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A internet realmente empoderou as massas. Sim, ela jogou na mão do mainstream a possibilidade de lançar as suas ideias no mundo, coisa que antes era dominado pura e simplesmente por grandes veículos de comunicação. Hoje somos todos formadores de opinião, aliás, desculpe-me, não somos… isso já é passado, hoje somos todos digital influencers. E a cultura desta comunicação ampla e colaborativa trouxe inúmeras contribuições positivas, é claro. Temos acesso à informação em profundidade no mundo inteiro, ficamos pertinho de acontecimentos significativos ou personalidades que admiramos,  e principalmente, todos nós ganhamos voz. Essa amplificação da opinião pública possibilitou o enriquecimento de opiniões, o fortalecimento do diálogo e a tolerância quanto a divergências.  Será?

Será que estamos fazendo a nossa parte nessa conversa?

Calma, não estou aqui alegando que cada pedaço de ideia que saia da sua boca ou do status do seu Facebook tenha o dever de ser uma pérola. Mas comprometer-se com o pensamento crítico faz bem. Hoje, entretanto, criamos uma cultura onde ser visto, ficou mais importante do que ser relevante. Alimentados pela fome de “likes”, a nossa comunicação virou um “megafone do causar”. Do polêmico. Do viral.

Não basta ter uma opinião, ela tem de ser feita através de manifestantes defecando em fotos de políticos em praça pública. Hoje não podemos apenas ser diferentes, precisamos vender nossos mamilos na internet. Esqueça a metáfora. O jovem Karim Boumjimarm literal e cirurgicamente removeu os mamilos e está os ofertando por 10 mil libras em leilões online. Ele alegou ao site inglês “Mirror” que como humanos, temos todos a mesma anatomia e ele decidi fazer o que quisesse com a dele. Justo? É claro! Relevante?

A grande preocupação que me causa esta necessidade de atenção constante, é que perdemos um pouco (muito) do contato com a realidade e desvalorizamos as alegrias menos bombásticas. Hoje não basta estar bebendo com os amigos, uma foto da garrafa Veuve Clicquot no Instagram gera mais corações. A pergunta é por onde andam os nossos corações? Afastamo-nos das pessoas por terem opiniões veementemente expressas contra as nossas, ou porque “a fulana tacou um shade no meu brilho” nas redes sociais. Artistas que antes colocávamos em um pedestal, hoje trocam farpas pelo Twitter se estapeando na fogueirinha das vaidades perante aos nossos olhos. Todo mundo tem que ter a última palavra, num contexto em que um grita e o outro não escuta. E assim vamos moldando novas gerações, que falam, mas não conversam, e fazem de tudo pelo confete e holofote. O importante é ser visto e ser lembrado, não interessa pelo que.

Dias destes perguntei a um amigo, um cara cabeção, super-relevante, porque ele nunca comentava meus vídeos no Snapchat, e ele respondeu na maior sinceridade dizendo que aquilo era coisa de imbecil. “Você é legal, pare de forçar uma persona para a tela do celular” – disse-me assim, na lata, bem vida real. E de fato, me peguei avaliando todas as pessoas que sigo no aplicativo, e percebi o esforço que as mesmas fazem para transformar o próprio cotidiano relevante para o grande público. O cotidiano é maravilhosamente relevante, mas justamente porque é íntimo e aleatório, e não ensaiado para captar seguidores. Talvez eu estivesse mesmo me tornado um pouco imbecil. A culpa não era do canal, como o meu amigo declarou, mas sim da dona da mensagem.

Pouco a pouco, aquele movimento de explosão da comunicação que prometia colaborar com o nosso conteúdo, passou a fomentar apenas o nosso esforço pelo embelezamento do pacote. Pela propaganda alta e impactante. Um perigo para humanidade. Esquecemo-nos dos olhos nos olhos ao conversar, de investir na nossa espiritualidade ou de fazer contribuições construtivas. Nós não temos mais tempo para ser contemplativos, reflexivos. A velocidade das ideias e o desespero de nunca perder o timing da discussão, nos força a sermos apenas reativos e rasos. Muito rasos.  Perdemos a preocupação com a importância do nosso discurso, e focamos na meta de propagá-lo aos sete ventos.

Será esse o legado que queremos deixar para esse mundo? Ver e ser visto, mas não importar pra ninguém?

O paradigma que me cabe quando avalio essa balança entre o “ser visto” e o “ser relevante” é mais ou menos assim: se hoje, ao terminar este post, eu tirar as minhas roupas e sair correndo pelada pela rua cantando bem alto “Cara-Caramba-Cara-Caraô”, eu tenho certeza que inúmeras pessoas irão reparar em mim. A pergunta de fato é, quantas delas virão conversar comigo?

Não deixemos essa nossa necessidade de sermos vistos, ser confundida com a importância de sermos relevantes. Vivemos no tempo das “visualizações”, mas devemos lembrar que como humanos, nós vivemos é de engajamento. Online ou offline.

antoniandoiva.com.br

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