THISISAMERICA

Você já deve ter visto ou ouvido falar do clipe “This is America” do Childish Gambino.

Desde o lançamento do clipe a internet está em polvorosa em torno das inúmeras referências cuidadosamente escolhidas para cada detalhe dos quatro minutos de vídeo. Bino, como é chamado pelos fãs, se utiliza de imagens racistas e referências à brutalidade com a qual a polícia – e muitos brancos – tratam a população negra americana.

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Logo no início do clipe vemos um ator representando o pai do adolescente Travyon Martin, jovem negro morto injustamente em 2012 por um guarda civil norte americano (na Florida), por estar vestindo casaco com capuz. Esse assassinato desencadeou a criação do movimento “Black Lives Matter” nos EUA. O clipe começa com um ritmo bem africano e alegre.

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Uncle_Ruckus1

Aqui vemos Donald Glover (Childish Gambino), fazendo a mesma expressão de rosto do Uncle Ruckus, personagem dos quadrinhos e da animação The Boondocks, um idoso negro que tem nojo dos próprios negros, que diz que o racismo não existe, apoiador do Bush e a favor do genocídio negro nos EUA. O personagem vivia dizendo “Eu não sou negro! Tive uma doença quando eu era pequeno, que transformou minha pele branca em negra!“. Ele se auto intitula “supremacista branco“, apesar de nitidamente ser um negro de pele retinta. Seus olhos semi fechados representam o “olho cego” dentro da comunidade negra. Ele é o vizinho que dedura os outros negros do bairro para a polícia.

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Nessa pose, Gambino representa o minstrel Jim Crow, personagem extremamente racista criado por um ator branco chamado Billy Van, que em 1900 pintava sua pele com tinta preta, pintava a boca de vermelho e fazia palhaçadas no palco para tirar sarro dos negros, dando origem ao que hoje chamamos de blackface. Aqui ele diz “This is America!“, ou seja, a América é isso: morte de negros a torto e a direito por pessoas que vem negros como meros personagens e não como pessoas reais. Enquanto isso, um homem negro é morto, mas o assassino sai impune. A partir do momento que ele atira a música muda da batida africana pro trap norte americano e mumble rap (gênero que geralmente exalta a violência).

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Nesse quadro, logo após Gambino atirar em um homem negro, que representa um escravo (pois já está com mãos amarradas e pés descalços), Donald entrega a arma para uma criança que tem o maior cuidado do mundo para segurar a arma, como se ela fosse algo muito precioso e mais importante que a vida de pessoas.

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Reforçando a imagem anterior, vemos aqui Gambino andar como se nada tivesse acontecido, enquanto pessoas ao fundo arrastam o homem morto pra tirá-lo da nossa vista (do expectador). Gambino veste uma calça específica da época da batalha americana pela confederação (sim, a mesma da bandeira que hoje é símbolo dos confederados americanos, anti-negros, anti-indígenas e anti-imigração).

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Nessa parte Gambino claramente está estufando o peito, como fizeram os primeiros imigrantes europeus quando chegaram a América. Até mesmo a expressão do rosto dele é parecida com a das fotos das famílias europeias daquela época. Além disso, ele diz “I got Plug in Oaxaca” na letra. Para quem não sabe, Oaxacla é o estado mais VIOLENTO no sul do México, com constantes guerras entre cartéis de drogas.

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Aqui Gambino observa qual é a “moda” entre os jovens e começa a reproduzir, copiando os memes para chamar atenção da geração mais jovem. Na música temos a mistura de trap, hip hop e rap, com ad libs (adições) de canto de cantores famosos do rap de hoje, como Migos, entre outros. E a letra da música? Ela não diz muito, mas a gente ignora porque a batida é boa. Entendem?

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Nesse quadro, Gambino e as crianças reproduzem os passos da típica dança africana, que é compartilhada à rodo nas redes sociais, enquanto ao fundo o caos e os conflitos continuam.

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Donald invade a cena do coro e mata todos os integrantes, em uma clara referência ao massacre na igreja de Charleston (Carolina do Sul), que ocorreu em 2015.

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O caos está correndo solto ao fundo, enquanto Childish e as crianças (América) só querem saber de entretenimento e de criar novos movimentos de dança que vão entreter as pessoas e fazê-las ignorarem o que acontece no fundo. Vale ressaltar que na internet, negros estão ali pra ser fonte de entretenimento para a América, mas quando se trata das suas vidas e segurança (como nos quadros anteriores, da igreja) eles são completamente ignorados.

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[TW: suicid*o] Enquanto Donald e as crianças continuam a dançar, um jovem negro se joga da grade alta, representando a depressão e suic*dio que assolam a população hoje, mas mesmo assim ninguém liga, porque todos estão entretidos demais com a dança.

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Se você prestar atenção na letra ele está dizendo, “olhe para isso que eu estou fazendo, olhe como sou bonito, olhe como sou tão estiloso”, é uma crítica em como as pessoas estão mais interessadas em falar sobre a aparência delas nas redes sociais, ao invés de focar no que esta acontecendo com o mundo (ao fundo).

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Crianças anônimas com celulares nas mãos, se divertindo com a dança lá em baixo, ao invés de se moverem pra focar no que importa (o caos acontecendo no outro lado da cena).

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Carros pegando fogo estão na cara. Não tem como ser mais simbólico que isso. É uma referência aos conflitos raciais e carros que foram queimados durante os protestos recentes nos EUA.

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Aqui nesse quadro vemos a Morte, de manto preto, correndo em seu cavalo branco, representando a morte que guia a viatura dos policiais em frente.

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Gambino agora vem representando o homem negro comum, não vemos suas calças e ele não tem mais uma arma de verdade, só a mão mesmo. Isso representa que o homem negro, sem arma, ainda é visto como uma ameaça, até mesmo para as crianças.

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Outra cena bem representativa é a penúltima parte, no estacionamento. Todos esses modelos de carros eram muito populares na época da segregação racial nos Estados Unidos e, no carro mais moderno, à direita, podemos ver a cantora SZA com o cabelo em forma de coroa, que pode ser uma representação da Estátua da Liberdade. Para os desatentos, esquece-se da tensão que aconteceu até agora, porque “Uau é a SZA“! Ela é uma distração (sendo homem ou mulher, ela é famosa e casos de famosos chamam mais atenção do que casos de pessoas comuns).

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18

Por causa da maconha que ele acendeu no antepenúltimo quadro, Gambino agora tem que fugir da polícia. Isso significa que matar um homem negro = ok, massacrar um grupo inteiro de pessoas negras = ok , um negro fumar uma maconha = crime, um branco fumando maconha = empoderamento. Vale lembrar que sou extremamente contra qualquer tipo de drogas, inclusive essa, mas a simbologia é gritante. Pra finalizar, ao fundo vemos dois policiais (vestindo claramente as cores da polícia de Nova Iorque), correndo atrás dele.

Bem é isso! Se faltou algo, por favor acrescentem!

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