marcela

#BelaRecatadaEdoLar

Precisamos falar sobre Marcela Temer. Aliás, permita-me uma correção, precisamos falar sobre o que falaram sobre Marcela Temer – a “bela, recatada e do lar”, esposa do vice-presidente Michel Temer. Primeiramente não me entenda mal. É indiscutível a beleza de Marcela, não tem nenhum problema em ter um comportamento recatado e muito menos, MUITO menos mesmo, ser do lar. Se todos estes atributos e características forem uma escolha de Marcela. E também vamos tentar deixar de lado um pouquinho a bipolaridade política, porque diferença nenhuma teria esse texto sendo Marcela primeira dama do PMDB, PT ou PV. O problema não é o que Marcela é, ou deixa de ser. O problema é o que a Revista Veja quer que ela seja.

Preciso dizer que meu grelo duro gritou alto ao ver que o infame artigo “ Marcela Temer: bela, recatada e do lar” foi escrito por uma mulher, mas ok, vamos partir do pressuposto que ela atende a linha editorial da publicação para a qual trabalha – e também ao patriarcado do século passado. Aqui no ATL Girls, onde o foco é empoderamento, ficamos possuídas, para dizer o mínimo. Possuídas com o fato de que a “reportagem” vende os principais atributos de Marcela como um golpe de sorte do macho alfa, Michel Temer.

Marcela é formada em direito, decidiu não trabalhar e atender as demandas da família, decisão tomada por milhares de mulheres todos os dias, o que é um direito totalmente natural e comum. Entretanto na contramão está a Veja, com sua publicação direcionando que a “bela jovem” se contentou com o lugar de menor destaque com uma consciência natural de subalternidade. Consciência esta que devia ser enterrada junto com a matéria, em nossa opinião. Não bastasse o “tchau querida” em tom de ironia. Não bastasse o manterrupting durante toda a votação, com mulheres ora interrompidas, ora ovacionadas de “linda!” (oi?!). O principal destaque “positivo” do quórum feminino na politica foi dado àquela que se satisfez em ser “o braço direito do seu homem”. Sendo que a principal chefe de estado deste país ainda é uma mulher (sendo você a favor ou não do impeachment).

Como bem pontuado pela revista AzMina: “Deputados deixaram claro durante todo o espetáculo de diarreia verbal de domingo à noite: eles acreditam que lugar de mulher é em casa e não na política. Pior: acreditam que as mulheres só podem encontrar a felicidade desta maneira. Sua mentalidade estreita não possibilita que percebam que nós, mulheres, existimos em todos os tamanhos e formas e atendemos a diversos modelos de felicidade”.

Guardem suas estacas, antes de queimar as “bruxas feministas mal comidas” nos comentários. Marcela ser bonita, alta, “loiríssima” (como diz a Veja) e magra não é um problema, ela é tudo isso mesmo. Ela ser discreta também não é um problema, até porque este comportamento faz parte do ambiente que ela frequenta. Ela não trabalhar não é um problema. Ter casado praticamente (ou completamente virgem) com um homem 42 anos mais velho que ela, também não. Isso porque todas as escolhas foram dela (ao menos esperamos sinceramente que sim). O que nos espanta é dar o destaque a “futura Grace Kelly brasileira” e oferecer uma salva de palmas a ela por ela ser… “bela, recatada e do lar”. A própria Grace Kelly (deixando seu impecável currículo de atriz de lado), quando se tornou Princesa de Mônaco deixou um tremendo legado social. Assim como Michele Obama tem feito como primeira dama, e a eterna Lady Di em suas expedições mundiais, hoje atendidas pela “sucessora” Duquesa de Cambridge, Kate Middleton. O legado destas mulheres não está em ser bonita, ou recatada ou do lar. Você poderia associar estes atributos a um abajur, se quisesse. O legado delas está no trabalho, na influencia e no resultado.

O problema não é ser Marcela, nem ser bela, nem ser recatada ou do lar. O problema é um periódico da magnitude e alcance da Revista Veja, fazer-nos o desfavor de impor que este seja o arquétipo, ou mesmo o comportamento padrão, adequado ou desejável para as demais mulheres.  E não me venha com esse papinho de que “atrás de um grande homem tem sempre uma grande mulher”, como se isso fosse um conforto. A gente já chegou à era de que atrás de uma grande mulher, normalmente tem ela mesma. Sendo ela bela, recatada, do lar, da rua, rodada, da pá virada, casada, branca, negra, parda, amarela, gorda, magra, gay, alta, baixa… Enfim, se ainda não deu pra entender: sendo ela do jeito que ela quiser. Isso é ter sorte! 

antonianodiva.com.br

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