cabelos brancos

Essa semana eu arranquei meu primeiro cabelo branco – o primeiro que marcou. Talvez porque tenha sido na semana do meu aniversário. Talvez porque seja UM CABELO BRANCO. Talvez porque eu saiba que dentro de alguns anos eu vou ter que pintar constantemente meu cabelo pra disfarçar esse erro capilar decorrente da idade. Mas lá se vão 22 cabelos brancos.

Em breve eu estarei contando aos meus filhos que “há 20 anos” comecei a trabalhar em tal lugar, que “há 15 anos” conheci o pai deles, que “há 30” eu me formei, que “eu lembro quando ali perto de casa era só mato”, que “construíram aquele edifício rápido demais”. A verdade é que daqui a 20 anos eu estarei usando palavras como “edifício” ao invés de prédio, “bucólico” ao invés de “ingênuo ou singelo” e “alimento” ao invés de “rango” (tá, esse último foi brincadeira, apesar de que ás vezes eu uso rango mesmo).  Fazer aniversário é um caminho sem volta de desgraçamento mental.

Hoje eu completo meus 22 verões ou invernos, depende em qual lugar você tá lendo esse texto. Aqui em Porto Alegre é inverno BRABO, daqueles que lembram filmes americanos com neve, só que sem a neve, sem os americanos e sem o filme. Hoje eu acordei mais reflexiva do que o normal. Vocês já pensaram que nesse exato momento outros milhões de pessoas também estão fazendo aniversário? Que merda né. O único dia que é nosso nem é TÃO nosso assim. Eu mesma tenho dois grandes amigos que comemoram seus invernos junto comigo e especialmente nesse aniversário eu percebi uma coisa que eu demorei muito pra perceber: é assustador como passa rápido. Eu pareço a minha mãe falando e sinceramente pra mim isso é uma coisa maravilhosa hoje em dia. Parece que depois dos nossos 18, Deus ou os ajudantes dele apertam aquele botão de speed que tinha nos nossos tão amados e extintos controles de DVD e tudo começa a correr na nossa vida.

Confesso que hoje acordei pensando que eu queria ter escutado quando a minha mãe disse pra eu aproveitar minha infância pra ser criança, porque tem dias que tudo que eu quero é ver Chiquititas comendo farinha láctea sem pensar nos tão temidos boletos do fim do mês ou do começo (preferencialmente do começo que é quando a gente tem salário na conta ainda), eu acordei pensando que ninguém nos conta que a vida real não é um velozes e furiosos e que na prova da autoescola a gente só pode chegar a 40km por hora e ainda tem que fazer aquela porcaria da baliza, acordei pensando que não importa o quanto eu passe protetor solar diariamente ou cuide da minha pele, eu estou cada vez mais perto das tão temidas rugas de envelhecimento, posso até ver algumas já no meu rosto (tá, eu tô exagerando). E confesso que até tô me acostumando com a ideia de ter rugas porque com elas vem aquela imagem de sabedoria.

Hoje eu percebi que tenho uma calma e naturalidade assustadoras pra lidar com a morte e com o fato de que as despedidas são uma parte inevitável da vida. Quando a gente entende o valor de viver, fica muito mais difícil de visualizar que no fundo somos um corpo frágil aberto naquelas macas do CSI. Vocês já pararam pra pensar em como é estranho aquela quantidade assustadora de órgãos, ossos e trecos (que eu ainda não sei o nome mas em 20 anos vou saber) caberem DENTRO de nós? Eu já. O mais surpreendente é que a gente realmente precisa de tudo aquilo funcionando 100% bem para que o nosso corpo funcione normalmente e que isso depende da nossa saúde mental também. A Mariana de hoje usa expressões como “saúde mental” e prioriza a sua saúde mental acima de tudo. A Mariana de hoje não teme o tempo, respeita ele. A Mariana de uns anos atrás queria tudo pra ontem, a de hoje ainda quer tudo – mas pro tempo que tiver que vir.

Termino esse texto pensando que os de 50 vão certamente rir da minha cara, os de 30 possivelmente se identifiquem e os de 20 vão me abraçar e chorar comigo (rindo, só que é de nervosa). Hoje eu acordei pensando que eu não tenho nada planejado pra depois que me formar e que tá tudo bem porque eu só tenho 22 anos. A Mariana maníaca, louca por controle de uns anos atrás ficaria louca com a Mariana de atualmente. Mas a de atualmente só consegue olhar pra trás e agradecer pelo caminho percorrido (por mais brega que possa parecer. Eu aceito ser tachada de brega, afinal minha banda favorita brasileira é Roupa Nova).

Nada é mais libertador do que aceitar que nem tudo vai ser como a gente quer e que essa é a parte mais legal de viver: nunca saber qual é a próxima surpresa.

Instagram-ATL-Girls