uma música e outra, Benito Martínez Ocasio, nome verdadeiro do artista de reggaeton, entregou carisma e contou de onde surgiram algumas das ideias para suas composições.
Em teoria, Porto Rico não é um país - apesar de Bad Bunny frequentemente apresentar o local dessa forma. O arquipélago caribenho foi colonizado por espanhóis e hoje é de posse dos EUA, ainda que tenha pouca identificação com o país. Apesar disso, DtMF apresenta o amor do cantor e do povo de Porto Rico e seu sentimento de pertencimento a sua pátria, mesmo que ela, no papel, pertença ao Estado Norte Americano.
No Tiny Desk não poderia ser diferente, Benito segue firme e adiciona mais um capítulo ao seu objetivo de celebrar as raízes de sua terra natal, expondo através da narrativa construída pelas músicas a importância do local em sua construção musical.
Embora o formato tradicional do projeto traga vídeos de 16 a 24 minutos, Bad Bunny estendeu sua performance para quase 34 minutos – que se diga de passagem, não vemos passar -. Com duas bandeiras de Porto Rico expostas, o show iniciou ao som de “PIToRRO DE COCO”, seguida por “VOY A LLeVARTE PA PR”, que foram reinterpretadas a maneira acústica e leve. O artista também apresentou uma versão mais calma de “KLOuFRENS”.
O interlúdio ficou por conta das histórias de Benito, em “LO QUE LE PASÓ A HAWAii”, o cantor contou como a inspiração para a letra surgiu: um sonho que teve e que o levou a acordar no meio da noite para escrever a canção. A música toca em questões como colonização e gentrificação em Porto Rico (quem nunca sonhou algo assim?).
Em seguida Bunny “LA MuDANZA” veio acompanhada de outra história, uma anedota sobre um ensaio realizado em frente à Casa Branca. Durante esse ensaio do cantor, um segurança interrompeu a conversa da banda sobre o status colonial de Porto Rico e as complexas relações com os EUA.
Finalizando com estilo, Bad Bunny apresentou um trecho do sucesso que carrega o nome do álbum, “DtMF”, dando um gostinho do topo das paradas e provando que não precisa revisitar antigos sucessos para criar um show inesquecível.
Sobre DtMF
Cantado inteiramente em espanhol, com gírias de Porto Rico, o álbum apresenta ritmos que vão de gêneros típicos do arquipélago e assuntos comuns a todos nós: amor, saudade e família. Com detalhes da rotina de Benito e tantos outros porto-riquenhos, o álbum está carregado de sentimentos em fotos, objetos e sons.
Os instrumentistas e coral são todos naturais do arquipélago, o que é incomum para um artista do tamanho que Bad Bunny já era antes deste lançamento. "[Quando estava em Los Angeles] comecei a ouvir muitas músicas que me fizeram sentir perto de Porto Rico. Todas as participações do álbum, esses são artistas que eu ouvia quando estava longe. É especial, porque você começa a se sentir perto de sua família e de casa através da música. Esse era um dos propósitos desse projeto", disse ele em entrevista ao "New York Times"
Para aumentar ainda mais as referências e ensinamentos sobre a história do local, o cantor contou com a ajuda de Meléndez-Badillo, professor da Universidade de Wisconsin-Madison e natural de Porto Rico. Meléndez aconselhou o cantor na criação dos vídeos que acompanham as novas músicas e adicionam uma nova camada a aula de história por trás da obra.
Em entrevista ao jornal O Globo, o professor afirma que "o projeto foca em pessoas marginalizadas, Benito estava muito interessado, por exemplo, em destacar a história de vigilância e repressão em Porto Rico”, contou.
A parte visual de DtMF conta com vários curtas-metragens que ilustram os problemas de sua terra natal, como as faltas de energia, o sistema tributário que favorece estrangeiros e o deslocamento, tanto físico quanto cultural. Entendendo o quão pouco a história de Porto Rico é ensinada nas escolas públicas, Bad Bunny traz uma aula através de seus vídeos, que contam com “slides” produzidos pelo professor universitário.
Com o lançamento do álbum, o cantor de reggaeton continua a liderar a lista dos artistas mais ouvidos no mundo, segundo a Billboard, com última atualização entre os dias 28 de março e 3 de abril.