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Eu sou daquela geração que chamaram de Y. Ou a geração do milênio. A minha geração se desenvolveu em uma época de grandes avanços tecnológicos e prosperidade econômica. Teve grande contato com a informação, e ao bem da verdade, gozou muito do trabalho duro dos nossos antecessores. Os meus pais eram da geração X, aquela de bater ponto, ralar pra caralho e guardar dinheiro. Foi-me ensinado que eu tinha que estudar, me especializar, aprender línguas, e adquirir habilidades. Escolher uma carreira – que eu fiz aos maduríssimos 18 anos (ironia aqui) –  e seguir nela em uma crescente contínua de sucesso e ascensão salarial. Juntar uma boa aposentadoria e planejar uma vida tranquila. Esse era o plano.

Acontece que como os meus pais ralaram para caralho, numa forma natural de proteger e preparar a geração da prole, eu também aprendi a não arriscar muito. Sendo assim, eu via grande maioria da minha geração buscando ser o funcionário do ano, correndo atrás de um aumento, fazendo MBAs e colecionando certificados, tudo muito programado e previsível, entretanto, inventando muito pouco. A geração Z, que veio depois da minha, aquela galera que tem hoje 20 e poucos anos, essa turma veio imensamente mais arrojada para o mercado de trabalho, metendo o pé em tudo que antes a gente conhecia sobre negócios. Com seu ar de rebeldia e suas ideias “inovadoras” para os velhos formatos, essa turma não se viu com outra alternativa a não ser inventar a própria profissão.

Assim, vieram os bloggers, vlogers, e toda geração snapchat, não apenas ignorando tendências, mas vestindo-as do avesso, e reunindo grandes cifras, com aquilo que a minha galera dos quase 30, achava possível apenas pros sortudos de grandes corporações como o Google. A nova geração começava a provar que diversão podia ser parte de ambiente profissional, que “horário comercial” era bem diferente de horário produtivo, e decidiram desafiar tudo aquilo que a gente entendia como geração de valor. De repente, inteligência não era mais tão importante quanto conteúdo. Experiência estava batendo de frente com inovação. E enquanto eu batia cartão, infeliz na minha ilha de trabalho, dentro das escolhas que eu fiz num passado distante, tinha uma Maranhense chamada Thaynara OG ganhando cachês gordos com seu cotidiano e carisma.

Entre a geração dos meus pais e a geração Z, a minha galera se viu em um grande coletivo de cagalhões. Explico: ficamos entre a geração que não arriscava nada e focava em produtividade e consistência, e a galera que arriscava tudo e focava em inovação e fluidez. Ou seja, viramos aquela turminha perdida entre dois extremos. Conversando com amigos da minha geração, percebo um terrível medo de investir e expor novas ideias, arriscarem-se em novas carreiras, baseados num pré-julgamento de que nada é tão bom que já não tenha sido inventado, ou mesmo que não vale a pena trocar o certo pelo duvidoso.  E aqui nos ficou faltando a grande vantagem da geração Z, que é justamente a coragem de tentar novos jeitos de comunicar, criar e expandir. Assim como também nos faltou a grande qualidade dos nossos pais, que foi a persistência em trabalhar duro, promovendo a consistência – mas aí dentro de nossos próprios negócios.

A minha geração tem medo de se assumir. Seja como os que se acomodaram ao modelo de “trabalhar-pagar conta-morrer”, ou como aqueles que dariam um dedo pela chance de se arriscar por caminhos menos previsíveis – com novas empreitadas, viagens, trajetórias. A gente ficou no limbo de duas gerações convergentes, e por vezes conflitantes.

Aos 30 e poucos, vemos muitas pessoas parando para pensar no futuro  – talvez porque essa é uma idade onde a gente achava que ia ter mais certezas do que dúvidas, o que não se confirmou. Os nossos pais, muitos já gozam da aposentadoria, enquanto os nossos irmãos mais novos estão trabalhando em coworkers ou startups querendo mudar o mundo, e a gente ali, tentando entender o próprio espaço. Mas aí veio o cenário econômico caótico e deu um empurrãozinho. Empresas começaram a quebrar, quadros de funcionários começaram a ser reduzidos, vagas ficaram cada vez mais escassas. As redes sociais ampliaram nossa capacidade de comunicação na décima potência. E o estado de espírito da sociedade começou a clamar por mais felicidade, paz de espírito e outras formas de plenitude e auto realização.

Lentamente, a turma dos inventivos latentes (como eu), começaram a colocar a cara no sol. Os wannabe empreendedores iniciaram o processo de sair do armário. E os criativos, pararam de encarar suas produções como hobbies, mas como possibilidades reais de negócios. Pode ser que com esse mercado de alta instabilidade, seja mais tolerável arriscar em novas empreitadas. Assim quem sabe, a geração Y vai finalmente deixar de ser cagalhona, e usar a experiência que tem unida a inventabilidade jovial da qual faz parte. Ou que o limbo que vivíamos antes amedrontados, neste novo momento econômico, vire o melhor dos dois mundos. Com menos medos, e mais frutos.

Talvez agora eu tenha coragem de lançar o meu livro. Você abra uma quitanda online ou crie uma cerveja artesanal que não dá barriga. Quem sabe aquele seu colega de trabalho bote em prática a reciclagem de CDs que uma vez ele cogitou. Talvez todos nós deixaremos de ser egoístas abraçados em nossas dúvidas, e seremos mais generosos com o mundo dividindo os nossos talentos.

Porque medo todo mundo tem. Supera-lo não me parece mais apenas uma escolha, mas um novo estilo de vida.

antonianodiva.com.br

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