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O cara não gostava que a mulher usasse short curto no verão. Era sempre a mesma lambança quando rompia janeiro. Discussões pesadas, firmes. Ela acatou nos primeiros 3 verões. Mas depois chutou o balde. Mandou ele se catar e começou a usar. Ele embeiçava e continuava implorando para ela parar. Ela sabia o porquê: ele tinha medo do que os outros iriam pensar dele. Um egoísta.

Sim: a maior preocupação do cara era ele mesmo. Se a vissem com um short de jeans com as nádegas quase aparecendo iriam falar que ele não tinha pulso. Ele até esquecia  daquele preconceito que mulher de shortinho é mulher fácil, que quer se mostrar e tal. Não era ciúmes o problema dele. Ele estava preocupado com o que falariam dele na praia quando a moça usasse o short.

Mas um dia ela doou os shorts. Distribuição entre as amigas tamanho 40. Todas elas felizes com as unidades e o cara leve, tranquilo e sereno. Seria o primeiro verão sem a discussão, sem os caras analisando a mulher e pensando que ele era frouxo, corno e esses pensamentos atrasados que partes da sociedade têm. Seria o verão mais sensacional da vida dele. Ele seria o maridão dono do pedaço, da mulher, da situação. Acabava a era dos shorts curtinhos da mulher.

Engano. A moça não jogou somente os shorts fora. Ela o presenteou com o final da relação. Falou para ele que o amor havia acabado, que discussões bobas minaram com tudo e que a melhor vida para os dois seria a separada. O verão virou inverno para o cara. Tristeza absoluta, lamentos, arrependimentos e tentativas de volta. Ela já havia decidido pelo fim e quando uma mulher chega nessa conclusão, não há volta. É o fim.

Naquele verão ele via meninas com shortinhos e lembrava dela. E foi assim toda a estação e com pedaços de outono o assombrando. Mas o tempo passou, a vida andou e em janeiro do outro ano, enquanto sorvia um sorvete de pistache numa mesa de plástico no litoral, ele a viu. Tremeu-se todo quando enxergou o sorriso no rosto dela. Mais magra, agora manequim 38, cabelo com um corte mais moderno, linda. Só que junto dela um outro cara. Também sorrindo, de bem com a vida. Trinta e poucos anos, mais alto que ela, costas largas e olhos claros. Um cara bonito ele pensou no meio de tudo que passava no cérebro.

Ela não o viu e passou, de novo, pela sua vida. Livre, linda, com outro cara e de shortinho. Bem curtinho. Ele quase chorou.

Potter