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Blow Records: o funk nostálgico do quarto de um estudante para os virais do TikTok

Com batida anos 80, letras explícitas e inteligência artificial na jogada, o selo Blow Records está fazendo o funk brasileiro ganhar uma nova vida entre saxofones, nostalgia e milhões de views

09/07/2025 - 17h14min

Atualizada em: 09/07/2025 - 17h34min

Laura Copelli
Laura Copelli
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Imagine Marvin Gaye cantando “Popotão Grandão”. Ou um slow jazz sensual embalando a frase “ela ficou safadona”. Agora pare de imaginar, porque isso já existe. E tem nome: Blow Records

O selo viral criado pelo estudante paulista Raul Vinicius, de 22 anos, está dominando o TikTok, o Spotify, os charts do Brasil e e já ganhou até perfis fakes, com remixes de funk explícito embalados por batidas retrô geradas por inteligência artificial. A receita? Um pé no soul dos anos 70, outro no deboche da geração Z, e claro, muito talento digital no meio.

Funk vintage com IA

O fenômeno começou “na zoeira”, como o próprio Raul contou em entrevista à Exame e ao G1. A ideia era brincar com remixes de trap usando ferramentas de IA, mas tudo mudou quando ele resolveu testar a fórmula no funk putaria. Deu certo. Muito certo. E hoje, faixas como “Chupa Xoxota (1980)”, “Só Quer Vrau (1982)” e “Predador de Perereca (1982)” somam milhões de reproduções, não só pelo humor, mas pela qualidade sonora.

Com referências claras a Tim Maia, Cassiano, James Brown e Marvin Gaye, as músicas seguem as letras originais (sem filtro algum), mas com arranjos que poderiam facilmente tocar numa festa disco dos anos 70. É esse contraste que gera a graça e, ao mesmo tempo, um tipo novo de estética musical que combina inteligência artificial com bom gosto e muito caos criativo.

Um EP inteiro de sacanagem com som nostálgico

A estética vintage ganhou ainda mais força com o EP "Blow Apresenta: Um Passado Inexistente Vol.1", lançado em parceria com MC MM. São seis faixas que reinventam os sucessos do funkeiro, incluindo “Louco de Selvagem”, que agora soa como um jazz dos anos 50 com solo de sax, e “Adestrador de Cadela (1960)”, revivendo o que um dia já foi topo das paradas.

E não para por aí. Clipes curtos e ultra-realistas com os próprios artistas em figurinos da época são criados com ferramentas como Midjourney, Veo 3 e Freepik, que ajudam a dar vida a esse “funk retrô de mentira”. E fazem sucesso: só no TikTok, o perfil da Blow tem mais de 5,6 milhões de curtidas e seus vídeos já foram usados em mais de 60 mil criações de outros usuários.

“É só eu e o robô”

Apesar da produção depender de IA, não tem nada de automático nisso. Segundo Raul, cada faixa leva entre uma e quatro horas pra ficar pronta, e os vídeos cerca de trinta minutos. O estudante, que ainda mora com os pais, investe mais de mil reais por mês em ferramentas e diz que não vê grande retorno financeiro por enquanto, mas reconhece que o impacto cultural do projeto está bem acima do que imaginava.

“É só eu e o robô”, brinca ele, que ainda divide os lucros com os artistas originais e garante os devidos créditos antes de subir os remixes nas plataformas. No Instagram, é seguido por nomes como Kevin O Chris, Matuê e Mano Brown, e já recebeu o apoio público de Pocah, que viu sua “Casa dos Machos” bombar nas redes depois da versão vintage feita pela Blow.

Do meme ao movimento?

Mesmo sem monetização total ou parcerias comerciais, a Blow Records já se tornou um caso de estudo sobre o futuro da música na era da IA. A mistura entre tecnologia, bom humor e respeito à cultura original cria um novo tipo de remix: um que diverte sem roubar, homenageia sem copiar e, acima de tudo, faz dançar.

Raul não revela os softwares que usa para montar as faixas (“é a cereja do bolo”, disse), mas afirma que não quer parar tão cedo. Além da Blow, ele também tem uma marca de roupas chamada PNGOAT e pretende seguir experimentando o que der na telha. “Ainda nem contei pra minha mãe o tamanho do projeto”, disse à Exame, rindo. 

Reprodução
Capa de "Roça Roça (1983)" de MC Brinquedo



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