Eita, assunto difícil, né?
A Mallu Magalhães tava sumidona há anos e reapareceu há uma semana com “Você não presta“, um sambinha fraquinho, mas bem dançante. Porém, música é questão de gosto e não é disso que quero falar. A música foi lançada junta do seu clipe que é ambientado em uma obra mal acabada, algo que lembra periferia. É óbvio que rolou polêmica e Mallu foi acusada de ter se apropriado da cultura negra, porque além do ambiente em si, o vídeo conta com Mallu e outros dançarinos todos negros em uma situação estranha.
Depois de assistir o clipe e ler alguns textos sobre essa discussão, algumas questões como essas vêm a cabeça: o clipe é feito fora de seu local? É. Parece que ela é rainha do rolê e os bailarinos maravilhosos seu “bando”? Sim, eles não têm contato direto, parece mais parte do cenário. O figurino da Mallu é bem diferente do dos dançarinos? Sim, a vestimenta deles dá um ar de hiper sexualização do corpo negro.
Talvez a intenção fosse deixar algo cool com referências do hip hop (no clipe, não na música) e até fazer uma certa inclusão, mas deu um pouco errado.
Mas a música é bem gostosinha daquelas que vou incluir na minha playlist, confesso.
Alguns dias após as críticas, a Mallu fez um post em seu Facebook oficial com um pedido de desculpas e que não tinha intenção de ser racista. Leia na íntegra:
Fico muito triste em saber que o clipe da música “Você não presta” possa ter ofendido alguém. É muito decepcionante para mim que isso tenha acontecido. Gostaria de pedir desculpas a essas pessoas. Meu trabalho e minha mensagem têm sempre finalidade e ideais construtivos, nunca, de maneira nenhuma, destrutivos ou agressivos.
A arte é um território muito aberto e passível de diferentes interpretações e, por mais que tentemos expressar com precisão uma ideia, acontece de alguns significados, às vezes, fugirem do nosso controle.
Sei que o racismo ainda é, infelizmente, um problema estrutural e muito presente. Eu também o vejo, o rejeito e o combato.
Li cada uma das críticas, dos posts e comentários, e o debate me fez refletir muito sobre o tema. Entendo as interpretações que derivaram do clipe, mas gostaria de deixar claras minhas reais intenções.
A ideia era ter um clipe com excelentes dançarinos que despertassem nas pessoas a vontade de dançar, de se expressar. Foram convidados pela produtora e pelo diretor os bailarinos Bruno Cadinha, Aires d´Alva, Filipa Amaro, Xenos Palma, Stella Carvalho e Manuela Cabitango. Com a última, inclusive, tive a alegria de fazer aulas para me preparar para o vídeo.
É realmente uma tristeza enorme ter decepcionado algumas pessoas, mas ao mesmo tempo agradeço a todos por terem se expressado. E reitero o meu pedido de desculpa. É uma oportunidade de aprender.
Espero que, após este esclarecimento, seja aliviado deste espaço de conversa qualquer sentimento de ofensa ou injustiça, ficando os fundamentos nos quais tanto acredito: a dança, a arte e o convite à música.
Sinceramente acho que a arte tem sim sua liberdade, mas estamos em 2017, o assunto de apropriação e papel do negro na sociedade está sendo muito discutidos há pelo menos dois anos, não dá pra vacilar, não dá pra cometer erros desse tipo.
Caso você não tenha assistido, veja aí:
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