Super Drags é uma série produzida e exibida pela Netflix, criada por Paulo Lescaut, Anderson Mahanski e Fernando Mendonça.

A série é focada nos personagens Patrick (Sergio Cantu), Donizete (Fernando Mendonça) e Ralph (Wagner Follare), funcionários de uma loja de departamentos que, quando necessário, são convocados por Vedete Champagne, uma espécie de chefe de operações e se transformam, respectivamente, nas heroínas Lemon Chifon, Scarlet Carmesin e Safira Cya, para combater qualquer ameaça que venha a surgir e que vise prejudicar a comunidade LGBT+.

Super Drags

A fórmula “desenho animado + conteúdo adulto” não é novidade no mercado: Family Guy e as próprias produções originais da plataforma de streaming como Bojack Horseman e Big Mouth já provaram da mesma fonte, mas ainda sim pode se dizer que Super Drags é a aposta mais ousada do sistema.

Digo ousada pois, por um lado, a série aborda temas vistos como impróprios para uma grande parcela do público. Por outro lado, no entanto, qualquer produtor de televisão seria capaz de reconhecer o potencial inexplorado que Super Drags consegue capitalizar com tanta eficiência.

Essencialmente, o que temos é uma paródia de “Power Rangers, e de séries como “As Meninas Super Poderosas” e “Três Espiãs Demais”, repleta de elementos característicos da cultura desenvolvida pela comunidade LGBT+.

A apresentação do trio principal e de mais alguns personagens centrais do enredo é feita de forma simples, sem muitas explicações para a origem das super-heroínas ou da aceitação delas pela população. Num primeiro momento isso não tem um impacto negativo, porque o público espera melhores contextos para a existência dessa realidade, mas esse contexto simplesmente não vem. O Universo é dado como pronto, com todas aquelas características slapstick (humor pastelão) que, nesse caso, encaixam com o humor ácido e são permeados por algumas piadas realmente engraçadas, pelo pajubá (dialeto proveniente de línguas africanas, utilizado pela comunidade LGBT+) e referências de memes.

ALERTA SPOILER! Se você não quiser nenhuma informação a mais, pare de ler aqui!

A primeira falha da série aconteceu no primeiro episódio da animação, na cena protagonizada por Lemon: após um ônibus roubado cair de um penhasco, as Drag Queens salvam os passageiros. Incumbida de salvar o bandido, a heroína amarela, nota um “volume” na calça do criminoso e acaba passando a mão, propositalmente, sobre seu órgão genital. Uma cena de assédio sexual, que no mínimo, presta um desserviço para a comunidade LGBT+.

A animação tem bons traços e uma montagem que, ao menos nos três primeiros episódios, mantém bem o ritmo de humor, referências às mais diversas personalidades brasileiras (Seu Piru, a grávida de Taubaté, Ana Carolina, Hebe Camargo, Sangalo Schneider do reality show Glitter, personalidades do extremismo evangélico no Brasil e por aí vai).

O problema é que o roteiro não consegue tornar orgânico o ciclo de retornos ou contatos entre os personagens e acaba se tornando forçado.

Por exemplo, o chamado de Vedete para as drags, a frase “Dild-ooooo, introduza!” e a costura compreensível, mas mal trabalhada, que é a relação entre o show da Goldiva — cancelado por uma ação do Profeta Sandoval na prefeitura — e as magias ou planos de Lady Elza para sugar o Highlight, a energia vital dos personagens. Por mais que existam momentos genuinamente engraçados em todos esses pontos, os roteiros falham em deixar essa conexão fluída, sendo muitas vezes também cansativa.

Até os bons “Imagem é Tudo” e “A Cura Gay” sofrem desse tipo de problema, mas nada comparado aos dois últimos episódios da temporada, “Seja Quem Você É” e principalmente “Numa Só Voz“, definitivamente o pior capítulo da temporada, com um roteiro cansativo, diálogos preguiçosos, estranhamente expositivos (contrariando o que a série tinha entregue antes) e uma uma enrolação incompreensível para colocar Goldiva em ação. A temporada merecia um finale melhor.

A despeito de seus problemas, porém, Super Drags é uma série que expõe os muitos tipos de pessoas, gírias e problemas que a comunidade LGBT+ conhece aqui no Brasil. Há espaço para todos os tipos de pessoas, opções sexuais, gênero e por aí vai…

A Netflix ainda não confirmou a 2° temporada da série, mas se houver uma continuação, espero que, com mais episódios, os roteiristas consigam construir melhor as ameaças e as personagens. Mesmo com sua estreia medíocre, Super Drags tem potencial e, se sua produção e roteiro forem mais criativos e competentes, a 2° parte pode ser um “babado“!