recaida

A vida seguiu seu curso e cada um de nós o seu próprio caminho. Juntamos os pedaços da gente que restaram daquela pseudorrelação, e prometemos fazer melhor na próxima chance do amor. Criamos distância para curar o que machucou e sufocar o que restou. Você evitou meus lugares preferidos, e eu passei correndo na frente dos teus. Escrevi “Não Ligar” ao lado do teu contato no meu celular, pois não tive coragem suficiente para apagá-lo. E por não apagá-lo, senti a necessidade de um lembrete de proibição, caso me pegasse com algumas doses a mais na cabeça ou outras de carência no coração. Eu fiz de tudo pra evitar uma recaída. Mas evitar uma recaída é tão eficaz quando evitar um tropeção. Não tem como se prevenir de um tropeção, tem?

Tudo sempre acontece quando a guarda baixa. Naquele 1 minuto de distração, em que você acha que está protegida, o destino prega uma peça. Óbvio que meu cabelo estaria ridículo e eu vestiria o look mais questionável do meu armário (ou sequer teria depilado as pernas). É sempre assim e parece piada. O primeiro contato visual é sempre seguido de uma mini-parada cardíaca e um misto de pânico, ódio e euforia. A minha mente quer puxar o barco e o meu coração jogar a âncora. Você precisava estar tão lindo? Na minha cabeça eu já tinha te redesenhado com ares grotescos. Precisava me desarmar assim, com estes olhos que sorriem e são o meu fraco?

Disfarço meu coração acelerado e simulo um “olá” meramente casual como quem diz “óh, quase não te percebi aqui”, sendo que todos os cabelos da minha nuca dizem o contrário. Arrisco um abraço inofensivo, que é tudo neste mundo, menos inofensivo. Você me segura uns segundos a mais contra o teu peito e eu sei que vai dar merda. Queria dizer isso de forma mais romântica, sensível, digna de um conto de fadas que termina com pétalas de rosa caindo do céu, mas não consigo. Só penso que vai dar merda mesmo. Esse abraço precisava ser tão reconhecível e ridiculamente tão gostoso?

Os minutos/horas/vida que seguem depois deste reencontro me levam do céu ao inferno alternativamente. Você bota a mão no meu joelho como quem nunca se ausentou e eu ouço sinos tocando. Alguma hostilidade do passado tão recente ressurge no assunto e eu quero dar com os sinos na sua cabeça. Você oferece a jaqueta para tapar as minhas costas e eu me pergunto por que mesmo que te deixei escapar. O teu telefone toma um tempo demasiadamente longo da tua atenção, e eu dou graças a Deus que te mandei pra longe.  Eu lembro de tudo que sinto saudades e de tudo que eu não quero pra mim, bem ali na minha frente. Céu e inferno. A recaída é o próprio limbo.

E agora aqui estou eu, te vendo dormir na minha cama, cama esta que é tão tua quando a gente esquece de implicar com o passado, e desiste de se preocupar com o futuro. Recaída é um misto de reconhecimento e estranhamento, medo dos velhos fantasmas e esperança de novas chances. Aconchego-me no teu abraço silenciosamente, não por estar preocupada em te acordar – mas por temer que as borboletas do meu estômago despertem.

É meus amigos… não é a toa que “se apaixonar” em inglês, fall in love, é traduzido literalmente como “cair em amor”. E se cair dói, cair em cima do machucado dói pra cacete! Entretanto, a pergunta segue sendo a mesma. Tem como se prevenir de um tropeção?

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