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Querido PA!

P.A. “Pau amigo”. “Pronto atendimento”. “Piroca alerta”. “Pra agora!”. É assim que te chamam por aí.  Pra mim, você é Pura Alegria. Aquela amizade com benefícios. O sexo casual com alguém próximo, mas nem por isso, romanticamente intencionado. O melhor dos dois mundos. A ultima fronteira do desapego. A máxima da autonomia dos solteiros. O ombro amigo com orgasmos envolvidos. Querido PA, a gente vai ter que rasgar o nosso contrato de caso casual. Tudo indica que ele não vai dar certo.  São 03 os grandes motivos:

1) a sociedade, essa pudica.

A gente vai ter que acabar primeiramente porque reza a lenda que é muito feio ter interesse sexual em alguém puramente por gostar de sentir prazer. Eu preciso querer um relacionamento. Ou procriar. Do contrário devo ficar no castigo da abstinência. Ou vão me chamar de puta, ui que horror. “Mas ele só quer te comer, Antônia!”. (Ai que alegria! Às vezes eu também só quero dar.) “Mas então compra um vibrador” – eu tenho um, e acredite um par de pilhas não substitui ninguém. Ainda assim, a gente vai encerrar com esse papo de ligar um pro outro de forma tão sincera com convites calorosos e acabar exauridos de prazer na minha cama ou na sua, para não queimar o nosso filme, ok? Vou negar que você trata cada curva do meu corpo como única, além de me conhecer melhor que muito pseudo-romance bem intencionado que já tive dentro das premissas da sociedade. Óh, honrosa sociedade.

2) “vai estragar a amizade”

Nós já tentamos o romance e não deu muito certo né? Eu quis te matar, e você alegava que eu estava louca. Agora você me procura só quando realmente me quer, me escuta com atenção e toma interesse na minha vida não mais porque eu exijo, mas porque gosta, e sente saudade. Eu na paralela perdoo teus deslizes porque sei que você não é responsabilidade minha, te procuro sem medo de ser feliz e nunca faço charme quando tu fazes um convite. Nossas conversas esporádicas no whatsapp viraram longas gaitadas no telefone. A gente ficou mais sincero, mais tolerante e mais divertido do que quando tentava ser um casal. E essas qualidades são extremamente tóxicas para uma amizade. Veja isso não vai dar certo, meu amigo.

3) “alguém sempre se apaixona”

Obvio que o tempo preenchido com intimidade vai transformar nós dois. Meus amigos dizem que no começo do “contrato” é tudo lindo e todo mundo concorda com os termos. Minhas amigas dizem com o tempo os termos ficam menos claros porque somos geneticamente programadas para nos envolvermos – afinal, grudado no pau amigo (na maioria das vezes) existe um ser humano. Claro que o risco de tropeçar no amor é alto. Então a gente vai encerrar antes que o terreno fique nebuloso, e eu comece a te cobrar ou você tenha uma recaída assumida com a sua ex (de novo). Vou abrir mão de dançar contigo, ouvir tua risada, andar despretensiosa e sem maquiagem perto de você, o cara que já decorou as minhas sardas, porque vai que um de nós se apaixone. Intimidade, eu sei, essa bisca. Você nunca mais haverá de mijar de porta aberta na minha frente, ou me explicar como os homens funcionam enquanto mexe no meu cabelo, porque vai que eu escolha você pra ser o homem que faça com que o amor funcione. Já pensou, se apaixonar por um amigo, que horror!?

Então era isso. Essa foi nossa última vez. Vou ser madura e racional, dizer “não” pra essa fonte de carinho e atenção deliciosa, fardada a evoluir de qualquer forma, seja para uma amizade duradoura, um romance lindo ou mesmo o fim. Os motivos são fortes demais pra gente se envolver nessa vida mais gostosa, saudável e interessante. Vou seguir sem você aquecendo minhas madrugadas, ou me fazendo rir com suas piadas ridículas, antes que tudo fique mais complicado. Vou sim. Estou decidida. Estou encerrando hoje esse nosso contrato.

 – “E aí, gatinha, tá fazendo o que? Bóra andar de skate? Depois eu faço um rango pra gente. E o café da manhã se tu me pedires com jeitinho…”

– “Fechado! Tô indo praí.”

Ok. Talvez na semana que vem eu rasgue o nosso contrato. Talvez.

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