beijo

Poucas coisas no mundo são tão boas quanto um beijo. Adoro a democracia envolvida na arte de beijar. Sim, porque beijo não é luxo exclusivo dos casais apaixonados. Não, calma lá. Beijo pra valer, basta ser sincero, ter carinho e comunicar um sentimento com os lábios. E isso pode ir desde um “eu te amo” até um “foi muito bom te encontrar” – adoro essa escala ampla e variada da beijação. O ato de beijar exercita o corpo, alivia o estresse da mente, aproxima pessoas, aquieta (e inquieta) a alma.  É uma terapia essa coisa de beijar.

E é terapia uma vez que beijos tem a capacidade de cura, sabe? Beijos de “vai passar” da minha mãe, já curaram muito joelho ralado na minha infância, aliás, curavam mais que Merthiolate. E diga-se de passagem, eu apelo para estes beijos até hoje, em cada coração partido ou sonho quebrado. Beijo de “ora, ora, não fique assim” cura muitos dos males do corpo e da alma. E o mundo, esse nosso, se transformou em um lugar que está precisando de cura pelo beijo, pelo carinho, pela aproximação. A medicina já provou, a gente se cura com contato físico.

Adoro os beijos de “foi sem querer”. Esses beijos tem tendência a comunicar o mais elaborado dos pedidos de desculpas, sem qualquer uso de palavras. Palavras, essas coisas que tropeçam cambaleantes pela nossa boca sempre que a gente está em conflito. O beijo, esse sim, sabe se comunicar como ninguém. Ele consegue prometer o “não vai mais se repetir” junto com o “não queria ter te magoado” num único “smack!”. Beijos de desculpa aproximam dois corações afastados, e relembra o quanto bom é estar pertinho. Beijos de “me perdoa” aquecem a mais gélida das discussões e amolecem o mais turrão dos teimosos. Como ficar alheio a um arrependimento sincero coberto de beijocas?

Tenho uma obsessão por beijos de reencontro ou despedida, daqueles que dizem “estava com/vou morrer de saudades”. Adoro vigiá-los nas chegadas ou saídas de um aeroporto, porto ou rodoviária. Esses beijos de saudade estancam a dor e aliviam aflição com uma precisão cirúrgica. Sim, porque esses momentos são tensos demais para promover qualquer diálogo. Esse beijo tem o poder de transmitir no silêncio tudo que do peito transborda. Eles seguram pertinho quem estava longe, e esticam os últimos segundos com quem está partindo. Beijos de “até breve” desaceleram o relógio, congelam momentos, solidificam memórias. E estes podem vir da vó, da amiga que mora na Austrália ou até os lambeijos do seu fiel companheiro de quatro patas cada vez que ele te encontra.

Amo os beijos de paixão. Sinto a endorfina agir, o coração bombear e a pele arrepiar só de pensar em beijos de paixão. Todo e qualquer batimento cardíaco acelerado vale a pena quando o ímpeto é matar a sede no desejo do outro. Beijos daqueles “que delicia ter você pra sempre” ou dos “tomara que essa noite nunca acabe”. Quem nunca já acordou com os lábios doloridos de paixão? Ou foi trabalhar com o queixo assado porque viveu demais um domingo embaixo das cobertas? Um efeito colateral tolerável e bem-vindo desta terapia, é claro.  Gosto destes beijos roubados e tomados sem cerimônia por quem já é dono da minha afeição. Beijos que não se pedem, daqueles que se tasca! Que te grudam contra uma parede, um amor ou simplesmente contra o tesão. Com mordida no lábio inferior como quem quer levar um pedaço do beijo pra casa, e com direito a uma mãozinha na nuca para auxiliar na tontura. Quem nunca perdeu a linha num beijo de paixão?

E acima de tudo e de todos, os meus preferidos são os beijos de amor. Que podem ir desde aqueles em frente a uma plateia junto a um “até que a morte nos separe” aos mais íntimos, longe dos olhos de todos, e tão sinceros quanto. Beijos de amor que vem do pai zeloso, de uma mãe orgulhosa, ou dos irmãos que fazem toda a vida valer a pena. Beijos de amor entre amigos. Beijos de amor nos filhos que colocamos no mundo para serem amados. Beijos sem diferença de cores e totalmente coloridos. Beijos de amor entre as minas que amam outras minas, entre os caras que amam outros caras, entre as minas que amam os caras e vice versa. Beijos rapidinhos e também os demorados. Beijos de amor na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sape. E beijos de amor, sempre que as palavras não conseguirem dar o melhor de nós. Sempre que faltar tato, faltar argumento ou mesmo se faltar coragem: beijos. E não só hoje, no dia do beijo, mas em todos os outros dias. Não desperdice um dia sequer sem beijos.

Aliás, faço aqui a minha reivindicação. Que o dia do beijo, seja todo santo dia.

Um beijo.

antonianodiva.com.br

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