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Fama precoce, tretas online e saúde mental: o que está por trás da superexposição dos jovens na internet

Brigas entre influenciadoras adolescentes reacendem o debate sobre os limites e os impactos da exposição na internet 

16/05/2025 - 14h13min

Atualizada em: 16/05/2025 - 14h24min

Atlântida
Reprodução

Se você passou algum tempo nas redes sociais nos últimos dias, provavelmente esbarrou em vídeos e comentários sobre uma treta entre influenciadoras adolescentes que estourou depois de uma viagem a Gramado. Nomes como Duda Guerra, Antonela Braga, Júlia Pimentel e Liz Macedo estiveram no centro da polêmica — que abordou desentendimentos, ciúmes e até o fim do namoro de Duda com Benício Huck, filho dos apresentadores Luciano Huck e Angélica.

A briga entre as influenciadoras escancarou que qualquer crise pessoal vira entretenimento na internet. O que antes poderia ser resolvido entre amigas, virou um conteúdo público, com torcida, julgamento e milhares de comentários, onde o unfollow virou sinal de guerra. 

Mas por trás de todo o buzz, uma questão mais profunda vem á tona: como estamos permitindo que a adolescência vire conteúdo?

A adolescência está sob holofotes digitais

Segundo a pesquisa TIC Kids Online Brasil 2024, 93% das crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos usam a internet regularmente, e 83% possuem perfil em ao menos uma rede social. Muitos deles não estão só consumindo conteúdo online, mas também produzindo, cultivando seguidores, e transforando a própria imagem em ativa digital.

Nesse ambiente, a privacidade se dilui. Momentos íntimos, inseguranças e crises são compartilhadas como parte de uma rotina virtual. O grande problema é que essa lógica foi criada para adultos e está sendo aplicada a cérebros ainda em formação.

Likes, views e ansiedade

Não é difícil entender os efeitos disso. A exposição constante reforça ainda mais a busca dos jovens por validação, afeta sua autoestima e dificulta o próprio desenvolvimento emocional. Segundo a UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), o uso excessivo e passivo das redes sociais está associado a sentimentos de inveja, inadequação e menor satisfação com a vida, e estudos sugerem que isso pode contribuir para sintomas de depressão, ansiedade e distúrbios do sono.

Além disso, 6 em cada 10 adolescentes brasileiros já relataram experiências negativas online, como cyberbullying, exclusão ou críticas públicas.

É justamente esse assunto que a série documental Adolescência, da Netflix, se propõe a explorar. Ela aborda o tema do cyberbullying e suas consequências ao mostrar como a exposição a conteúdos misóginos e a experiência de bullying online podem levar um adolescente a atos violentos. A trama acompanha Jamie Miller, um jovem de 13 anos acusado de assassinar uma colega de escola, e conta os fatores que o levaram a esse ato.

Ser famoso aos 15 anos pode trazer alguma consequência?

Crianças e adolescentes que viram “figuras públicas” ainda muito cedo acabam enfrentando dilemas que nem sempre estão prontos para administrar. Psicólogos infantis enfatizam que a fama em idades tão jovens pode afetar o desenvolvimento emocional e cognitivo. São crianças lidando com expectativas de adultos, sem repertório suficiente para compreender ou administrar essas pressões.

Não se trata apenas de responsabilidade individual. Muitas vezes, há adultos — pais, empresários, marcas — incentivando a presença constante dos filhos na internet. Em alguns casos, o conteúdo se torna fonte de renda da família, o que aumenta ainda mais a carga emocional sobre os jovens.

Onde está o limite?

A discussão sobre superexposição infantojuvenil nas redes sociais ainda esbarra em uma zona cinzenta legal e ética. No Brasil, não há uma regulamentação específica para a atuação de crianças como influenciadoras. 

Plataformas como TikTok e Instagram têm implementado políticas para limitar certos conteúdos e interações em perfis de menores de idade, mas especialistas apontam que a efetividade dessas medidas ainda é baixa, e que os próprios algoritmos incentivam a performance e a viralização de conteúdos sensacionalistas.

E o que a gente faz com tudo isso?

É inevitável que os jovens estejam nas redes. As conexões digitais fazem parte do mundo que eles habitam. Mas é preciso refletir sobre como essa presença está sendo construída — e a que custo.

Crescer online não deveria significar abrir mão da privacidade, da segurança ou da espontaneidade. A adolescência é, por definição, um período de experimentação, erro e autodescoberta. Transformar tudo isso em conteúdo público pode roubar desses jovens algo fundamental: o direito de viver sua idade sem filtros, curtidas ou cancelamentos.



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