fight like a girl

Eu lembro perfeitamente do dia em que descobri o feminismo. Infelizmente eu lembro de cada detalhe sujo. Conheci o feminismo no dia em que conheci a minha primeira tentativa de estupro. Foi numa festa na adolescência por parte de um ex-amigo. Eu nunca vou tirar da minha alma as marcas do que ele fez comigo. Além de tentar me estuprar, ele ainda roubou meu calçado, me deixando descalça e eu fui expulsa da festa porque afinal eu tava “muito exaltada” e a minha reação pro que aconteceu foi “exagerada”. Ali eu conheci o feminismo. Sem nomes. Rótulos e nem nada. Eu só queria uma coisa muito mais simples do que parecia, ser respeitada.

Lembro também de cada babaca que passou na minha vida. O João Pedro cês nem acredita, dizia que eu era uma das gurias mais legais que ele conhecia, adivinha minha surpresa quando ele me convidou pra ir a uma festa com ele e pegou outra guria NA MINHA FRENTE. Old but gold, a tática do JP já tava tão batida que passei pela mesma coisa essa semana, ah João Pedro, entra na fila. Seja mais criativo na próxima vez. Mas calma mariana, tem cara que é diferente. Dai veio o Matheus e quem nunca conheceu um matheus né? A gente sabe que se tem uma coisa que o Matheus é bom é em pegar mulher, pena que não vale o que come e o Matheus não merecia nem ser chamado de homem, no máximo gurizinho. Dai eu já tava desistindo e veio o Yan. O Yan foi o primeiro a tirar meu sutiã e conseguiu o feito de me arrancar um “Eu te amo”. Ah se eu soubesse o terreno que eu tava pisando. O Yan bebia, além disso, ele tinha baixa auto estima e queria que eu me sentisse tão vazia quanto ele. E conseguiu. Por três anos eu vivi dentro daquele vazio, aceitei ser agredida e achava normal quando ele me ofendia, tem coisas que ele me chamava muito piores do que vadia.

Mas eu terminei essa doença que eu chamava de amor. Liguei pro senhor doutor e pedi ajuda, “O que que eu posso fazer pra achar um cara que preste?” “Ah, minha filha, tenta Deus, prece”. Dai comecei a frequentar o hip hop, participar, me apaixonei pelo rap e eu não podia ver um cara de cap que o cabelo arrepiava, não disse qual. Descobri que ate nesse mundo os caras são tudo igual. Se querem só um sexo casual, não são capazes de dizer a verdade na nossa cara. Relaxa cara. “Ah é que eu não to preparado pra nada serio”. Só um momento, eu tava aqui tentando lembrar em que dia eu te pedi em casamento. Daí veio o ultimo babaca da banca, e eu que não sou baba tive que aprender a cuidar de criança. Mas se é pra me comer uma vez e vazar, faz o favor de me comer uma vez mas me fazer gozar. Ah, sai pra lá. Cês acham que conhecem muito bem as mulheres e nossos olhos e olhares e nos colocam nas categorias de frágeis e apegadas. Se se preocupasse tanto em melhorar o seu desempenho na cama quanto você se preocupa em nos dividir em nos segmentar , talvez cê ate conseguisse a façanha de nos fazer gozar.

A gente já tá mais do que acostumada a ser a louca do rolê, então vou dar motivo pra vocês me chamarem de louca, deixa minha maquiagem, meu batom vermelho e o comprimento da minha roupa, muda você o comprimento do seu conhecimento e se quiser pode chamar minha luta de vã. Sem sentido. Mas eu tiro o sutiã e não aumento o cumprimento do vestido. Porque junto com o feminismo eu descobri que vocês até podem se achar pica, é nós pai, os gurizinho, pode pá. Mas você abaixa o tom de voz comigo, para de gritar. No dia que eu tiver medo de merda, paro de cagar. Segue mandando a fita pros seus amigos, nos chamando do que quiser. Nem puta, nem vadia, nem fácil. Meu nome é mulher.

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