Ontem escrevi um post elencando as 5 coisas que mais me incomodaram no filme Batman vs. Superman. Foi difícil resumir em apenas 5, já que o filme como um todo é bastante ruim, na minha opinião. (Não só para um filme de super-heróis da DC, mas como uma obra cinematográfica em geral).

Claro, o filme não é 100% desprezível. Algumas coisas funcionam no filme, e trazem uma ponta de esperança no que pode vir por aí no universo cinematográfico da DC Comics.

A partir daqui é provavelmente spoiler em cima de spoiler. Cuidado! Se você ainda não viu o filme pode ser que eu entregue algumas várias coisas importantes da história aqui

 

Vamos lá, 5 coisas muito legais em Batman vs. Superman:

1. Batman

Ben Affleck funciona bem demais como Batman. E mais, funciona como Bruce Wayne. Não é só a questão física (apesar disso ajudar bastante: Affleck, com 1,93m é o Batman mais alto da história, e malhou o suficiente para chegar no físico do personagem; isso sem falar que ele tem o queixo de um Batman) mas também a questão de personalidade. Affleck nos faz crer que ele está quase se divertindo sendo o Batman. E Bruce Wayne se diverte o suficiente para quase ser um James Bond dentro do filme. Um aventureiro, mulherengo, com tecnologia, ternos bonitos, uma queda pela espionagem, pela violência e pela justiça. Batman sendo o Batman.

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Um filme solo do Batman com Ben Affleck é algo que estou aguardando ansiosamente a partir de agora.

Especialmente se ele for roteirizado pelo Chris Terrio. Terrio, o roteirista premiado com um Oscar pelo roteiro de Argo, é supostamente a pessoa chamada por Affleck para roteirizar o filme solo ainda sem nome e ainda sem data de estreia do Batman.

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Isso sem falar nas cenas de ação. Se tem algo que Zack Snyder sabe fazer (talvez a única coisa que ele sabe fazer) são cenas extremamente bem filmadas e coreografadas de ação desenfreada. As cenas com Batman lutando estão entre as melhores cenas de ação de super-heróis que eu já vi.

Se tivermos o charme de Ben Affleck interpretando Bruce Wayne + um roteiro decente + as cenas de ação que foram feitas em Batman vs. Superman teremos um filme muito foda do morcego. Simples.

 

2. Mulher-Maravilha

Incrivelmente num filme sem substância entre os personagens e sem motivações coesas a personagem mais sem motivação de todo o filme se destacou. Diana Prince (a Mulher Maravilha) é apresentada quase como uma Bond Girl (quero dizer, de maneira coadjuvante, meio desrespeitosa e sem nenhuma nuance), mas ela consegue se destacar. Talvez seja a capacidade de Gal Gadot de emprestar um pouco de graça à personagem.

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Em poucas cenas ela consegue nos deixar um pouco curiosos para saber como será a história de seu próprio filme. Todo o mistério da personagem é positivo nesse caso, porque imagino que o filme dela será não só um filme de origem mas um filme de origem e queda. Ou origem e “tive que abandonar o mundo dos homens”. Ela ser misteriosa e um pouco desconectada (pelo menos até o final) em Batman vs. Superman é um caso de “precisamos de mais peças neste quebra-cabeça”. (O filme inteiro é baseado nesse caso, por sinal. Só que em 90% das vezes não funciona, porque o filme é tão confuso que nada faz sentido em nenhum momento).

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Acho que o filme solo da Mulher-Maravilha tem tudo para ser uma versão da DC de Capitão América – O Primeiro Vingador. Um filme de origem que tem a chance de estabelecer as bases para um projeto maior da DC no cinema. A cronologia é importante, assim como o tom. Se “os homens não são bons” segundo tanto o Batman quanto o Superman talvez essa seja a chance de começar a entender quando isso começou.

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E bora combinar que a Mulher-Maravilha levando uma porrada do Doomsday e se levantando sorrindo foi uma cena bela demais. A Mulher-Maravilha é a maior guerreira da DC, é justo que ela aprecie uma boa batalha.

 

3. A cena inicial

Não me refiro àquela cena que mostra (mais uma vez) a morte dos pais de Bruce Wayne e a origem do Batman (“necessária” dentro do argumento confuso do filme por causa da palavra “Martha”),  mas sim à cena que mostra Bruce Wayne indo em direção a Metropolis durante os acontecimentos de Man of Steel.

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Isso foi demais.

Num golpe de narrativa que me lembrou muito o cruzamento de tempos nos filmes Ultimato Bourne e Supremacia Bourne o filme Batman vs. Superman surpreendeu positivamente, mostrando aquilo que queria fazer: uma história que misturava os universos de dois personagens pré-estabelecidos. Era a primeira vez que Batman e Superman dividiam o mesmo “espaço” no cinema. E isso serve para mostrar que eles habitam o mesmo universo. As ações do filme do Superman irão impactar diretamente nas ações, na motivação e no emocional de outro personagem, no caso o Morcego de Gotham.

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Foi massa demais ver Bruce Wayne correndo em direção aos prédios caindo. Isso mostrou um personagem que se importa com as pessoas. (Na verdade, Bruce Wayne se importa muito mais com as pessoas de Metropolis do que o próprio Superman. Acho que ele tentou salvar mais vidas do que o Superman, e isso é bizarro para a dinâmica dos personagens)

Aquela cena foi emblemática para mim. Agora eu espero que todos os filmes da DC tenham esse entrelaçamento narrativo. O filme do Aquaman precisa ter a cena em que ele combate a máquina de Zod no Oceano Índico. O filme do Flash precisa ter ele tentando salvar algumas vidas em Metropolis mas não chegando a tempo.

 

4. Knightmare

O filme tem duas cenas bizarras de sonho. Bizarras porque são inseridas de maneira tosca, sem nenhum tipo de liga. Mas elas são interessantes em si, legais até. (É meio bizarro que duas cenas de sonho sem nenhum tipo de coesão sejam legais, eu sei. Mas o fã da DC em mim conseguiu entender do que se tratavam. Infelizmente acho que o filme falha muito em explicar pro espectador).

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A primeira é o pesadelo que agora está sendo chamado de “knightmare”. Nele, um Batman de capa de deserto e óculos olha para uma cidade devastada (Metrópolis?), com um símbolo gravado no chão. O símbolo é o ômega, tradicional de Darkseid, um dos maiores vilões da DC. Batman entra em combate com soldados que usam braçadeiras com o símbolo do Superman. E depois os parademônios alados de Darkseid aparecem. Toda a sequência é ao mesmo tempo curiosa e bem trabalhada, mas de maneira rápida, o suficiente para chamar nossa atenção. Há uma armadilha para o Batman. Superman aparece. E mata todo mundo.

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Ela não faz sentido dentro do filme. Mas é tão legal que agora eu quero saber o que acontece.

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(Dizem os rumores que no roteiro original de David Goyer o Lex Luthor era manipulado por Brainiac, para que tudo fosse feito segundo a vontade de Darkseid. Desta forma os sonhos do Batman seriam uma manipulação psicológica de Brainiac, que sumiu neste filme, após as modificações de roteiro de Chris Terrio. Os filmes da Liga da Jutiça teriam como vilão Brainiac – no primeiro filme – e Darkseid – no segundo filme. Talvez essa sequência do Batman no deserto com os parademônios fizesse mais sentido na primeira versão do roteiro.)

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5. O Flash

O segundo sonho do Batman é um sonho dentro de um sonho. Nele o Flash aparece.

O Flash , um dos heróis que vão compor a Liga da Justiça e um dos personagens meta-humanos que estavam no arquivo criptografado de Lex Luthor que tanto o Batman quanto a Mulher-Maravilha estavam atrás, é um velocista que (dentro de alguns cânones da DC) pode viajar no tempo quando atinge velocidades acima da luz, o que o torna um dos personagens mais legais da editora. Com o Flash começou o Multiverso, em que diferentes dimensões com versões diferentes dos heróis se encontravam em histórias cada vez mais divertidas mas cada vez mais complexas. A DC tentou organizar o Multiverso diversas vezes, algumas vezes com problemas, algumas vezes com menos problemas. De 10 em 10 anos acontece uma Crise. Sempre há uma Crise na DC.

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A cena é curta, confusa e rápida demais. Mas ela teve o mesmo efeito da conversa de Neo com o Arquiteto em Matrix 2: ela é foda demais para passar despercebida. É provavelmente cheia de informações que ainda vamos ver. Isso é legal, porque o Flash é o personagem que pode fazer a costura entre as dimensões e entre as timelines dos filmes do Universo DC. (Espero que ele apareça no filme da Mulher-Maravilha, em outra visita temporal).

(Só achei estranho que ele fizesse isso no que parece ser um sonho, mas ok).

A mensagem que o Flash passa ao Batman a seguinte:

“Bruce! Me ouça! Agora! É Lois! Lois Lane! Ela é a chave! 

Cheguei cedo demais? Cedo demais! Você tinha razão sobre ele, você sempre teve razão sobre ele! Tenha medo dele! Tenha medo dele e nos ache você tem que nos achar Bruce!”

Essas duas cenas sozinhas, o pesadelo no deserto e a aparição do Flash são teaser perfeito para os filmes da Liga da Justiça. (Inclusive eu consigo visualizar ambas as cenas como cenas pós-créditos no estilo Marvel de contar histórias. Mas acho que isso seria proibitivo para a DC).

No final do filme Lex Luthor aponta que a morte do Superman é emblemática, porque mostra aos outros seres poderosos do universo que não há mais ninguém para proteger o planeta Terra. Dizendo isso ele fica repetindo “ding ding ding”, que é o barulho feito pelas Caixas Maternas (MotherBox) os super computadores sencientes que são utilizados pelos deuses do 4º mundo (do qual Darkseid faz parte) na DC Comics.

O que temos aqui é o início de uma guerra cósmica iniciada por Lex Luthor. E a Liga da Justiça do futuro (ou de outra dimensão?) provavelmente está em problemas, e o Flash voltou para tentar avisar Bruce Wayne do que precisa ser feito. E essas duas cenas deslocadas dentro de um filme cheio de cenas deslocadas são as únicas que fazem algum sentido em serem assim. Elas são pura narrativa de história em quadrinhos. O deslocamente é perfeito.

Se com essa você não está empolgado com o filme da Liga da Justiça então você não tem coração.

 

Entretanto eu realmente gostaria que a DC fosse mais ousada, e misturasse seus universos de cinema com o da TV. Esse Flash aqui seria demais de ver nos filmes.

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E a Supergirl da TV representa melhor o espírito do Superman do que o Superman do cinema, aquele boneco sem emoções.