posso escolher 2

A amplificação da opinião pública por meio das redes sociais tornou o mundo um lugar ainda mais intolerante. Veja a ironia.

O fato de uma pessoa ter uma opinião, até o que sei, não invoca a necessidade de depreciar a opinião alheia. Ou estou errada? Semana passada deparei-me com uma comunidade do Facebook chamada “Eu não mereço mulheres que bebem e fumam”. E realmente, está tudo certo em não querer determinadas características em outro alguém. O que choca são pessoas dedicarem parte de suas vidas a desonrar com termos chulos, visões unilaterais e infográficos (!!!) aqueles que escolheram diferente. Não basta não ficar/casar/se relacionar com mulheres que bebem e fumam. Aparentemente para muitos (aproximadamente 8 mil, neste caso) não é o bastante. É necessário também classificá-las como uma classe inferior de ser humano. Por que tanto ódio? “As tatuadas são as piores!” – alegam. “Gordas, nojentas!”. Por Deus! Alá! Toda e qualquer entidade divina que ainda acredite na humanidade. Manda luz pra cá que tá difícil simplesmente discordar em qualquer assunto.

Me pego pensando, o que seria do azul se todos gostassem do verde? Pintaríamos o céu? Aterraríamos o mar?

Mas ok, como bons cidadãos a gente respira fundo, trabalha a tolerância e tenta ter uma opinião inofensiva, na esperança de que os nossos representantes, escolhidos com o nosso voto (ou não), vão defender o fato de que vivemos em um país livre, e que TODOS temos direitos iguais. Mais uma decepção. A Câmara de Deputados vai lá e vergonhosamente decide que família é classificada apenas através de sua limitada percepção. Ora, o que eu digo pra minha mãe, que não está mais em uma união com o meu pai? Nós não somos mais família? E aqueles criados pela avó? De que forma eu consolo as minhas amigas e amigos, mães e pais solteiros? O que eles dizem aos seus filhos? Somos apenas “amigos” que se amam e morreriam uns pelos outros? Apenas companheiros de uma vida inteira que dividem ou não o mesmo DNA? Olhamos na cara dos felizardos que encontraram o amor nesse mundinho cruel e diremos “jogue fora e ache alguém do sexo oposto”?

O que seria de Pablo Picasso, Van Gogh, Michelangelo e tantos outros mestres, se todos gostassem apenas de Salvador Dalí? Atearíamos fogo na Basílica de São Pedro?

A parte mais perturbadora da intolerância é a incapacidade da empatia – ou seja, de nos colocarmos no lugar do outro. E se fosse contra os intolerantes, estas injustiças? E se o heterossexualismo fosse proibido? Ou não garantisse os direitos mínimos à cidadania, como casar ou doar sangue? Estaríamos posando para fotos no congresso, batendo no peito e gritando “viva a família!”? Só a família deles é legal? Tem amor? Só em lares ditos “tradicionais” encontramos apoio, segurança, civilidade? Quem são esses gritam regras para os outros serem felizes? Talvez lhes falte tempo para pensar a própria felicidade, enquanto seguem rufando tambores contra a felicidade alheia.

A esperança que me faz acordar todo dia, apesar de toda essa ignorância gritada aos sete ventos, é que intolerância alguma vence o amor ou mesmo a felicidade. Por amor e felicidade vale a pena rufar tambores, colorir bandeiras, promover diálogos, educar agressores. Esses são os sentimentos que nos definem no final da vida. Não os muros nos quais demos soco, mas as pontes que ajudamos a construir. No final de tudo vamos lembrar da família que escolhemos e amamos e com quem vivemos momentos eternizados por alegria, e não dos afetados que lutam contra o amor alheio, eternizados pela amargura.

Então sobre fazer escolhas, assumir decisões, preferências e responsabilidades, lembremos: empatia! Posso fazer as escolhas da minha vida sem desrespeitar ninguém e ter reciprocidade? Ou será que é pedir demais, num país teoricamente livre, cada um decidir o jeito de ser feliz?

Posso escolher? Obrigada. De nada!

antonianodiva.com.br

7abc6e25c0fbd2903731a9c2ae19f77e