Foto: Marlon Laurencio | Urban Project

Para incentivar outras meninas e mulheres, resolvi contar um pouco da minha transição capilar e quando foi que decidi que ela iria terminar para dar espaço ao meu cabelo “de verdade”.

Hair Afro GIF by Justin B. Kinard

No último podcast do ATL Girls (03/01), me dei conta que não tinha falado sobre minha transição por aqui. Foi tudo muito rápido quando eu decidi mudar.

Desde os 3 anos de idade eu fazia química no cabelo para diminuir o volume dele. E entendo minha mãe por me colocar nesse “universo” tão cedo. Como eu comentei anteriormente em outra coluna, não há negros ou descendentes na minha família, ninguém tinha um cabelo semelhante ao meu e além disso foi uma facilidade pela vida corrida de trabalho dos meus pais. Enfim, eu vivia com cabelo bem preso, bem puxado pela minha mãe ou pela minha babá (lindo, mas TODOS OS DIAS não dá, né?).

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Esse ritmo de amaciamento na raiz (química que eu utilizava) era muito bom durante uma época. Ele tirava o volume, mas não os cachos. Mas chegou um determinado momento em que a química já dominava todo cabelo, afinal, a raiz cresce. E ficou muitos anos assim, meu cabelo sem ter uma definição do que era, fazia umas ondas, tinha um volume estranho, era extremamente ressecado e só ficava solto durante os primeiros dias pós química.

Eu realmente não lembro de ter alguma opinião sobre ele e nem de entender muita coisa ou conhecimento sobre cabelo crespo e cacheado, não havia muitos produtos nas lojas. Só recordo de ouvir o quanto era difícil ter cabelo cacheado/crespo.

Na adolescência, conheci o poder de uma boa escova e chapinha e me apaixonei pelo resultado! Só assim eu me sentia bonita. Achei que tinha achado a solução para cabelo bonito por mais tempo e fiz o uso delas por um longo período!!! No ensino médio, um pouco mais madura eu queria muito ter cabelo cacheado e achava que não poderia mais e cheguei a pensar em permanente afro, mas mudar a rotina e fazer química com química destruiria meu cabelo definitivamente. Eu nem tinha noção de que aquela minha raiz crespa e volumosa seria minha salvação. Eu sempre quis escondê-la, porque eu a achava feia e me atrapalhava realmente.

Minhas amigas da faculdade junto de algumas blogueiras na internet me ajudaram muito nessa fase. Referência é TUDO e foi por isso que resolvi contar um pouco da minha história na internet, porque a rede de inspiração online ajuda muito na nossa “vida real”.

Foi através das blogueiras negras brasileiras (que eram muito poucas há 5 anos) que entendi que para ter meu cabelo de volta, eu precisaria cortar toda a química que tinha nele. Fazia sete meses da minha última aplicação de tioglicolato e isso quer dizer que eu estava na transição capilar há sete meses. Ele estava com duas texturas, na raiz meu cabelo de hoje, e no comprimento, uma textura estranha que eu gastava potes de creme para deixar no máximo ondulado. Meu cabelo real estava extremamente curto ainda. Mas, com sede de me reconhecer no espelho e muita ansiedade, no dia 18 de setembro de 2013, peguei uma tesoura de papel que tinha em casa, do Bob Esponja inclusive (rs), e dei fim a tudo que tinha me acompanhado desde criança para me iniciar um novo processo de vida. Meu cabelo não devia ter mais de 4cm de comprimento, estava no estilo “Joãozinho”, mas renasci, de verdade. Foi como me auto presentear.

Decidir fazer o BIG CHOP (ou Grande Corte, quando cortamos toda a química capilar), foi algo que transformou a minha vida, meu trabalho, minha relação comigo e com as pessoas. Foi através dele que me senti negra e quis aprender tudo que podia sobre a realidade e história da raça. Foi ponto inicial para meu trabalho no Negra e Crespa. Foi quando percebi que a autoestima é extremamente importante e valorosa para uma vida em sociedade.

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Sou muito mais feliz e tenho algo importante a dizer: cabelo crespo ou cacheado não é difícil de lidar.

@negraecrespa

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