fotoressaca

A cena se repete. O alarme tocando dentro da minha cabeça, o gosto de guarda-chuva velho na boca, a completa falta de sentido no mundo e a minha cara do avesso. “De novo não!”. De novo sim: ressaca, você e eu acordamos juntas mais uma vez.

Ok, 1 minuto para reconhecimento e vejo que pelo menos o quarto é o meu (desta vez). Como foi mesmo que eu cheguei em casa? – esse é sempre o primeiro dos mistérios. A motorista da rodada está dormindo no meu sofá – ai que alegria, fiz algo certo. Checklist básico: (x)chaves do carro; (x)carteira; (x)cartões; ( )celular? Cadê meu celular? (x)Celular, encontrado no banheiro sobre o papel higiênico, prova de que eu quis trocar uma ideia com alguém durante o último xixi da noite. Checklist do celular: (  )tela parcialmente inteira; ( )mensagem pro ex; ( )mensagem pro gato atual; (x)mensagem pro canalha que substituí o gato atual; (x)seis “matches” no Tinder de gente que ontem (e apenas ontem) eu considerei atrativa; (x)vídeos de um completo estranho lambendo o meu pé no meio do bar, enquanto grito “chupa dedão!”; (x)fotos com alguns novos melhores amigos; (x)quatro whatsapps de números que desconheço comentando a maluquice da noite passada.

Gente, esse post tá girando, ou só eu tô vendo isso?

Tudo sempre começa num inofensivo happy hour. Num minuto estou alegre, falante, interessante e sensual (todas aquelas coisas das quais a bebida convence o seu ego), tendo conversas significativas e relevantes, parafraseando Caetano Veloso. No outro estou eufórica e deselegante, falando algo que parece português e pedindo pro DJ (profissional ou o dono do iPod) “toca Wesley Safadão que eu quero dançar”, enquanto tiro os sapatos. A chave simplesmente vira. “Olá meu nome é Antônia e a minha chave vira” – “Olá Antônia!”, outros descompensados responderiam em uníssono. Que drama! Não consigo entender a minha falta de aptidão para definir o meu limite. E não é por falta de experiência, isso lhes garanto.

Eu sempre invejei as pessoas que conseguem parar na terceira taça de champanhe. Acho digno, charmoso e acima de tudo, uma atitude extremamente madura. Ouvi dizer que com o tempo, a evolução do paladar e o conhecimento do próprio corpo, a gente atinge a tal da “maturidade alcoólica”. Aquela fase em que o “beber socialmente” não envolve cantar “Como uma Deusa” na frente do ventilador do boteco. Ou vomitar dentro da manga do casaco (enquanto ainda o está vestindo) – situações puramente hipotéticas, é claro (mentira). Pois então, a tal da maturidade alcoólica nunca reinou meu copo. Eu não sei como ela funciona, onde mora, como vive e do que se alimenta – mas que não é de sopa de cevada, como eu, isso não é.

Os resultados desta minha imaturidade alcoólica são constantes crises financeiras e outras tantas de consciência. Nas finanças porque beber exige investimento, trocar vidro de celular é caro, e porque o banco cobra por cada 2ª via de cartão de crédito perdido. De consciência porque, muito embora eu seja da opinião de que “se eu não lembro, é porque não fiz”, o Facebook tá aí pra me lembrar de tudo que aconteceu na noite anterior – muitas vezes com postagens nada geniais de autoria própria. (Gente, por que ainda não incluíram bafômetro nos aplicativos de redes sociais?). Então veja, existe certo comprometimento com este estilo de vida. Como julgar?

Eu sei, talvez eu esteja ficando velha demais pra isso. O que me dou conta hoje, entretanto, é que maturidade alcoólica (ou de qualquer tipo) não é puramente uma questão de tempo, mas também de escolha. Acredito que mudar meu status quo seja tão difícil, talvez porque algumas das minhas melhores histórias nasceram justamente destes excessos. O contraponto é que algumas das piores também. Então eu vou tentando aprender a dosar minhas doses, na humilde esperança de um dia conseguir negar a 7ª saideira ou não aderir o desafio da tequila às 3h da manhã de uma quarta-feira. Eu vou aprender. Vou sim. Estudos comprovaram recentemente que mulheres inteligentes bebem mais, por isso eu tenho fé. E é melhor que eu aprenda logo ter essa maturidade alcoólica. Porque se bebida e inteligência tem alguma correlação, no nível do meu desempenho, tenho a impressão de estar beirando a genialidade. E o mundo não está pronto para isso. Não mesmo.

Post script: A gênia aqui acidentalmente mandou o vídeo do estranho lambendo o pé para o grupo de Whatsapp do escritório. Meu apelido virou “Chupa Dedão” para o resto da minha maturidade.

Falta muito pro happy hour?

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