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Economia da Atenção: quando o tempo vira produto e a distração é estratégia

Vivemos na era da timeline infinita, onde o conteúdo não para e nossa atenção virou moeda

11/07/2025 - 12h30min

Laura Copelli
Laura Copelli
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Bem-vindo à era do engajamento

A internet já foi um lugar de descoberta, conexão e curiosidade. Mas hoje, cada notificação, like ou vídeo recomendado carrega algo a mais: a tentativa de prender a sua atenção. E isso não é por acaso. É parte de um sistema que já tem até nome: Economia da Atenção.

O termo, criado pelo economista e psicólogo Herbert A. Simon (sim, o mesmo que lá nos anos 1970 já falava de Inteligência Artificial), parte de uma ideia simples e poderosa: em um mundo onde sobra informação, o que falta é atenção. E onde há escassez, há valor, ou seja, sua atenção vale ouro.

Como funciona a Economia da Atenção?

A lógica é parecida com a de um mercado qualquer. Só que, em vez de vender sapatos ou comida, as plataformas disputam segundos da sua concentração. E fazem isso usando um arsenal de estratégias:

  • Algoritmos que entendem seu comportamento;
  • Notificações que surgem na hora certa (ou errada, dependendo do ponto de vista);
  • Feeds infinitos, vídeos curtos, autoplay, gamificação;
  • Design emocional: cores, sons, vibrações, tudo pensado pra ativar um vício sutil, mas poderoso.

A ideia é que você nunca saia desse redemoinho de informações. E se sair, que volte logo.

Redes sociais, fadiga digital e o looping do engajamento

Por aqui já falamos sobre Fadiga Social, e esse termo se conecta muito bem aqui. A busca constante por visibilidade, curtidas e relevância gera um ciclo de comparação, esgotamento e ansiedade. 

O “FOMO” (Fear of Missing Out), o medo de estar perdendo algo, alimenta esse comportamento: checar o celular compulsivamente, atualizar o feed a cada minuto, viver com a sensação de que nunca é suficiente. E tudo isso porque, do outro lado da tela, alguém está lucrando com seu clique.

Mais conteúdo, menos atenção

Com tanta oferta de estímulo, nosso cérebro começou a operar em modo fragmentado. A gente pula de vídeo em vídeo, post em post, sem aprofundar em nada. A atenção ficou volátil. E aí voltamos a Herbert Simon: “uma riqueza de informações cria uma pobreza de atenção”.

O custo disso? Decisões mais impulsivas, menos foco, dificuldade de manter uma leitura ou uma conversa sem se distrair. E claro, o impacto direto na saúde mental: estresse, ansiedade, sensação de sobrecarga e até sintomas semelhantes aos do burnout.

Plataformas que vivem da sua permanência

Não é exagero dizer que TikTok, Instagram e YouTube Shorts são os expoentes máximos da Economia da Atenção. Os números falam por si:

  • No TikTok, os usuários passam em média 52 minutos por dia na plataforma.
  • YouTube Shorts: mais de 50 bilhões de visualizações por dia (dados de 2023).
  • O algoritmo do Instagram: otimizado para entregar conteúdo viciante, baseado em microinterações.

Nada disso é neutro. Esses ambientes são pensados para serem sedutores e viciantes. Cada segundo seu na tela gera dados, engajamento e lucro. 

Tem como escapar desse fluxo contínuo?

Algumas iniciativas tentam desacelerar esse jogo. O Google, por exemplo, lançou o Digital Wellbeing, um painel para monitorar o tempo de tela e limitar distrações. Apple e Samsung também têm ferramentas semelhantes. Mas nada disso faz efeito se você mesmo, o usuário, entender esses efeitos e controlar seu tempo diante desses estímulos, afinal, essas marcas também lucram com isso.

Exigir mais transparência das plataformas, regular o tempo online, entender que nem todo conteúdo precisa ser consumido está nas suas mãos, tudo isso é parte de uma higiene digital necessária.

Atenção é poder

A Economia da Atenção mostra que, mais do que nunca, quem controla sua atenção, controla o seu tempo, seu foco e, em certa medida, sua vida. Saber disso já é um passo importante. O próximo? Escolher, com mais consciência, onde vale a pena depositar esse recurso tão precioso.


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