amor aline

Esse ano eu precisei me ausentar inúmeras vezes pelo simples fato de que eu me tornei uma daquelas pessoas que eu mais abominava: a apaixonada crônica. E chata. Uma apaixonada chata que se alimenta de amor e vomita coraçõezinhos (você pode imaginar?). E por medo de passar vergonha em praça pública, eu me calei.

Veja, não foram poucas as vezes neste blog em que eu dediquei toda intensidade de sentimento aos mais variados tipos de amor. Chorei por amores platônicos, sofri com amores abusivos, e fiquei confusa me afogando em uma pá de amores tão rasos quanto poças d’água. Eu estava vivendo um daqueles momentos que a maioria das mulheres passa, onde eu ficava mais empolgada em encontrar uma blusinha na promoção, do que a possibilidade de um relacionamento. Mas o destino, esse grande filho da p***, não cansa de me ensinar que eu não mando mesmo na minha vida.

E foi andando distraída que eu tropecei no amor. Um amor diferente que me arrebatou. Eu não vou chama-lo de “amor de verdade” porque isso descaracterizaria todos os meus outros amores, o que seria injusto já que todos eles fizeram sentido em algum momento e contribuíram para o que hoje eu sou. Então eu decidi que vou chama-lo de “amor diferente” pelo simples fato que depois de meses de reflexão, eu cansei da tarefa de defini-lo. E também porque ele tem sido uma experiência toda nova dentro do meu currículo e coração calejado.

Eu relutei falar sobre esse amor diferente, como alguém que protege algo muito raro dos olhos do mundo. Mas amor é uma daquelas coisas que odeiam silêncios, discrições e amarras. O amor quando bate mesmo, é tão discreto quanto uma tatuagem na testa.

E como toda tatuagem, foi preciso engolir o medo da dor para ver a beleza de novas marcas. Eu precisei me despir de todo o meu passado para encontrar uma possibilidade de futuro ao lado de alguém. Eu que já havia me acostumado a depender apenas de mim mesma (e achava isso uma benção), precisei me aceitar vulnerável para criar uma confiança da qual eu havia esquecido como praticar. E foi caindo no chão, nua de qualquer vaidade, que eu precisei de ajuda. E pegando na mão deste amor diferente, que eu aprendi que não existe nada mais nobre que admitir que, por vezes, nós não nos bastamos. E que se tivermos muita sorte, é ficando frágil ao lado da pessoa certa, que a gente se fortalece.

Por dias eu pensei que aquele amor que nascia era apenas mais distração bem aventurada. Uma inspiração passageira e um companheiro temporário que eu ganhei durante um momento difícil. Mas algo grandioso em mim havia mudado.

Esse amor diferente não surgiu de uma paixão pela cor dos olhos verdes de alguém, como costumava fazer (ainda que os olhos verdes sejam lindos). A diferença é que desta vez, e pela primeira vez, eu cai de quatro e estatelada de amor pela mulher que eu me tornava ao lado daqueles olhos verdes. Antes de amar o cara do meu lado, eu amei a mim mesma ao lado dele. E eu passei a me amar forte pra caralho. Eu tinha essa expectativa que algo especial ia aparecer quando estivesse no peso ideal, com estabilidade financeira e alguma emocional. E foi no meio do meu caos, que achei a beleza destes amores que não respeitam as regras (e nóias) pré-estabelecidas pela gente.

O amor tá se fodendo pros nossos planos, isso é verdade.

E foi do lado de uma pessoa, que eu aprendi a ver as minhas belezas, entre curvas e pintas, sobre a luminosa aventura que foi entregar meu corpo, pela primeira vez, sem um show ilusório de espelhos e fumaças. Sem cintas apertando a minha barriga, sem “sinto muito” pelos meus exageros. Eu passei a cuidar mais do meu corpo. Não para os olhos dos outros, como sempre fiz, mas porque fui convencida que esse corpo é lindo e perfeito, pegando emprestada a admiração criada a partir deste amor. Eu refiz minha matemática e resultou que eu tenho mais virtudes, do que paranoias. E eu entendi finalmente que eu mereço sentir isso. Por mim.

Este “amor diferente” também me trouxe de presente uma paz que eu nunca havia sentido. E como boa ansiosa, solteira faceira, escrava da dúvida, aquariana-loka-da-indecisão, uma paz que achei que nunca ia sentir. Sempre achei que os amores importantes das nossas vidas seriam marcados por grandes emoções, reviravoltas inesperadas e tormentas súbitas. Hoje sei que o amor que eu quero é aquele que me provoca a minha quietude, uma serenidade gentil. Eu gozo neste momento da sorte do amor tranquilo que Cazuza um dia me vendeu. Neste pequeno universo que criamos, existe uma preguiça enorme para ciúmes e desconfianças, porque nos ocupamos desde cedo com a presença, saudade e por vezes até da distancia um do outro.

Então talvez por isso eu sinta essa vontade gritante de falar deste amor. Porque as coisas que eu sabia sobre o amor, foram todas desconstruídas nos últimos tempos para que eu pudesse erguer uma edificação toda nova. Com base em muito amor próprio, admiração mutua e paz, uma paz linda e sublime. Sabe? Aquele conjunto de sentimentos que faz você agradecer por não ter dado certo com mais ninguém.

E a certeza deste momento é tão reconfortante, que pouco me importa se esse amor vai virar um anel no meu dedo, uma casa, dois filhos e um cachorro, ou se a gente vai seguir sem grandes promessas desbravando o mundo e aprendendo juntos. Esse amor diferente faz cada minuto valer a pena. E com determinação, e alguma sorte, faz valer uma vida inteira.

Que sorte a minha poder falar de amor. Porque descobri que amar alguém da maneira certa, pode ser uma forma toda nova de amor próprio. E por isso eu vou ser eternamente grata.

Antônia no Divã

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