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Se você acompanha o ATL Girls, a essa altura já sabe que toda semana postamos uma pequena entrevista com mulheres incríveis e inspiradoras que resolveram encarar (sozinhas!) temporadas morando em lugares exóticos mundo afora.

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Já conversamos com brasileiras que foram para Turquia, Vietnã, Marrocos, Finlândia, Índia e até Ucrânia, mas já que estamos falando de países exóticos, que tal olhar pra dentro e entender que o Brasil é um país beeeem diferente para grande parte dos países de primeiro mundo?

Quando pensei nisso, na hora me lembrei da linda Erica. Minha amiga, querida, corajosa, talentosa and… ITALIANA. Ela passou mais de 2 anos morando aqui mesmo, em Porto Alegre. Logo ela, que é de Milão, escolheu nosso portinho pra passar uma temporada. Ela nos contou tudo o que passou por aqui e o que pensa sobre o nosso país (e sobre nós, brasileiras). Vem ver! <3

Conta pra nós qual cidade tu morou aqui no Brasil e por quanto tempo tu vai ficar por aqui!

Visitei várias cidades, mas só morei em Porto Alegre. Fico aqui até fevereiro de 2016!

Como foi a escolha do local: por que Brasil?

Trabalho como designer e sempre quis ver como poderia desenvolver projetos fora do meu país. Em Milão conheci muitos brasileiros que moravam lá e que depois voltaram para sua terra. Como tinha muitos amigos aqui e já falava um pouco de português, achei que o Brasil poderia ser uma boa base para começar a minha experiência fora da Itália. Final de 2013 fiz as malas e vim para Porto Alegre.

O que tu achou mais diferente da Itália, qual foi o maior choque cultural?

Perder um pouco da minha independência. Na Itália, eu estava acostumada a me locomover a pé, de bicicleta e transporte público, a qualquer hora do dia ou da noite. Era um prazer sair do trabalho, atravessar o parque e encontrar os amigos para tomar uma cerveja, indo e voltando sozinha, sem medo de que algo ruim possa acontecer comigo. Essa sensação de medo constante foi meu maior choque.

Quais foram os encantos e desencantos que você encontrou no Brasil?

Natureza foi o maior encanto. Poder estar rodeada de tanta beleza natural inspirou muito no meu trabalho. Comecei a desenhar mais plantas e flores nas ilustrações e estampas que faço. Quando fui ao Rio de Janeiro, passei quatro horas sozinha no Jardim Botânico!! Curtir a parte da natureza do Brasil me deixou apaixonada por esse país. E falando em paixão e encantos, encontrei nessa viagem alguém que me trouxe amor, o meu namorado Martim com quem compartilho minha vida aqui.

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O povo, todo mundo sempre foi muito querido e disponível comigo. Sempre fui muito bem acolhida, criei muitas parcerias de trabalho e construi vários laços de amizade. No primeiro ano morei com a família de uma grande amiga, hoje posso dizer com grande prazer que considero eles minha família brasileira.

O desencanto maior foi ver tanta pobreza, vivendo ao teu lado, no cotidiano e mesmo que tu possa fazer algum pequeno gesto para ajudar, nunca vai bastar para resolver. Isso é triste.

Tu é italiana, mora em um continente rico e um país desenvolvido. Como foi pra ti encarar as dificuldade de um país com tantas diferenças sociais como o Brasil?

No começo foi pesado, eu ficava irritada com muitas coisas, até mesmo as pequenas como não ter escrito o horário do ônibus na parada, por exemplo, já me deixava sem paciência. A pouca organização que não está presente mesmo em coisas básicas, coisas públicas, que deveriam ser as primeiras a funcionar. Isso me deixava muito brava.

Depois, o tempo passa e eu aprendi que aquela parada está bem ali, ao lado daquele poste de luz e o ônibus chega sei lá quando, mas chega. Então tu sempre vai um pouco antes e se tem sorte tem alguém que vai esperar junto contigo e trocar uma ideia.

Tu sentiu alguma diferença entre Itália e Brasil, na prática, por ser mulher?

Depois de um tempo, entendi que aqui a mulher tem um “cargo desafiante”. Ao mesmo tempo que cada uma vive a sua vida, parece que manter um padrão de beleza é uma obrigação. Tão arrumada, tão perfeita, em qualquer ocasião, seja no parque correndo ou no super comprando pão de queijo. Desde tão jovem se preocupar tanto com o fator estético deve ser cansativo e parece que as mulheres aqui vêem isso como algo necessário para não ser deixada de lado.

As mulheres brasileiras, ao meu ver, são lindas! O gene da beleza aqui não falta mesmo, isso é uma realidade. Vocês são o conjunto de etnias diferentes e por isso cada uma tem algo diferente e especial, algo único. Toda essa produção as vezes chega até a tirar essa individualidade linda que vocês têm. Tive o prazer de conhecer muitas mulheres brasileiras: jovens, adolescentes, meninas, empregadas, mães, amigas… e todas têm uma coisa em comum: uma grande força de espírito, trabalhadoras, determinadas, parceiras. Isso sim, essa força, é parte de toda brasileira. Com ou sem maquiagem!

Morar no Brasil é considerado exótico para os italianos, certo? Qual a vantagem que tu vê em morar em um local assim, menos tradicional?

Muito exótico mesmo! Algumas pessoas, ao saberem da minha vinda pra cá, comentaram: “que beleza, só praia, palmeiras, boa vida, samba e amor”, mas não era o que eu estava procurando e o que eu imaginei vindo pra cá. Meu objetivo era desenvolver projetos em um mercado novo, poder abrir portas. O fato de eu ser italiana e trazer um ponto de vista diferente ajudou muito para eu criar parcerias e projetos em conjunto, dando vida a algo mais original, inovador. Se eu não tivesse vivido aqui, isso nunca seria possível!

Desenvolvi trabalhos em muitas áreas: ensino, moda, publicidade. Isso me deu a possibilidade de aprofundar meu trabalho e diferenciar meu currículo, algo que se fosse em outro país da Europa, por exemplo, não sei se seria tão forte. Estou lançando a minha própria marca, a Bluink, que é o conjunto da paixão por decoração entre duas pessoas de culturas diferentes, mas com o mesmo objetivo: eu, italiana e minha sócia Fernanda, brasileira. Tudo isso deu um grande valor ao meu trabalho.

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Tem alguma história especial, engraçada ou inspiradora que aconteceu nesse período que tu esteve aqui e que tu possa nos contar? Algo que só aconteceu por que era aqui que tu estavas?

Acho que o mais engraçado sou eu mesma, com meus erros, o meu trocar e inventar palavras e nome. Já perguntei se íamos comer no rolê da pizza (queria dizer rodízio de pizza!), falei que estava gengibre, quando queria dizer que estava sensível! Chamei xuxu de xixi em um restaurante! Tudo isso faz parte da minha história especial aqui, inclusive as risadas que todos dão do meu jeito “fofo” de falar, como me dizem por aqui!

Como essa experiência influenciou na tua vida?

Viajar sempre muda a gente, ainda mais quando o local vira tua nova casa. Muda tudo, por que tem que reconstruir a tua zona de conforto e no começo tu está sozinha nela. Com o tempo, tem que montar o quebra-cabeça, em que cada pedacinho (os lugares, a cultura, as pessoas…) é uma parte nova e não é fácil encaixar tudo rapidamente. Pensei muitas vezes em querer voltar para “casa”, aquele ambiente familiar em que tudo é mais simples. A parte boa dessa saudade é reconhecer um grande e verdadeiro amor pela própria terra, se sentir parte de uma cultura e se juntar a uma outra.

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O Brasil me deixou mais forte, mais segura no meu trabalho. Me deu de presente amigos, amor, famílias, lembranças que vão me acompanhar, músicas que vou seguir escutando, sabores que vou manter vivo na minha cozinha. Sendo eu uma ilustradora, gosto de pensar que o Brasil me deu aquele toque de cor vibrante e vivo! O tempo passa e devagar a gente descobre que outro lado do planeta também pode virar nosso lar.

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Se tu pudesse dar um conselho para outra europeia, que pensa em vir para o Brasil mas tem dúvidas, o que tu falaria?

Não espera encontrar só aquele estereótipo exótico que muitas pessoas falam. Tem muito mais! Seja curiosa, vai e descobre do teu jeito. Vive o Brasil no seu lado bom e aceita e aprende com o ruim!

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E se o conselho fosse para mulheres brasileiras, se tu precisasse falar alguma coisa que tu acha que tu só percebe por ter vindo de fora, o que seria?

Tem muitas pessoas aqui que tem oportunidade de viajar, mas a maioria das vezes vão para fora do país. O meu conselho é: comecem aqui, dos infinitos lugares bonitos que estão dentro desse imenso país.

Sempre é fácil falar algo ruim sobre o Brasil, muito se escuta do que não funciona, mas tentem considerar as qualidades daqui. Amem esse país, pensem que é algo precioso. Sintam-se orgulhosas e valorizem ao máximo essa cultura que é rica de qualidade. O país de vocês É vocês!

Erica, se quiser falar mais alguma coisa que não esteja nas perguntas, fica à vontade, vamos adorar!

Queria agradecer a Celina por ela ter me dado a possibilidade de responder todas essas perguntas. Eu nunca tinha imaginado que sentar para pensar e responder sobre o significado da minha viagem me levasse a refletir tanto sobre ela e sobre a minha vida, em detalhes. Isso me deixou mais próxima de tudo que já vivi aqui, me fez pensar em quanto de verdade mudei e de quanto essa experiência foi importante!

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 Inspiração pura essa Erica, né? <3

Se quiser conhecer mais do lindo trabalho da Erica, acessa o Facebook dela e também olha que lindo o site da marca que ela acaba de lançar com sua sócia brasileira.

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Tem uma história parecida com a das meninas que já conversamos aqui e quer dividir com a gente? Vamos adorar publicar aqui a sua experiência! Escreve para o blogatlgirls@gmail.com nos contando onde você morou, e nós te mandamos as perguntas!

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