criança caneca

Quando somos crianças nossos pais tentam nos defender, em vão, dos perigos e dores do mundo. Tenho e sempre tive uma dificuldade enorme em aceitar a velhice. A passagem dos anos me assusta, não porque eu tenho medo da morte, afinal, a morte é inevitável, mas porque eu tenho medo de viver uma vida sem sentido, uma vida em vão. Me assusta muito a possibilidade de não ter lucidez e independência na minha velhice. Tenho medo do esquecimento. Tenho medo de acordar com 60 anos e perceber que fui infeliz, que deixei de fazer coisas que gostaria de ter feito por medo. Gostaria de ter permanecido criança nesse aspecto, as crianças sonham sem medo. O excesso de planejamento e de realidade dificulta a nossa necessidade de sonhar.

As amizades não duram pra sempre, infelizmente. Aprendi com sabedoria que os amigos são a família que nós podemos escolher e que nem sempre as pessoas são exatamente o que parecem. Quando eu era criança sempre pensei que meus amigos seriam os mesmos pra sempre, talvez porque fosse dolorido demais aceitar que em alguns anos meus amigos seriam outros e que meus amigos de antes teriam outros amigos agora. Não sei aceitar isso muito bem, essa nossa liquidez e efemeridade. Mas, como era de se esperar, eu mudei e meus antigos amigos também mudaram, o que fez com que nossos caminhos não fossem mais para os mesmos lados. Hoje sei que a nossa vida é um compilado de experiências, que só valem a pena quando compartilhadas com as pessoas que nós amamos e que o tempo e as nossas escolhas tratam de afastar da nossa vida, pessoas que a ela não acrescentam, afinal, os amigos são almas afins.

Acredito verdadeiramente que as pessoas ficam na nossa vida pelo tempo que elas devem ficar, gosto de pensar naquela frase de Saint-Exupéry, “cada um que passa em nossa vida, leva um pouco de nós mesmos, e deixa um pouco de si mesmo. Há os que levam muito, e há os que deixam muito, mas não há os que não deixam nada”, e algumas pessoas deixaram muito de si, em mim, talvez eu tenha deixado muito de mim em algumas pessoas também. Talvez algumas pessoas surjam na nossa vida para serem passageiras e penso em quantos amigos eu conheci através de pessoas que foram passageiras na minha vida.

Lembro perfeitamente quando três anos de idade era uma diferença absurda, hoje tenho amigos de 30 anos que mantém conversas por horas a fio comigo. É assustador perceber que a vida passa, assustador perceber que o corpo é frágil e que realmente somos só ossos e órgãos como em um daqueles episódios do CSI. Hoje sei que o ser humano é perfeito em todas as suas extensões e que não somos imortais. Tive que perder alguns amigos pelo caminho pra aprender isso. Nesse aspecto eu também gostaria de ter permanecido criança.

Ninguém te conta que a vida, ás vezes, não é colorida e que a justiça é só pra alguns. Ninguém te conta sobre a desigualdade e, principalmente, ninguém te conta sobre o sofrimento; é algo que acabamos por descobrir sozinhos, mas esse é o grande desafio da vida, não? Agradeço por todas as coisas ruins que vivi, pois delas vieram os grandes aprendizados da minha vida. Eu adoro errar, pra ter a oportunidade de aprender com esses meus erros. No fim, somos feitos dos nossos erros. Realmente, é difícil alimentar todos os dias a felicidade de uma criança, mas se me perguntassem há alguns anos o que eu imaginava que aconteceria dali alguns anos, eu responderia mil coisas, pensando somente em uma: eu quero mesmo é ser feliz.

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