Então 2015 chegou com a promessa de ser um ano muito movimentado na economia, nos esportes e até mesmo nas letras. Acabou a mamata, a galera já deve escrever utilizando o novo acordo ortográfico. O Canadá recebe os jogos Pan-Americanos e a NASA estará em funcionamento total. Mas lembrando do ano passado, nem tão passado assim, muitos eventos marcaram a história.

thedy-correa

Em passagem pelo oeste catarinense, o músico, escritor, palestrante Thedy Corrêa, líder da banda Nenhum de Nós, trocou uma ideia com o ATL POP, fazendo um balanço de 2014. Os acontecimentos e as principais discussões foram tratadas, sem preconceito. Aquele ditado “Política, futebol e religião não se discute”  não cabe nesta postagem. Confira!

ATL POP: Como foi o ano de 2014 para o Thedy Correa?

Thedy: O ano de 2014 teve o lançamento do livro Noite ilustrada, que é o meu terceiro livro e o primeiro escrito para ser livro. Os outros eu escrevi e lancei, mas eram coisas minhas guardadas, como o Bruto, que foi o primeiro.  O outro eram textos de um blog que viraram livro. Pra mim são coisas diferentes. O fato de você lançar um livro não quer dizer que você é um escritor. Você tem que escrever para ser um livro. A Noite Ilustrada reúne poemas que tem a noite como tema principal. Ilustrada, porque tem muitas ilustrações das feras dos quadrinhos brasileiros, gente que se destaca. Eu estou muito feliz, porque ele está indo para a segunda edição e livro de poesia no Brasil né… Pessoalmente foi o meu lançamento. Mas em 2014 também teve a gravação do novo disco do Nenhum de Nós, que sai em 2015. Está pronto e na fase de mixagem. Rolou a temporada das mais pedidas, no Teatro São Pedro com os shows tocando os pedidos dos fãs.

20140907_212955

ATL POP: Falou em ilustrações, quadrinhos… Você é bem ligado neste lance de heróis né?

Thedy: Tanto que eu participei do maior evento do Brasil, que é a Comic Con Experience.  Galera do cinema, pessoal que trabalhou no Hobbit, no Game of Thrones, autores estrangeiros, brasileiros… Evento que reuniu mais de 80 mil pessoas, voltadas para esta cultura pop, que era nerd.

“Eu acho que o aborto deve ser regulamentado.”

ATL POP: Ser nerd era feio antes, agora é bonito!

Thedy: Claro que é bonito! O nerd era um cara que tratavam mal, era o cara do Bullying. Aí tu começas a te dar conta que o grande marco do avanço da tecnologia aconteceu com os nerds. O Steve Jobs, nerd, na Apple, o Bill Gates, na Microsoft, também é nerd. Nas redes sociais tem o Facebook, que é comandado por um nerd, o Zuckerberg. A galera tem se dado conta que quem está mudando o mundo são os nerds. É bacana ser nerd agora! (risos)

“A questão da regulamentação do uso da maconha é fundamental que se faça.”

ATL POP: O blog tem abordado o tema “aborto” ultimamente. Na verdade, para trazer a discussão pelo menos. Se a galera é a favor ou contra é outro ponto. O que o Thedy pensa sobre o aborto?

Thedy: Acho que as pessoas confundem a questão do aborto com crime, simplesmente. E a dúvida que se coloca as vezes é a questão: A gente não pode abrir mão de uma vida, em detrimento de outra? Existe a gravidez de alto risco, que coloca em risco a vida da mãe, nestes casos a gente tem que avaliar. Existe uma questão bastante delicada, e esta tem gerado muita discussão, que é a gravidez pós-estupro. A gravidez pode não acarretar em risco físico, mas psicologicamente pode ser levada de um jeito complicado. Eu acho que o aborto deve ser regulamentado. Legalizar, como a discussão da maconha, é colocar tudo no mesmo saco. Deve ser regulamentado.

Tem gente que diz que o Brasil corre o risco de ser comunista, de virar “uma Cuba”, isso é uma bobagem.

ATL POP: E a maconha?

Thedy: A maconha. A questão da regulamentação do uso da maconha é fundamental que se faça.  Agora a descriminalização da maconha, hoje, é um assunto de saúde pública. Deve-se avaliar a questão do tráfico, do narcotráfico. É um assunto que dá muito pano pra manga. A questão da maconha é trabalhada de forma diferente do que a questão do álcool e eu acho que o álcool destrói muito mais casas, mata muito mais do que a maconha no Brasil. Basta ver os casos no trânsito, quantos casos de famílias que entram em colapso, porque tem alcoólatras. O álcool é uma droga regularizada. Quem sabe então regulariza e trata, porque a gente não consegue tratar tudo da mesma maneira.

“A seleção não treinava. A seleção não trabalhava.”

ATL POP: 2014 foi um ano muito marcado pelas eleições. O pleito foi bem conturbado, por todos os lados. Como você vê o pós-eleição? Os pedidos de impeachmant, retorno da ditadura…

Thedy: Primeiro, os extremos durante a eleição fazem parte da democracia. O Brasil é um país muito jovem e a nossa democracia é muito jovem também. A gente teve 21 anos de ditadura. Quem está pedindo a volta da ditadura não estudou e não sabe o que foi a ditadura. Tem gente que diz que estudou. Não, não estudou. Ditadura, seja ela de direita ou esquerda é ruim. Tem gente que diz que o Brasil corre o risco de ser comunista, de virar “uma Cuba”, isso é uma bobagem. Tem que ler! Um exemplo claro: Quando houve o golpe militar disseram que o Brasil estava caminhando prum regime comunista, que os comunistas estavam tomando conta. A mentira disso é tão grande que os documentos revelados ultimamente mostraram que a avaliação foi equivocada. A prova disso é que quando os militares tomaram o poder, não existiu resistência armada no primeiro momento. Então eu te pergunto, se os comunistas estavam organizados pra tomar conta do brasil, porque não resistiram? Então, por que impeachmant? Baseado em que? Por qual motivo? O que existe e que muitas pessoas estão reconhecendo, é que pela primeira vez na história recente do Brasil ocorre um combate à corrupção de forma livre. Durante a ditadura, “ai de ti” levantar a possibilidade de que alguma instituição pública tinha foco de corrupção. Tu eras preso e sumia. A corrupção sempre existiu e hoje está se punindo. A gente vivia num estado sem liberdade. O governo tem seus defeitos? Tem. O governo errou? É óbvio que errou? O Governo deve ser punido? Deve ser punido, mas um mérito do que está acontecendo hoje no Brasil, é que não existe ambiente pra se passar a mão por cima. Eu acho que isso é um avanço para a democracia.

ATL POP: E você que é um amante do futebol… E o 7 a 1? E a seleção? E o “futebol moderno”?

Thedy: O futebol moderno está em constante evolução (risos). Todo mundo fala do futebol brasileiro, mas tem uma coisa que breca e faz com que o futebol nacional fique estagnado, isso se chama CBF. Os clubes batalham. A CBF acabou com o Clube dos 13, que mostrava uma visão diferente e hoje a gente está pagando o preço. Quem está na CBF? Os dois caras que estão lá, o Del Nero e o Marín eram caras ligados com a ditadura. Eles agem do mesmo jeito. No Clube dos 13, um cara que eu não duvido em nada da honestidade é o Fábio Koff, mesmo eu sendo colorado. Nunca se falou em nada desse cara. Pelo menos existia uma força em oposição à CBF. Existia discussão. CBF não tem alternância de poder.

600nenhumdenos03

ATL POP: E a postura dos jogadores da seleção? David Luiz e Thiago Silva como líderes?

Thedy: A questão da choradeira, da emoção, isso não é importante. Americano trabalha muito essa história de patriotismo, emoção e isso não atrapalha em nada. Eu conversei com pessoas que acompanharam a concentração, a preparação da seleção e aí entra a CBF novamente. A seleção não treinava. A seleção, não trabalhava. Eu me lembro que uma vez questionado, David Luiz afirmou que nem sempre se precisa treinar em campo. Sim, se precisa, porque todos os outros estavam fazendo isso. Todo mundo tinha compromisso. Compromisso com patrocinadores… Aí complica.

ATL POP: E 2015. Ano novo. Quais os planos do Thedy Corrêa?

Thedy: 2015! O  novo disco do Nenhum de nós, em abril devem estar saindo 10 músicas inéditas, novinhas. Em termos literários eu tenho dois projetos em andamento e um deles eu não posso revelar, porque a editora me encomendou, mas adianto que fala sobre rock. Teve o Fragmentos da Memória do Rock Gaúcho, que saiu agora (Com co-autoria do Porã, da Atlântida). Meu outro projeto é sobre rock também, escrito à quatro mãos, com a filosofa Marta Tiburi, onde a gente faz uma ponte  entre rock e filosofia. Do lado da literatura, muito trabalho. Do lado da música, muito trabalho e devo lançar a trilha sonora de um espetáculo que eu fiz e gravo em janeiro. Assim vamos indo!

Nemhum-de-Nos_Foto-Moises-Bettim