Eu sempre imaginei que o amor fosse um grande ato. Daqueles que a gente espera a vida toda, sabe? Eu sempre achei que ele ia dividir minha vida em antes do amor e depois. Eu sempre achei que o amor fosse um grande ato. Fosse uma serenata na minha janela. Ou que ele fosse um buquê de rosas que, a propósito, ninguém te conta que custa 200 reais. Eu sempre esperei por esse grande ato (mas tu tem 20 e poucos anos guria, te orienta, tu mal sabe o que é amor). É verdade. Porque, como eu disse, eu sempre achei que o amor fosse um grande ato.
Nós somos ensinadas desde sempre a esperar por esse grande ato. Eu sempre achei que fosse aquela ida ao aeroporto pois a mulher que você ama está indo embora, ou uma carona em um cortador de grama elétrico daqueles que parecem um triciclo e que, possivelmente, só existem nos Estados Unidos (ou insira aqui qualquer clichê desses filmes românticos que te fazem acreditar que o amor é esse grande ato). Eu particularmente sou viciada em clichês. Juro. E assustadoramente eu não tenho vergonha de admitir isso. Agora, enquanto escrevo, eu tô pensando na trilha do clube dos cinco (I HAD THE TIME OF MY LIFE) ou do guarda-costa (AND I WILL ALWAYS LOVE YOUUUUUU). Mesmo que atualmente o amor me soe mais como Anderson Paak e Jamiroquai. Mas isso é papo pra um outro texto.
Descobri aos meus vinte e poucos que amor é uma soma de pequenos atos. Amor é a pessoa te pedir pra avisar quando você chegou em casa. É você dizer que pintou um desejo de miojo e a pessoa te levar um porque lembrou disso. É quando você diz que tá com dor nas costas e a pessoa não para de te encher o saco até você visitar o médico, mesmo que o médico te prescreva TORCILAX pra tomar – fala sério, como se eu não tivesse pensado em tomar um relaxante muscular pra dor nas costas. Amor é quando a pessoa te escuta de verdade e se importa com o que você diz. É quando a pessoa te diz que se você precisar, você pode ligar.
Acho que o nosso grande erro é sempre esperar por esse grande ato e nunca perceber a grande soma de pequenos atos que recebemos. Nosso erro é criar uma expectativa idealizada de um sentimento que é tão natural. Nosso grande erro é sempre esperar pelo conceito de amor criado por filmes, séries e novelas como se ele fosse só AQUELE MOMENTO: o buquê de flores, a carona no cortador de grama, a serenata na janela… Esquecendo que o amor é também a mesa de bar, o dia difícil, a demissão do trabalho, a morte daquele parente. É fácil amar no sucesso, na vitória, nos dias felizes, nos grandes atos. É fácil amar naquele aumento no trabalho, é fácil amar no lançamento daquele seu projeto, é fácil amar nas festas de família. É difícil amar na derrota. É difícil amar na dor.
Hoje eu sei que o amor é uma porção de pequenas coisas.
Amor é uma soma de pequenas coisas.
Amor é uma soma.
Talvez a nossa vida seja uma soma de pequenos amores.
Então, por onde estiver agora, amor… obrigada por ter passado por aqui.
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