leticia glai

Pensávamos muito diferente na década passada. Em 2004 o mundo era bem diferente como um todo. Aprendemos mais sobre a força indomável da natureza depois que uma tsunami varreu  o sudeste da Ásia. Aprendemos depois de 2004 que o conservadorismo que reelegeu Bush no mesmo ano, matou por ódio e ganância milhares de pessoas. Aprendemos inclusive a evitar escadas e inimigos depois que a espetacular Renata Sorrah interpretou a lendária vilã Nazaré. Foram muitas as coisas que levamos de 2004, mas a tolerância ao machismo não foi uma delas.

A mulher de 2016 é consciente. Ela sabe, lê, acompanha e ensina. A mulher de 2016 exige, se impõe. A mulher de 2016 produz para  mulher de 2016. E tem mais, a mulher de 2016 não deixa passar.
Fomos por séculos tolhidas de direitos básicos. Fomos por séculos mantidas sobre o olhar da objetificação. Fomos feitas de escravas, enfeites. Nossas conquistas eram notas de rodapé. Aprendemos que nosso valor era medido pela nossa beleza e de como bem fazíamos despertar o interesse masculino. Fomos criadas para sermos seres não sexuais, mas que quando sexualizadas, que fizéssemos do nosso corpo moeda de troca.

Em 2004 eram poucas as mulheres que falavam sobre isso tão abertamente. A informação sobre nosso poder feminino era elitizada, não chegava a grande massa em colunas jornalísticas. Em 2004 não tínhamos nem metade da voz, organização e poder de fala que temos hoje, e olha que as conquistas que celebramos regadas a suor, sangue, saúde mental e física ameaçadas, ainda são poucas pelo que devem a nós como direitos básicos fundamentais.

A mulher de 2016 sabe muito bem que um texto de ficção é só um texto de ficção. Ela produz textos maravilhosos também. Mas a mulher de 2016 não precisa e nem vai mais se calar ou ser simplesmente silenciada. Ela não aceita mais ser posta em uma posição que não a agrada para entreter caprichos. A mulher de 2016 entende que  éramos todos diferentes em 2004. Ela perdoa seus textos e pensamentos retrógrados. Ela entende que a desconstrução leva tempo. Mas ela não admite que você volte a espalhar a ideia de que pra ela crescer, precisa se vender. Que assédio sexual é ok.

Ela sabe que será vista como extremista. Louca. FEMINAZI. Até pq lutar por direitos básicos e exigir respeito enquanto mulher é exatamente igual a invadir a Polônia, né? Nos preservem.

A mulher de 2016 não tem medo de ser a chata do rolê. Não tem medo de apontar o erro do macho alfa e dizer: “Senta com a gente, vamos conversar, eu vou te ensinar algumas coisinhas“.

Ela não celebra mais o abuso como “sorte” pq ela sabe que vale mais do que uma melhoria de salário, um cargo melhor. Ela não sabia que podia ser mais do que isso. Mas hoje, minhas caras… Hoje nós sabemos. O homem sempre acha que sabe muito sobre o que é ser mulher. Mas eles não sabem nem de metade. E se eles esperam que assim como 2004, nós deixemos o machismo passar, eles realmente não tem ideia de como uma mulher pode fazer barulho.

Agora imaginem várias.

Me passa a tequila e vamos brindar a Letícia que nos tornamos.

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