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Bora começar a terça-feira com inspiração? Seguindo nossa série de posts com a tag #penaestrada, hoje postamos a conversa que tivemos com a querida Betina, que morou “apenas” no Vietnã durante 8 meses. Não tem como não ficar curiosa com a história da Beti, por isso, conversamos com ela e ela contou tudo pra gente! <3

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Caso você não tenha acompanhado, semana passada inauguramos uma série de posts de mulheres incríveis que fizeram longas viagens sozinhas em lugares exóticos. A gente admira tanto mulheres corajosas e que fogem do lugar-comum que não pudemos deixar de conversar com elas. Olha a história da Turquia da Sofia no primeiro post da série!

Qual cidade você morou no Vietnã e quanto tempo ficou por lá?

Oi gente! Bom, fiquei 8 meses no Sudeste asiático, morando em Ho Chi Minh (também conhecida como Saigon) no Sul do Vietnã. Durante esse tempo fiz dois mochilões, um pelo norte do Vietnã e e outro por Camboja, Laos, Thailandia e Malasia.
3- Vista noturna do Distrito 10 de Saigon
Vista noturna do Distrito 10 de Saigon, onde a Betina morou.
12BA bandeira do Vietnã

Como foi a escolha do local?

Bom, eu fazia parte de uma organização voluntária, a AIESEC, que oferece intercâmbios para desenvolvimento de lideranças. Eles têm um banco de vagas em todo o mundo, aí depois de uma aplicação e entrevista nós, membros da organização, estamos aptos a nos candidatarmos a essas vagas (corporativas, ou voluntárias). Uma das coisas legais da organização é justamente essa diversidade dos países. Vi uma vaga no Vietnã e me apliquei, justamente por não saber o que eu iria encontrar. Fiz a entrevista e me dei muito bem com a entrevistadora. Para mim foi um sinal de que eu poderia gostar de lá, como de fato, aconteceu. E a entrevistadora virou minha melhor amiga vietnamita.

8B-Vinh Cuu, Dong Nai - Trabalho voluntario. Vinh Cuu, Dong Nai – Trabalho voluntario

Quais foram as maiores dificuldades de morar em um país com uma cultura tão diferente?

As maiores dificuldades são sempre no início, eu acredito. Enquanto a gente não entende a sistemática do país. Lembro que no começo eu tinha medo de sair na rua, achava que ia ser atropelada por motos, me perder (todas as placas são em vietnamita), achava que as pessoas iam querer me roubar por ser estrangeira. Nada a ver. Quanto antes a gente enfrenta, mais rápido a gente se adapta. No final eu aprendi um pouco da língua, andava de moto, e me sentia muito mais segura do que eu me sinto no Brasil.

5- Monkey Island - pose comum de um moto-taxi-boy

Betina posando igual aos moto-taxi-boys em Monkey Island

Qual a vantagem que tu vê em morar em um local tão exótico ao invés dos tradicionais como EUA, Austrália ou alguns países da Europa? Qual seria a principal diferença?

Nossa. Essa pergunta é difícil porque eu vejo inúmeras vantagens. Quanto maior a diferença, mais a gente confronta nossas verdades, mais a gente aprende. Sem contar o número incrível de surpresas que se tem no caminho. Falando especificamente dos países orientais, eles diferem muito dos ocidentais em termos de filosofia de vida, medicina, comida, relações familiares…É impossível não aprender nada com culturas milenares com que temos tão pouco contato. E sinceramente, acho que a melhor viagem é aquela que nos desafia, que mostra o quanto a gente ainda tem a descobrir. Eu me sentia como uma criança frente a um mundo novo… Era fascinante.

8A- Saigon comendo língua de pato

Olha a Beti comendo língua de pato em Saigon!

4A-Restaurante em que se escolhe o caranguejo vivo  Restaurante em que se escolhe o caranguejo vivo

Você sentiu algum tipo de preconceito por tu ser uma mulher sozinha nesse local?

Na verdade não! Bem pelo contrário. O Sudeste asiático é o paraíso das solo-travelers mulheres. Encontrei muitas outras mulheres que viajavam sozinhas por lá, americanas, polonesas, inglesas, eslovacas. Acho que pela cultura local, muito influenciada pelo Budismo, Taoísmo e seus princípios (não ação, a simplicidade, moderação dos desejos), esse acaba sendo um destino mais seguro que a maioria, para mulheres. Eu não sabia bem disso antes de ir, tive uma grata surpresa.

A Betina com uma índia Hammong, sua guia na cidade de Sapa

Como os vietnamitas tratam as mulheres em geral?

As mulheres têm uma grande importância na cultura local. Elas foram para batalha junto aos homens durante a Guerra do Vietnam, e foram elementares na reconstrução do país depois disso. O machismo ainda existe, inclusive eu vi uma mulher apanhando na rua uma vez. Apesar disso achei o pensamento machista muito mais fraco do que na América do Sul. Eu me sentia totalmente confortável de andar de shorts na rua, ou voltar sozinha para casa à noite, sem ouvir piadinhas. Também tive um namorado vietnamita que dividia as tarefas de casa de igual para igual, e uma chefe mulher na minha área (Criação – Publicitária), pela primeira vez.

6A-Saigon - casamento de minha colega Ela até foi em um casamento no Vietnã, da colega de trabalho

O que mais te encantou e o que mais te desencantou no Vietnam?

O que mais me encantou no Vietnã foram as pessoas e a comida. A simplicidade e gentileza do povo me conquistaram para sempre. E a comida me encantou pela criatividade e pela beleza. Eles têm temperos incríveis, usam partes dos alimentos que a gente não usa (como a flor da banana, os órgãos internos da galinha e da cabra), e criam novas formas para os alimentos existentes. Eu devo ter comido arroz no mínimo de umas 10 maneiras muito diferentes. O que mais me desencantou foram os resquícios de guerra. Vi pessoas deformadas na rua pelo agente laranja, famílias destruídas, terras repletas de minas. A gente sabe pouco sobre tudo o que aconteceu naquela região durante a Guerra Fria. É de partir o coração.

7C-Long Binh: Thu Duc - Cemitério de soldados vietnamitas Long Binh: Thu Duc – Cemitério de soldados vietnamitas

10F-Cu Chi Tunnels (tuneis da guerra)

F-Cu Chi Tunnels (tuneis da guerra)

7- Prato Com Gá

Prato Com Ga

Tem alguma história especial, engraçada ou inspiradora que aconteceu nesse período que tu morou lá que tu possa nos contar?

  Bom, vou contar duas histórias rapidinhas e interessantes: – Uma aconteceu no meu ambiente de trabalho, na minha primeira semana. A gente costumava pedir comida e eu pedi frango com arroz, pois não estava tão bem do estômago. Bom, meu frango veio meio esquisito, e eu achei que de repente eu estivesse comendo o fígado da galinha… Mas em seguida eu comecei a me perguntar quantos fígados tinham as galinhas vietnamitas, já que meu prato estava repleto deles! Perguntei a minha colega, e ela se deu conta que tinha confundido meu prato com o do meu colega e eu estava na verdade comendo caracóis…Bom, nesse dia então, eu experimentei caracóis. – A outra história foi de quando eu fui fazer trabalho voluntário no interior. Me juntei a um grupo de jovens que ia em cidades pobres, entregar comidas e fazer festas comunitárias que terminavam com uma roda de crianças e adultos dançando em torno de uma fogueira. Esse grupo viajava muitas horas para lugares sem água, sem luz, dormia no chão, tudo para fazer as crianças do local mais felizes por pelo menos um final de semana. Eles eram muito inspiradores. Bom, foi em uma dessas viagens que eu dei autógrafos (!!), e tive crianças fugindo de mim pela primeira vez. Algumas fugiam e choravam, já que não entendiam como eu podia ser tão branca, e outras vinham me pedir autógrafo, já que minha brancura era similar ao que eles viam nos filmes de Hollywood. Foi bem interessante.

2- Thao e eu no Interior do Vietnam Betina e uma amiga vietnamita no interior do Vietnã

Como essa experiência influenciou na tua vida?

Uma viagem sempre influencia muito a gente, né? Eu aprendi muito, e acho que voltei uma pessoa mais pé-no-chão e corajosa, conectada com aquilo que realmente importava para mim. Passei a ser mais aventureira também, fazer mais mochilões (fiz um pelo sul do Brasil, e um pela Europa), e querer ter os meus próprios projetos, negócios. Eu vi muita pobreza e desgraças da guerra, também. Acho que eu fiquei então mais comprometida com tentar fazer o bem, e ser grata com o que tenho.

Quais são os locais do Vietnam que não dá pra perder?

Não dá para perder o centro do Vietnã, é a área mais turística. Em Hoi An, a cidade brilha à noite com lanternas e velas,e a comida é deliciosa.  A cidade de Sapa, no norte, é incrível. Montanhas cobertas de plantações de arroz contrastando com as índígenas locais de roupas coloridíssimas. Eu não deixaria de visitar Saigon também, pois é divertidíssimo. Uma cidade que não para, cheia de motos, comida de rua, pessoas pescando no meio da cidade… E em geral não dá para deixar de ver os templos (budistas, taoístas), os campos de arroz e o labirinto que eles construíram debaixo da terra, como estratégia de guerra.

10D-Templo em SaigonTemplo em Saigon

3B-Hanoi centroMuitas motos no centro de Hanoi

3C-Hanoi old quarterHanoi old quarter

10A-Halong BayTurística e linda Halong Bay

6C-India Hammong na cidade de sapaÍndia Hammong da cidade de Sapa com seu filho e suas roupas coloridas

Se você pudesse dar um conselho para uma mulher que está pensando em ir pra lá, mas está em dúvida/medo, qual seria?

Amiga, vai lá. Já tenho algumas amigas que viajaram para lá e todas adoraram. Apesar da diferença cultural e da falta de contato físico entre as pessoas, eles são muito afetivos e amigáveis, como os brasileiros. E tem Vietnã pra tudo que é gosto – festeiro, espiritual, praieiro, romântico, e aventureiro.  Mas claro que como em toda viagem é bom se preparar. Ler a respeito do destino e aprender uma que outra palavrinha local (“Xin Chao” é “oi”, “Cam’ on” significa “obrigada”) fazem toda a diferença para uma boa experiência.

1- Old Quarter - HanoiOlha ela feliz da vida em Hanoi (Old Quarter)

Beti, se quiser falar mais alguma coisa que não esteja nas perguntas, vamos adorar!

Queria deixar uma dica aqui para os leitores, recomendar fortemente que visitem a Asia. É um continente enorme, riquíssimo culturalmente e com várias opções de países baratos e oportunidades de trabalho. Fora o sudeste asiático, eu tenho uma irmã que morou na Índia por dois anos e amou. Eu nunca poderia imaginar tudo o que eu veria e sentiria até ir para o Vietnã. As imagens estão como que impressas na minha alma. Quer uma experiência transformadora? Vá para a Ásia!

9A-Luang Prabang-Laos - reserva de elefantesEm uma reserva de elefantes no Laos

4D-Barbearia em Hoi An

Barbearia em Hanoi, Vietnã

Incrível a viagem da Betina, né? Além de nos contar a história dela, todas as fotos maravilhosas desse post também foram feitas pela própria! <3

Teve uma experiência parecida com a dela ou conhece alguém que teve? Entra em contato conosco pelo blogatlgirls@gmail.com e nos conta a tua história! Vamos adorar publicar ela aqui!

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