maisa e dudu

Passei a semana inteira remoendo esse assunto e tentando pensar em qual seria a melhor forma de escrever sobre isso, mas na última semana passeando pelos feeds das minhas redes sociais li tantos comentários absurdos sobre o caso da Maísa e do Sílvio e sobre o julgamento equivocado das pessoas a respeito dessa situação que eu decidi que seria melhor pontuar algumas coisas.

Pra contextualizar: Maísa participou recentemente de um quadro do programa do Sílvio Santos ao lado do apresentador do polêmico telejornal Primeiro impacto, Dudu Camargo de 19 anos. No quadro Sílvio constrangeu Maísa tentando a obrigar a acatar a proposta de um relacionamento amoroso arranjado com Dudu, tudo junto com os comentários de tiozão de churrasco com aquele tom de brincadeira, mas com o bom e velho discurso conservador velado por trás das piadinhas.

Maísa então escreveu um desabafo em seu Facebook sobre o ocorrido.“Quando uma menina de 15 anos não aceita qualquer brincadeira ou comentário, e se posiciona, causa espanto”.

Desculpe Maísa, mas infelizmente, você acabou de descobrir o machismo. O problema não é só com as meninas de 15 anos, é com as mulheres. Sempre que uma mulher rebate um homem com espontaneidade e sai por cima, isso não causa só espanto como incômodo também. Eu sinto muito que você tenha descoberto de uma forma tão constrangedora que o feminismo só é necessário porque o machismo existe e isso não é um discurso de vitimismo é só a dura e seca realidade e como tudo, tem gente que lida bem com ela e gente que não lida, e isso continuará acontecendo mesmo apesar dos nossos esforços pra que seja diferente. Sem falar que o fato da menina não estar com nenhum pretendente, e como esse fato foi abordado pelo “tio Silvio” só se fez reforçar ainda mais os estereótipos de que estar solteira é considerado feio ou errado (afinal, somos encalhadas e precisamos de um homem ao nosso lado – note o tom de ironia).

Depois de rodar os feeds e timelines de todas as minhas redes sociais, fui atrás das notícias e manchetes sobre o assunto. Que erro. “Maísa humilha Dudu Camargo e o que ela diz surpreende até Silvio Santos”, foi a primeira notícia que apareceu pra mim (eu não vou nem entrar no fator jornalismo gigolô de likes porque isso é papo pra outro texto), mas ‘”não faz o meu tipo”, foi o que a Maísa disse no programa. Só isso. O engraçado é que quando os homens nos separam dentro desses intermináveis rótulos e dizem preferir as loiras, morenas, as magras, nós temos que engolir. Porque funcionamos dentro de uma lógica e de uma sociedade que trabalha assim, homens tem o direito de escolher exatamente em que rótulo nos colocar, e nós? Nós temos o direito de ficarmos caladinhas, né? Quando os homens são rejeitados pelo simples fato de que eles não fazem o nosso tipo, é humilhação. Francamente, os homens deveriam trabalhar mais na sua autoestima e aprender a receber um não de uma mulher sem que isso abalasse profundamente a masculinidade frágil deles.

Apesar de todos os debates válidos que essa polêmica trouxe, um ponto ficou de fora da discussão que, a meu ver, é o mais preocupante. A sexualização infantil e a tentativa de transformar precocemente crianças em adultos e como esses fatores vêm sendo tratados e, acho que posso dizer que até ignorados e despercebidos, principalmente dentro dessa situação específica em que uma MENINA de 15 anos foi colocada em uma posição absurda na qual ela foi quase obrigada a dançar e dar um selinho em um menino. Aos 15 anos eu provavelmente ainda chorava assistindo o último filme do High School Musical. Todos nós já passamos por isso naquelas festinhas em que a gente ia, essa fase estranha da vida onde a gente tá aprendendo não só sobre a nossa identidade e personalidade, mas também sobre as nossas orientações e sobre a nossa sexualidade, e sofremos pressões de todos os lados pra fazer coisas que a gente nem sabe se quer fazer e posso dizer por experiência própria, coisas que provavelmente a gente não quer fazer e que não estamos prontos pra fazer. Nesse quesito a Maísa deu um show.

Nós já tivemos uma série de exemplos que provam que tentar transformar crianças em adultos não dá certo, e hoje os mesmos que criticam a atitude da Maísa e que dizem que seu comportamento foi ofensivo e mal educado, são os que replicavam e alimentavam as notícias da Lindsay Lohan, do Macaulay Culkin e das tantas outras crianças que tiveram a sua infância cortada pela raiz. Por enquanto eu faço um pedido: pelo amor de deus, deixem as nossas crianças serem crianças.

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