geração que se sabota mari

Em uma dessas conversas não tão profundas, uma amiga confessou pra mim que tem se sabotado emocionalmente. Que ela foge de qualquer contato. Cria listas intermináveis pra se convencer de que nenhum cara é suficientemente bom para os padrões dela. Encontrei então um texto chamado: A geração de pessoas que se sabotam emocionalmente. E ele foi a inspiração pra esse texto aqui.

Conforme eu ia lendo, visitava dolorosamente as gavetas trancadas das minhas lembranças. Sabe quando a gente vive momentos tão, mas tão dolorosos, que parece que nosso cérebro nos faz o favor de gentilmente apagar esses momentos da nossa memória?  

O texto começava com o início de quase todas as relações. Você conhece alguém. Identifica muitos interesses em comum. Você vira madrugadas falando com aquela pessoa. Vocês conversam sobre tudo. Sobre qualquer coisa. Sempre. O tempo inteiro. Vocês saem. Ficam juntos e é como se vocês fossem as únicas pessoas no mundo. Você sente como se nunca fosse encontrar uma química como a que vocês tem e você percebe que é recíproco. A pessoa te lembra constantemente da sorte que é ter te encontrado. Te diz que você é a pessoa mais FODA que ela já conheceu.

Até que acontece o impensável (que é quase manjado, nesse caso): a pessoa some. Se afasta. Te afasta. Te machuca. Responde esporadicamente de 10 em 10 horas e você não sente que é porque ela quer te responder mas que ela te responde ou conversa contigo por obrigação ou pior – por pena.

Apesar de você não entender os motivos pelos quais essa pessoa sumiu, você tenta. Você se pergunta se fez algo de errado. De repente você pressionou a pessoa sem notar (o que dificilmente é o caso porque vocês dois estavam envolvidos na mesma intensidade, mas ok – segue). Você tenta respeitar o espaço que a pessoa precisa, você deixa a pessoa livre (e meio que torce pra ela sentir sua falta de vez em quando) até que um dia, com o cansaço causado por essa situação, com as exaustões pelas noites mal dormidas, pela falta ou excesso de fome, pelas crises de ansiedade e por não entender o que DIABOS aconteceu pra tudo mudar repentinamente, você resolve perguntar o que aconteceu. Porque ela se afastou. Porque ela te afastou. E vem aquela velha resposta: eu não quero me envolver. O eu não quero me envolver vem sempre com milhões de desculpas atrelado à ele. “Não sei o que eu quero”, “Eu ainda não superei os traumas do meu passado”, “Não quero um relacionamento sério agora com NINGUÉM”. “Tu não tem nada de errado, tu é foda, mas…”. Você chega a prometer pra si mesmo que vai assassinar a próxima pessoa que vier com um “mas..” depois de uma série de elogios, mas ok – segue.

Você estranha muito essa reação afinal é muito confuso alguém dizer que te ama sem querer se envolver. É estranho também a pessoa te procurar todos os dias se não queria se apegar ou criar um vínculo com você. Não faz nenhum sentido a pessoa ter te tratado com todo o carinho se (do modo mais grosso possível) você era só um caso passageiro pra ela, mas ok – segue. Você chega a pensar se ela só achou que te amava e de repente mudou de ideia. Você chega a se questionar sobre o conceito de amor. Você chega a se questionar sobre tudo. 

Sinceramente, quando passei por isso a minha vontade era de mandar a pessoa fazer uma viagem à puta que pariu e levar as minhas memórias dentro das malas dela. Soltar um monte de palavrões que iam instantaneamente fazer com que eu me sentisse melhor e, mas que a longo prazo só fariam com que eu me sentisse mais triste. 

Você se coloca em uma sinuca de bico: não sabe se termina de vez qualquer tipo de relação com a pessoa ou se você se engana de que também não quer se envolver, mesmo que você saiba que é tarde demais pra isso. Mesmo que você queira se envolver. Mesmo que já esteja envolvido. Não façam isso. Sério. Eu já tentei e posso dizer, se alguém te diz que não quer uma relação, por mais que você pense que é especial e pode fazer essa pessoa mudar de ideia, você não pode. Ela, de fato, não quer uma relação.

Você fica com raiva. Afinal, você abriu a porta da sua casa (e da sua vida) pra essa pessoa. Conheceu os amigos dela e deixou que conhecesse os seus. Você fica com raiva de si por não ter percebido os sinais de que essa pessoa não queria se envolver porque afinal devem haver sinais. Você tem vontade de ligar e dizer: MAS QUE CARA DE PAU DE DECIDIR SÓ AGORA QUE NÃO QUER SE ENVOLVER. Você pensa em ligar pra dizer: “Eu acho que te odeio”. Você pensar em ligar pra dizer: “Mas.. eu ainda te amo”. Você pensa em ligar e logo em seguida desligar. Você pensa em ligar pra dizer qualquer coisa. Você só quer ouvir a voz da pessoa. Você desiste de ligar. Você desiste de tentar. Você desiste de se desgastar. Você desiste. Lentamente vocês param de se falar. Logo, ela será mais uma lembrança dolorida (talvez a mais dolorida de todas) mas ok – segue.   

Felizmente, depois de passar umas boas vezes pelo MESMO cenário com protagonistas diferentes eu aprendi que não dá pra fazer alguém nos amar. Não dá pra forçar relações com pessoas que não querem uma relação. E pior, não dá pra fazer alguém ter coragem de se jogar de cabeça. A coragem é realmente -REALMENTE- um dom de poucos. E amar requer coragem.

A autossabotagem emocional é horrível, dolorosa, triste e solitária, mas ela tem de ser assim só pra quem a pratica. No fim, não é nossa culpa a covardia dos outros. Não é nossa culpa o medo dos outros e pode ter certeza de que é muito mais triste pra eles, porque por mais que no fim do dia você que vive de intensidades, exageros e arrisca acabe se machucando, sofrendo, e entregando eventualmente seu coração a quem não merece,  você sabe que viveu algo REAL. E é isso que importa.

Enquanto você coleciona experiências, os que se sabotam colecionam só autopiedade e solidão.    

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