Depois do livro e da série de televisão The Handmaid’s Tale, outros nomes com o mesmo tema começaram a aparecer na literatura e na televisão, distopias trazendo muita voz no mundo de minorias ou trazendo muita preocupação com o cenário de meio ambiente e da destruição e recriação do mundo.

Dessa vez trouxemos 2 livros semelhantes a The Handmaid’s Tale; na verdade, trouxemos dois opostos, mas isso vocês já vão entender

VOX – Christina Dalcher 

Handmaid's Tale

E se você só pudesse falar 100 palavras por dia, o que diria?

Com um novo governo, surge novas ideias, novas leis. A religião está em tudo: na política, nas escolas, nos Estados Unidos inteiro. Eles vão devagarinho, sem pressa,  implementam livros e ideias de que o homem é a imagem de Deus e que a mulher é a imagem do homem. Devagar, falam que a imagem da boa mulher é ficar em casa, cuidando dos filhos, falam que as mulheres protestantes são loucas e que não devem ser ouvidas. Começam a colocar todo o poder nas mãos do homem e não encontramos mais mulheres no governo até que então, surpresa: mulheres perdem a voz.

Mulheres não podem ter qualquer outra função que não seja cuidar dos filhos e do marido. Elas não podem mais trabalhar, nem se divorciar , nem cometer adultério, muito menos aborto; suas palavras são limitadas: 100 palavras por dia. Passou disso, e um bracelete que controla a contagem delas solta choque no corpo delas a cada palavra de acréscimo.

Handmaid's Tale

Agora, isso não é limitado de forma alguma; nasceu menina? 3 meses ou mais e ela ganha uma linda pulseirinha pra vida inteira, tem até cores diferentes pra você escolher, imagina só !

Imagina também sua filha ter um pesadelo e começar a chamar pela mãe, sendo que ainda são 11 horas da noite e suas palavras estão se esgotando. Imagina tu ter que silenciá-la primeiro antes de acalmá-la porque se não sua filha corre o risco de levar um choque.

Imagina não poder acalmá-la porque utilizou todas as 100 palavras do dia e precisa ficar calada enquanto ela chora?

Você percebe a falta que faz a fala quando você passa a ser limitado por isso.

Angústia. Enquanto eu lia era isso que eu sentia, me sentia insegura, exasperada e desesperada pra falar com alguém simplesmente porque eu podia. A autora fez questão de deixar muito aberto os sentimentos das personagens ali e ela fez um ótimo trabalho. Senti o mesmo desespero e medo que sinto ao ler um livro de suspense; a realidade da história é tão impactante que ficamos nos perguntando o quão longe realmente Vox está.

Além disso tudo a autora traz também assuntos relevantes como a importância do voto e a importância da manifestação contra aquilo que não concordamos.

Tento me convencer de que não é minha culpa. Eu não votei no Myers. Na verdade, eu não fui votar.

Uma coisa que aprendi com Jackie: você não pode protestar contra o que não vê se aproximar

A personagem principal, Jean, é (era) uma Doutora em neurolinguística, e dentro de casa percebe a decepção ao constatar que seus filhos estão crescendo com a mesmo ideia do governo. Quando ela recebe uma oportunidade de receber sua voz e seu trabalho de volta, ela vê como uma oportunidade para fazer tudo aquilo que não fez quando era necessário: levantar sua voz.

– Quer saber, amor? Acho que era melhor quando você não falava.

-Há uma resistência? O mundo parece doce quando digo isso?. – Querida, sempre há uma resistência. Você não cursou faculdade?

Acho que uma adaptação seria muito bem-vinda não é mesmo? Seria um bom jeito da Netflix contra-atacar a Hulu, que chegou chegando e adaptou The Handmaid’s Tale para a TV.

O PODER – Naomi Alderman

Handmaid's Tale

Handmaid’s Tale e o Mundo matriarcal? O QUE?

As mulheres descobriram um novo poder no qual ninguém esperava. Elas tem o poder do choque, eletricidade corre em suas veias; elas descobriram um novo tipo de veia nas clavículas das mulheres que dão essa oportunidade e denominaram como trama. Agora são os homens que conhecerão o medo de saírem às ruas sozinhos.

A história se passa contando os fatos e intercalando entre 4 personagens : 3 mulheres e 1 homem; todos com histórias diferentes e que se entrelaçam de algum jeito.

O Poder não é tão diferente assim de Vox e The Handmaid’s Tale, a única coisa que realmente muda é que as mulheres, antes inferiorizadas, se tornaram donas do mundo inteiro.

Foi no mínimo interessante ver essa troca de lugares, ver o quanto as mulheres sentiam medo do própria corpo por medo desse poder no qual possuíam, e pessoas em volta do mundo inteiro tentando retrair essas mulheres. Elas demoraram um tempinho até perceber que esse poder era simplesmente uma nova parte do organismo delas que as faziam não somente se igualar ao homem, mas ultrapassar eles também.

Dessa vez quem perde a voz aqui é o homem. Em alguns países eles começam a necessitar de uma mulher pra tudo, desde viajar até ter que ir as compras num mercado. Eles precisam de autorização para poderem sair. E quando começam a acontecer estupros, assédios e todo tipo de diminuição, é quando eles sentem o impacto de que homens, pela primeira vez, estão em desvantagem no mundo.

Esse livro parece ser tão insano (mulher estuprando homem? como assim?) que é só quando pensamos em trocar de lugar que percebemos que essa história – sem a história do choque, obviamente – está contando a realidade das mulheres do mundo todo. É quando sentimos a diferença que existe na nossa sociedade e o quanto estamos cegos dentro disso.

A voz diz: se o mundo não precisasse ser sacudido, por que esse poder despertaria agora?

Não precisamos perguntar o que eles fariam se estivessem no controle. A gente já viu. É pior do que isso.

Handmaid's Tale