Iniciei minha carreira como chargista em um antigo jornal aqui do RS. Desenhava todos os dias e sempre pensei que fazia críticas importantes para o mundo por meio da minha criação. E por um lado, realmente fazia. Mas comecei a perceber algo em meus desenhos que era recorrente.

Sempre que eu precisava desenhar um personagem genérico, que não era uma pessoa específica, ele era homem, branco e magro.

Nunca me ocorreu fazer diferente. Nunca pensei sobre isso. Simplesmente este personagem aparecia na ponta do meu lápis…

Desenhava mulheres apenas quando o contexto exigia. E o mais louco é que as mulheres são 51,6% da população brasileira. Negros igualmente apareciam se precisassem, mesmo que representem 54% dos brasileiros. E gordinhos? Pois é, 48,5% da população está acima do peso.

Me apavorei com isso. Me achei preconceituoso pra caramba! Mas para tirar a dúvida, resolvi, um belo dia, fazer um teste. Pedi para um grupo de alunos das aulas de criação desenharem um herói. Só isso. Não dei explicação nenhuma. E o resultado me tirou um peso das costas. Mas ao mesmo tempo me fez perceber a importância do trabalho de quem cria.

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Praticamente toda a turma desenhou heróis masculinos. Mesmo as meninas. Não apareceu nenhum herói negro mesmo entre os negros da sala. Todos os heróis eram fortes e musculosos. Nada de espaço para gordinhos (Ué! Um gordinho não pode salvar o mundo?!?).

Isso me fez perceber a importância do papel de quem cria e do resultado da ciaçãopois o senso comum é baseado nas histórias que vemos, lemos e ouvimos. Comecei a perceber a importância de quem faz estas coisas. E não estou falando que se deve pensar em cotas. É muito mais do  que isto.

Trata-se de questionar a realidade que estamos mostrando.

Será que o teu personagem precisa ser sempre igual ao senso comum? Mesmo que este senso comum não seja real?

Vale a reflexão.