ponto de interrogação

Eu não te deixo dormir. Eu te acompanho da ponta do pé até a ponta do queixo. Se você olha no espelho e tenta sorrir eu não deixo. Eu te faço vomitar e desmaiar. Eu te faço chorar. Faço você questionar a relevância da sua vida. Faço você questionar sua beleza. E que surpresa. Eu te mato. Eu te mato cada dia mais um pouco. Eu te faço odiar o teu corpo. Eu te faço trocar de roupa, eu te deixo louca.

Eu te deixo tão mas tão louca que quase te faço questionar se a sua sanidade já esteve aí algum dia. Sorria. Sorria. Na rua sorria. Com seus amigos, sorria. Mas não pense nem por um dia que te esqueci. Talvez você quase esqueça de mim, mas eu te busco se tiver que ser assim. Continua com esse teatro. Continua falando sobre aceitação nas redes sociais. Empoderando sua irmã, mas troca essa calça e põe um sutiã. Você não quer ninguém olhando pro seu farol aceso. Eu te faço ficar dias sem comer. Eu sou aquele seu incômodo vendo um comercial. Eu te convenço que você não é suficientemente boa, mesmo quando todos ao teu redor te lembram da incrível pessoa que mora ai dentro.

Eu te faço deixar de comer carboidratos, porque afinal eles engordam pra porra. E convenhamos né, você não quer ficar mais gorda. Você não quer vomitar a comida toda só porque “você não parece bem nessa roupa“.

E enquanto você balbucia sem jeito, eu sou linda. Eu sou linda. Eu sou linda. Quantas vezes será que você vai dizer pra acreditar? Quantas doses desse remédio chamado autoestima você vai ter que tomar. Garçom vê um copo de amor próprio? Ou melhor, uma piscina. Que essa aqui tá na seca. E eu não to falando de sexo, to falando de autoestima. Quem eu sou? Eu sou a sua infelicidade ao se olhar por fora e não conseguir se amar. Eu sou a sua abstinência. Sou sua dieta que costuma falhar. Sou sua calça que não entra mais. Eu sou capaz de acabar com o seu psicológico. E é lógico, enquanto isso a sua televisão, as revistas, os comerciais continuam te vendendo um corpo que você não é capaz de ter.

Quem sou eu? Eu venho acompanhada de uma dose assustadora de bulimia. Em alguns casos, mato também pela anorexia. Meu nome é pressão estética. Te faço querer ser modelete. Esquelética. Te faço alisar o cabelo, porque é nisso que os homens têm tesão. E claro, você quer se sentir desejada pelos homens, não? Se você for plus size as lojas de departamento só enxergam até o 42 e nada mais. E se for negra, esquece. Não temos base pra sua pele. Meu nome é opressão. Eu perdi as contas de quantas vezes te fiz tirar aquela blusa ou aquela saia. Perdi as contas de quantas vezes você quis sair e eu te convenci “não, não saia”. Não esquece que mostrar demais é vulgar. E você não quer parecer uma puta, quer? Vai com calma. Eu quero parecer mulher. Porque é isso que eu sou. E eu to cansada de não conseguir me amar só porque uns babacas por aí querem cagar regra do que eu visto, como eu visto, como eu vou. Mulheres, por favor levantem a cabeça, olhem o seu reflexo e decidam que a partir de hoje vocês só vão manter perto pessoas que te acrescentem nós somos rainhas e não merecemos nada menos do que a realeza, manda pra puta que pariu a pressão estética, a insegurança e tenham a certeza de que amor próprio não é um luxo, mas é uma riqueza.

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