É impossível falar de cultura brasileira sem mencionar o funk. Nascido nas periferias do Rio de Janeiro, o gênero cresceu sendo criminalizado, subestimado e censurado. Mesmo assim, sobreviveu, se espalhou e se reinventou, e hoje pulsa em fones de ouvido, festivais, playlists pop e palcos internacionais.
O funk brasileiro é, acima de tudo, resistência: sonora, social e política. A cada nova geração, um novo jeito de fazer e sentir.
O começo de tudo: como o funk chegou ao Brasil
A história do funk começa fora do Brasil. Nos anos 1970 e 80, sons como o soul, o disco e o funk norte-americano (de James Brown a George Clinton) começaram a circular nas festas black do Rio. Com a explosão do Miami Bass nos EUA, um estilo eletrônico, dançante e cheio de batidas graves, DJs brasileiros passaram a tocar esses sons nos bailes da Zona Norte e Zona Oeste carioca.
É aí que entra DJ Marlboro, figura essencial na criação da identidade do funk carioca. Ele começou a remixar músicas internacionais com batidas próprias e letras em português, adaptando o som às realidades e gírias da favela. Assim nascia um estilo totalmente novo, feito por e para quem vivia nas bordas da cidade.
Funk carioca
Nos anos 1990, o funk assumiu de vez o papel de porta-voz das quebradas cariocas. Era som direto, sem filtro, sobre o que se vivia nas vielas: repressão policial, amor, sensualidade, violência, desejo de ascensão social.
Foi nessa fase que surgiram os "proibidões", letras explícitas, que narravam o cotidiano do tráfico, dos bailes e da relação com a polícia. Embora controversos, esses funks não eram apenas “apologia”: eram crônicas reais de um Brasil invisível pra muita gente.
Funk das antigas
Essa é a fase que mora no coração de muita gente. O funk melody, mais romântico e suave, também começou a se destacar no final dos anos 90 e início dos 2000. Músicas de amor embaladas por batidas dançantes fizeram o gênero conquistar ainda mais espaço e corações.
Alguns hits dessa época que você deve lembrar são: Glamurosa – MC Marcinho; Princesa – MC Leozinho, Nosso Sonho – Claudinho e Buchecha, Cerol na Mão – Bonde do Tigrão e Tapinha Não Dói – MC Naldinho e Beth.
Funk ostentação chega em SP
Na década de 2010, a cena de São Paulo trouxe uma revolução estética e sonora com o funk ostentação. Em vez de narrar dificuldades, os MCs cantavam sobre conquistas, luxo e poder, uma forma de mostrar que essas classes também podem vencer.
Era a periferia respondendo ao preconceito com autoestima, requebrado e carrões. Os videoclipes ficaram mais profissionais, os beats mais limpos, e o funk passou a frequentar as paradas de sucesso.
Grandes nomes dessa fase são MC Guimê, MC Rodolfinho, MC Lon, MC Dede, MC Kevinho, e por ai vai.
150 BPM, funk rave e mandelão
Mais recentemente, o funk acelerou, literalmente. O funk 150 BPM (que significa batidas por minuto), com som mais rápido e repetitivo, virou febre nos bailes do RJ e influenciou toda a cena nacional. Misturado com o eletrônico, deu origem ao funk rave: um som hipnótico, cheio de drops e viradas que parecem feitas sob medida pra dançar até o chão.
Enquanto isso, o mandelão, típico de São Paulo, trouxe uma vibe mais grave e suja, com batidas mais espaçadas e letras repetitivas, ideal para paredões e festas de rua.
O retorno da crítica social
Nem só de festa vive o funk. Nos últimos anos, o gênero voltou a abraçar seu lado consciente, com MCs que rimam sobre desigualdade, racismo, fé, política e vivências reais.
Com letras densas e beats ora melódicos, ora pesados, o funk consciente é trilha de quem quer ouvir, pensar e sentir.
Funk + Pop: Anitta, Ludmilla e a dominação global
Quando Anitta subiu o morro de Honório Gurgel para o mundo, o funk foi junto. Ela transformou o batidão em pop global com Show das Poderosas, e depois lançou o mundo inteiro na onda com Vai Malandra, Envolver e colaborações internacionais.
Ludmilla também pavimentou o caminho, mostrando que o funk pode ser R&B, samba e até pagode. Seu projeto Numanice é um sucesso, mas é com faixas como Verdinha e Rainha da Favela que ela honra suas origens.
Funk pelo Brasil
Embora Rio e São Paulo sejam os grandes polos do funk, o gênero já tem ramificações no país inteiro. Em BH, surgiu o funk mineiro, com batidas únicas e vocais melódicos. No Sul, DJs e MCs colocam o estilo em festas universitárias e festivais com os megafunks. No Norte e Nordeste, o som se mistura ao brega funk e ao piseiro.
Seja qual for sua vibe, nostalgia das antigas, batidão da rave, crítica social ou funk melody romântico, tem um funk pra você. E ele não vai sair do seu ouvido tão cedo.