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Lembra ainda da tal crônica do Gregório Duvivier? Pois é, aquele texto me trouxe a reflexão do que é o amor, do que é o amor materno, e por isso, permitam-me contar a minha história.

Não nos conhecemos no jazz, nem em uma balada alternativa, nos conhecemos através de enjoos e atraso da menstruação. Estava tentando me enganar que a culpa era da bebida de um carnaval na praia com as amigas, mas no fundo sabia que não era isso. Foi então, que em um xixi num palito, eu… Não, eu não me apaixonei por ele, eu tive medo dele.

Drama, medos e insegurança… Foi decidido que ele ficaria na minha vida (e a decisão não foi minha).

Com o tempo passando, fomos nos acostumando um com o outro, ele continuava me dando enjoo e me fazia ficar cada dia maior, mas mesmo assim, aos poucos, o amor foi surgindo, assim como pontapés, uma bexiga reduzida e os pulmões espremidos.

Questionava-me como seria nosso futuro, se daria conta de mais uma pessoa, já que ainda nem sabia me cuidar (muito menos me bancar sozinha!), mas no fundo eu sabia que daria conta. Algo dentro de mim dizia que fomos feitos um para o outro (ou na verdade um do outro, tanto faz!) e me dei conta que a minha vida havia mudado completamente.

Não ache que esse amor que sinto hoje por ele, veio de uma vez só, ou que no momento em que o vi pela primeira vez, o amor estava pronto lá. O amor foi sendo construído dia após dia, mas sempre soube que daria mais do que podia por ele.

Ele me ensinou que não tinha tanto nojo de trocar fralda de um bebê, que me sacrificaria ao máximo para poder amamentar (mesmo que fosse uma das piores dores que eu já tivesse sentido) e pra ser sincera, me senti uma vaca leiteira por muitas vezes, sempre com as roupas manchadas (e azedas) de leite e nas outras vezes que não eram leite, certamente era vômito do refluxo dele.

Dormir, já não seria mais minha prioridade na noite, mas sim o ver dormir bem, mesmo que eu tivesse que ficar sentada na cama, em uma posição completamente impossível de ter um sono tranquilo.

Um dia ele gosta de uma porca rosa, outro dia sai jogando bolas para capturar animais estranhos que estão habitando o mundo imaginário da cabeça dele. Vão existir momentos que você vai pedir que ele caminhe e fale, você espera ansiosa por esse momento, mas em outros tantos, você vai pensar: “porque quis tanto isso?”.

Mas calma, quando você achar que já aprendeu tudo, ele vai mudar. Sim, eles mudam e muito mais rápido que você possa imaginar!

Você vai aprender a controlar batatas nos pés do seu filho em meio uma febre de mais 40° e também vai aprender que se você pular alguma soneca do dia, você terá grandes problemas (e você vai se arrepender profundamente disso!).

Os brinquedos não serão guardados como você pediu, ele vai sujar a roupa pouco antes de vocês saírem para o aniversário do coleguinha dele e ele vai chorar muito quando você colocá-lo de castigo.

A alimentação dele não será como você imaginava/esperava, o sono noturno será muito mais complicado do que os livros explicam, a vontade de querer sumir por uns dias vai aparecer.

Ele me fez ter mais olheiras, estrias e uma pochete (e não é a que você está pensando, infelizmente) que me acompanha todos os dias. Ele vai te fazer abrir mão de um emprego, de alguma balada com os amigos e mesmo que você não abra mão de alguma coisa, no início você vai se sentir a pior pessoa do mundo.

Sua comida por muito tempo não será mais ingerida na temperatura na qual foi servida no prato (e não pense que em família, alguém irá te ajudar para que você consiga isso) e muitas vezes, seu almoço será o que ele deixou no prato.

O chulé dele será um dos melhores perfumes para seu olfato e você vai descobrir que instinto materno não fala tão alto assim, que muitas vezes você vai achar que ele está com sono, mas ele só está com a fralda cheia e você esqueceu de trocar (sim, você vai esquecer de trocar a fralda cheia de número dois, alguma vez isso vai acontecer, te garanto!).

Um dia você vai estar cansada, sentindo que não irá mais conseguir, que não vai dar conta de tudo e ao colocar ele na cama e ele suspirar para um sono profundo e relaxado, você vai perceber que amanhã é um novo dia e ele dormiu achando que tem a melhor pessoa do mundo ao lado dele.

Alguns dias você vai deixar a louça na pia, outros vai deixar a roupa para dobrar virar uma grande montanha, e em certos dias você vai perceber que você não tomou banho no dia anterior (experiência própria!).

Não conversamos sobre gastronomia, política e desigualdade social. Conversamos sobre os milhares de brinquedos que ele me pede durante dia, assistindo os comerciais da televisão, os poderes dos super-heróis e algumas vezes sobre como chorar para ganhar alguma coisa não irá funcionar (ok, algumas vezes ele ganhou essa disputa!).

A maternidade de verdade não tem poesia, muito menos todos aqueles sorrisos do comercial de fraldas descartáveis ou margarina. Na maternidade real está na entrega do eu para a criação de um novo ser humano.

É a esperança de estar formando uma pessoa melhor e dando a ela autonomia de fazer o mundo da forma que ela imaginar, mesmo que um dia essa imaginação venha por água abaixo quando ele descobrir que eu escondia (vou sempre esconder) chocolate dele para poder comer sozinha.

Na realidade é muito mais difícil e complicada do que qualquer pessoa já pode descrever (esqueça os livros tradicionais de maternidade), isso tudo você só vai perceber, quando viver e mesmo quando viver, você pode achar algumas coisas mais complicadas do que eu, outras nem tanto, mas é aí que está a maravilha de ser mãe.

Esse mês, pela primeira vez, eu me peguei listando os motivos pelos quais eu abri mão de tanta coisa para poder estar mais presente na vida dele. Achei que fosse chorar. E o que me deu foi uma felicidade muito profunda de poder acompanhar o crescimento e desenvolvimento dele mais perto, e assim, estar vivendo junto com ele a sua primeira infância, feliz e cheia de uma energia que mal cabem dentro de um corpo tão pequeno, um coração tão puro, o grande amor da minha vida. Não falta nada.

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