Todo fim de ano tem seu ritual: retrospectivas, listas, rankings e, claro, as palavras que buscam representar o ano. Em 2025, não é exagero dizer que os dicionários acabaram oferecendo um retrato emocional da internet (e talvez de nós mesmos).
Palavra do ano de Cambridge
O Cambridge Dictionary abriu a temporada proclamando “parassocial” como palavra do ano. O termo, antes restrito a artigos acadêmicos e discussões de psicologia, virou popular nos últimos meses.
A ascensão foi impulsionada por dois fenômenos simultâneos:
- Assistentes virtuais customizados, capazes de assumir personas, sotaques e até estilos afetivos;
- Celebridades e influenciadores, cada vez mais íntimos (ou performando intimidade) com milhões de seguidores nas redes.
Em definição, "Parassocial" descreve a conexão emocional unilateral que uma pessoa sente por figuras distantes como celebridades, influenciadores, personagens fictícios ou até IAs, sem que haja reciprocidade real.
A fagulha definitiva veio em agosto, quando o noivado de Taylor Swift e Travis Kelce fez explodir as buscas por “parassocial”. O planeta estava tentando entender por que tantos fãs reagiam ao anúncio como se fosse a prima anunciando casamento no grupo da família.
O Cambridge, percebendo o tsunami, correu para atualizar a definição: agora inclui relações com inteligências artificiais. Em outras palavras, 2025 é o ano em que bots entraram oficialmente para as nossas rotinas.
Palavra do ano de Oxford
Do outro lado, o Oxford University Press seguiu outro caminho e escolheu “rage bait”, a isca de raiva, como seu termo do ano. Não tem nada de romântico aqui, é sobre conteúdos feitos para irritar você e todo mundo, porque indignação rende comentários, e comentários rendem engajamento, e engajamento gera dinheiro.
O uso do termo triplicou no ano, acompanhado de uma percepção incômoda: as plataformas deixaram de competir por atenção e passaram a disputar reações emocionais. Quanto mais engajado, com publico gostando ou não, melhor.
É sintomático que a Oxford tenha escolhido uma expressão que reconhece a mecânica da manipulação emocional online. Depois de anos culpando o “vício em rolagem infinita”, agora o debate é sobre como conteúdos que nos deixam furiosos estão dominando o feed e o humor do coletivo.
Um trio de termos
O mais curioso é como as escolhas dos dicionários dialogam entre si:
- Parassocial mostra como buscamos vínculos, mesmo que unilaterais ou imaginários;
- Rage bait fala sobre como somos manipulados pelas emoções, sobretudo as negativas;
- Vibe coding, escolhido pelo dicionário Collins, fecha o triângulo, criar aplicativos pedindo para uma IA “captar a vibe” é quase uma metáfora da relação humana com a tecnologia.
Se 2024 já havia trazido “brain rot” como alerta sobre o cansaço mental das redes, 2025 parece completar um ciclo, tudo gira em torno de como lidamos com a tecnologia.

