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Quando eu tinha uns 5 anos, eu era uma bonequinha que chamava atenção. Lembro-me das pessoas dando parabéns para a minha mãe por ela ter feito uma menina linda. A minha mãe então sorria orgulhosa. Com o passar do tempo, quando os adultos me perguntavam “você sabia que você é linda?!” eu respondia, “Sim! Todo mundo me diz isso.” O sorriso da minha mãe então passava de orgulho a amarelo. “Você não pode dizer pros outros que você sabe que é linda. É feio ser exibida.” ela me explicouRecordo que na época eu fiquei muito confusa. Os outros podiam me achar bonita. Eu não. Estranho né?

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Fato é que cresci aprendendo a me validar através dos outros. Aliás, a sociedade caminhou meio torta naquilo que diz respeito à autoafirmação. O mundo é dos bonitos, mas não dos convencidos, viu?!  A parcela feminina desta sociedade então, carregou a cruz de ser bonita e modesta até os tempos atuais – atualidade essa nossa em que se diz que o padrão de beleza tornou-se mais democrático. Será mesmo?

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Lembro que no ano passado a Massafera ganhou enorme atenção da mídia porque estava com a “depilação vencida”. Recordo-me também que a Meghan Trainor ganhou as paradas do mundo todo por liberar as “corpo de violão” de suas amarras – afinal “is all about that bass, that bass”.  O famoso calendário da Pirelli virou polêmica neste ano porque colocou em seu cast uma “plus size”. A Victoria Secrets lançou uma campanha intitulada “O Corpo Perfeito” estrelada por modelos que pesam menos de 45kg. O BuzzFeed, em retaliação, criou uma campanha igual a das angels com mulheres reais – tipo você e eu.  Criaram a Barbie “normal”. A marca New Look investiu em manequins “tamanho zero”, e obviamente causou comoção. Então veja, um mundo de complexos padrões de beleza ora a serem atendidos, ora a serem questionados. E você acha que isso não afeta você. Mas afeta. E muito.

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Não faz muito tempo que tive uma pequena reviravolta dentro de mim. Era a primeira vez que recebia em casa um gatinho que já ficava há um tempinho, alguém que eu gostava e que tinha a habilidade de fazer minhas pernas tremerem. Preparei o filme, o jantar, as luzes, e deixei meu quarto impecável, torcendo que tudo terminasse lá, dada a evolução da nossa intimidade. Mas não. Nada aconteceu. Beijos quentes, mas sem evolução. Amassos gostosos, e só. Parava aí. Minhas roupas intactas, e nenhum movimento malicioso por parte dele de jogá-las ao chão. Eu quis morrer.

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Tive certeza que o problema era comigo. Liguei “prazamigas”, e fiz como toda mulher faz. Psicopatiei no assunto até me desgastar.  Investi num WHEY PROTEIN, troquei o treino da academia, li sobre colágeno, fugi do hidrogel da Urach, pesquisei sobre o remédio para linhas de expressão a base de veneno de cobra da Polishop, enfim – tudo que estava ao meu alcance para eliminar as minhas “falhas” (e fomentar a minha neurose). Mais alguns encontros e nada. Meu maldito sutiã sempre no mesmo lugar. Merda! Eu estava me sentindo péssima.

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No próximo encontro estava disposta a largar de mão. Vesti meu shortinho surrado e minha blusinha preferida. Nada apertando as curvas do meu corpo pra dentro. Usei as argolas velhas que mais gosto, base e um pouquinho de rímel. Bebi cerveja, e eu não me preocupei com a barriga estufada. Suei todo o meu cabelo – que obviamente encrespou, esse danado – com o gato me rodopiando pelo bar ao som de um samba-rock. Agora era um encontro comigo, versão eu mesma. Horas mais tarde meu shortinho estava no chão. E eu suava por outro motivo. Luz apagada, é claro, também não vamos exagerar.

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Acordo pela manhã com o alarme do iPhone intitulado “celulite” me avisando que é hora da academia.  Olho para o lado, e lá estava ele. Curvas perfeitas despidas. Todo despojado e à vontade, como se a cama fosse dele. Noto que também estou pelada, e visto o robe rapidamente. Saio da cama de fininho planejando uma ida ao banheiro para arrumar a minha cara que estava do avesso. Sou pega no pulo:

– “Antônia, você não vai voltar pra cama?!” diz ele em forma de sussurro. “Ahhh, claro, sim, claro” – respondo envergonhada.

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Deito-me ao lado dele. De bruços, pra esconder minha barriga de cerveja  (por que diabos eu tomei cerveja!!?). Ele pula em cima de mim, puxa a fita de cetim que amarra o robe em que eu me escondia, descobrindo o meu corpo. Tudo na malquista claridade da manhã. Encolho-me toda. Ele então começa devagarinho uma sessão interminável de beijinhos no meu corpo. Começa pela nuca, desliza pelas linhas dos meus ombros, lado a lado. Desce pelo meio das minhas costas. Mordisca a minha cintura. Não resisto. Arrepio-me e relaxo. E assim ele vai descendo, centímetro a centímetro… nádegas, panturrilhas, tornozelos, dedos dos pés.

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Quando ele começa a fazer o caminho inverso, me pego pensando: por que mesmo eu deixo uma pessoa cuidar tão bem das curvas do meu corpo, quando eu não as valorizo? E pensar que eu ia dispensar aquele carinho todo por causa da minha “celulite”.   Enfureço comigo mesma.  A questão ali não era ser exibida ou não. Atender aos padrões ou não. A questão ali era gostar mim, ora bolas! E tudo bem, que às vezes a gente precisa levar uma encarada pra ver que mandou bem no look. Tá certo que vez que outra a gente vai pegar emprestada a admiração do outro. Talvez seja através dos lábios certos que a gente entenda que todas as curvas estão onde deveriam estar. Ainda assim eu precisava me convencer! Decidi que era hora de largar o “exibida”; o “insegura”, e escolher o “feliz comigo mesma”. Sem robe, sem coberta, sem desculpas.

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Naquele segundo sou retirada da minha autoanálise com arrepios produzidos por beijos no meu pescoço.  “Sabia que você é linda?”, ele pergunta na minha orelha.

– “Sabia.” Viro-me e beijo a boca que beijava as curvas do meu corpo.

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