Arte_supernada_mutt - CópiaEuforia, empatia à rotina, alergia ao novo, comodismo, cegueira mental, adoração a nada (ou culto ao lixo), afonia e, por fim, a revelação. Essa é a nossa vida. Doentes, tristemente criando cascos, focinho e um rabo enrolado. SUPERNADA é uma violenta reflexão sobre a vida do homem moderno e das prisões impostas pelo capital, sem medo de demonstrar os artifícios da mortificação da sociedade contemporânea, Mortari e Sanchez dão vida (nua) a uma narrativa que não poderia ter sido concebida em realidade mais apropriada, ou seja, a própria realidade brasileira.

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Após uma juventude sadia e cheia de vida, lutando por seus ideais, Mano, o personagem principal de SUPERNADA, acaba sendo infectado pela doença do porco ao receber sua carteira de trabalho significando a chegada de suas obrigações para com o sistema capitalista, isto é, sua submissão ao trabalho não-pago que constitui a mais-valia do seu empregador suíno. A doença é a alienação, a vida dominada pelos imperativos da produção, distribuição, consumo, que por fim acabam padronizados e tornam-se naturais e aceitáveis.

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O vírus ataca o indivíduo, entretanto, seus sintomas são sentidos por toda a sociedade, seus sintomas afastam a consciência do Ser com o coletivo, é a supervalorização do individual, a imagem do Outro como Coisa, o dinheiro como fim. Num palco simbólico, entre porcos, quase-porcos e humanos, os artistas expõem as entranhas da ideologia nos mecanismos psicológicos que submetem o indivíduo ao capital.

A euforia da entrada no mundo do trabalho seduz os indivíduos com o poder da compra, a alergia ao novo os mantém longe de alternativas fora do capital, afonia, sintoma-chave da doença, suprime o grito das necessidades sociais. Entretanto, a sociedade brasileira ainda luta contra a “infecção do porco”.

As ocupações escolares em 2015 e as manifestações sociais contra o aumento das passagens iniciados nos últimos dias demonstram que, além de purificar os indivíduos dos sintomas da doença, o combate ao capitalismo e ao Estado, que lhe dá guarida, ainda não acabou.

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Resta muita gente saudável e elas farão o necessário para não morrerem vagando nas ruas a procura de prazeres e alívio para a doença, elas estarão nas ruas, mas para livrarem-se das amarras engendradas por porcos muito maiores.

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Por Jorge A. de M. Acosta Junior e Gelson Weschenfelder / Cult de Cultura

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