dr leonardo corteAniversário sempre é um motivo de grande comemoração. É aquele dia do ano em que você recebe todo o carinho de quem te ama, e celebra a sua estreia na aventura alucinante que é a vida. Para a minha família, neste ano, essa festa ficou comprometida. Antes de comemorar os icônicos 27 anos, um de nossos amores partiu sem aviso ou preparação. E quando digo “27 icônicos”, é porque eu mesma tive medo dos meus 27, já que como Janis Joplin, Kurt Cobain, Amy Winehouse e tantos outros,  gozei da minha dose de sexo, drogas e rock n’ roll na juventude. Diferentemente do meu irmão. Esse sim, dedicou boa parte dos anos ao estudo da medicina e à vontade se tornar um médico que faria a diferença.

Vocês que acompanham essa coluna por aqui, podem ou não saber da história dele. Um garoto lindo, de sorriso de olhos puxadinhos, abraços sinceros e médico promissor, que partiu muito cedo e recentemente. Ele não foi uma perda apenas para nós. Como médico, o Leonardo lutava por uma medicina humanizada e acessível, uma comunidade engajada e o melhor para os seus pacientes. Arrisco a dizer, sem nenhuma arrogância, que a saúde em si perdeu, uma vez que esse cara, com a pouca idade que tinha, conseguiu fazer tanto por tanta gente.

Eu entendi o desafio da profissão do Léo em uma ocasião muito pessoal. Um membro de nossa família foi internado para uma cirurgia, e após o envolvimento ativo do meu irmão, a minha família, mesmo que numerosa, acabou não conseguindo repor o banco de sangue. Em uma família composta de 10 irmãos, cada qual com um cônjuge e mínimo de dois filhos (isso sem contar amigos, conhecidos ou benfeitores desconhecidos), você pensaria que a tarefa de apresentar 10 doadores seria fácil. E aí veio a grande surpresa. Três pessoas apareceram no banco de sangue: um primo, o meu irmão e eu. Você pode estar pensando agora “mas que tipo de família é essa?!”  – e eu lhes respondo: uma família exatamente igual a todas as outras. Igual a sua. Com seus compromissos inadiáveis, suas justificativas plausíveis e suas viagens pré-agendadas – assim como todo mundo. E claro, a minha família também se provou vítima daquele eterno sentimento humano de “se eu não fizer…  alguém vai fazer”. “Eu não vou, mas tenho certeza que os outros vão”. Coisa de gente ocupada, assim como você e eu.

Naquele momento entendi a frustração do cara, meu irmãozinho, que agora vestia um jaleco branco. Ele que tinha conseguido leito, médicos, tempo, disposição para ajudar, se via praticamente sozinho na luta por algo tão vital quanto abundante: sangue. Dentro da própria família. Ele ficou muito decepcionado. Seriam apenas 450ml de um cidadão comum. Mas a atitude exigia duas coisas que não estamos acostumados a abrir mão facilmente: o nosso tempo e nossa empatia ativa. Na ocasião, apesar da derrota na minha família na coleta, meu tio foi operado com sucesso e todos os recursos necessários – dentre eles, o sangue.

Aquele episódio me marcou muito, ainda que seria apenas mais um dos inúmeros desafios diários enfrentados por médicos, familiares e pacientes. Apenas mais um desafio enfrentado pelo meu irmão. Depois da minha doação, despedi-me do Leonardo com um abraço demorado, apertando-o forte como quem diz em silêncio “não desiste do teu caminho, da tua luta!”. Ele me devolveu um sorriso cansado, tendo a certeza do que o meu abraço significava. Na saída do hospital passei de pelo corredor do SUS, com tanta gente com menos recursos e esperança do que contava a minha família. No meu carro chorei por gente que nunca conheci. E fiz uma oração para que a melhor pessoa que eu conhecia – o meu irmão – achasse forças pra seguir cuidando dos outros na medicina, sem deixar de sorrir, aquele sorriso fofo de olhos puxadinhos.

Meses depois de o meu tio sair com saúde do hospital, o Leonardo nos deixou, após uma convulsão. Não houve doação ou intervenção que o salvasse, uma vez que algumas partidas não têm aviso prévio ou mesmo uma despedida. Neste 15 de Março é o primeiro aniversário do Léo que não teremos seu sorriso por perto. Assim a minha família se viu com dificuldade de encarar seu aniversário, e comemorar uma vida tão linda, depois de um final tão doído quanto inesperado. A atitude óbvia era ficar em casa chorando a falta dele. Sem bolo, sem balão, sem abraços. Mas o meu irmão, através da própria determinação nos desafios da vida,  nos ensinou a nunca desistir. Como também nos fez entender  que algumas histórias de vida, merecem ser celebradas mesmo depois dela.

#MeuPresenteProDrLeo

Foi assim que decidimos fazer do aniversário do Leonardo, um dia para alegrar outras famílias ou até evitar outras despedidas, promovendo a doação de nosso bem mais precioso: a nossa vida. Bem, na verdade, apenas 450ml dela. Comprometemos-nos que até o dia 15 de março reuniríamos o mínimo de 27 doadores de sangue e medula óssea. Um doador por cada ano que o Leonardo nos honrou (e “depois que batermos a meta vamos dobrar a meta” já diria a presidente).  Sugerimos que as doações sejam feitas no hospital ou hemocentro de sua preferência, importando apenas a aderência nesta corrente do bem.  Assim ao invés de lembramos da enorme falta que esse cara nos faz, você estaria ajudando a celebrar tudo aquilo que ele nos ensinou.

A Rede Atlântida me convidou a contar esta história, porque o resultado dela pode ajudar muita gente a celebrar seus aniversários em vida. E isso só depende de você. Gente que você nunca viu na vida vai agradecer. A minha família vai agradecer. Eu vou agradecer. E o Leonardo – bem, o Leonardo diria que esse é o mínimo que todos nós devemos fazer – então faça!   Você está convidado para o aniversário do meu irmão no dia 15 de março. O presente? Sua doação de sangue e cadastro no banco de medula óssea. Confirme sua doação por aqui, mande sua foto e compartilhe essa ideia. Assim, nós vamos encher essa data de vida, amor e solidariedade – exatamente como o meu irmão e muita gente que precisa, gostariam.

Obrigada pela participação daqueles que já aderiram a este movimento. E à todos vocês que irão juntar-se a nós!

Informações sobre doação aqui! 

antonianodiva.com.br

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